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Campeonatos de esportes eletrônicos levam multidões para estádios e movimentam turismo

set 19, 2016

A previsão, este ano,  é de que o mercado de eSports movimente US$ 463 milhões

Alexandro Mota
alexandro.mota@redebahia.com.br

Pode até parecer coisa de outro mundo ou, no mínimo, de um universo paralelo: centenas de pessoas num ginásio imersas numa outra realidade. Mas o certo é que os esportes eletrônicos movem milhares de pessoas ao redor do planeta e, de quebra, movimentam milhões de dólares de forma cada vez mais impressionante.

De acordo com um estudo realizado nos Estados Unidos pela empresa Newzoo, especializada em tendência do setor, esse nicho de mercado deve render só este ano cerca de US$ 463 milhões – 43% a mais em relação ao ano passado. Um novo público com potencial de impulsionar cada vez mais a indústria do turismo. Até 2019, a projeção é que esses eventos movimentem US$ 1,1 bilhão.

Representante da turma geek (fãs de tecnologia e jogos eletrônicos), Moacyr Júnior é um desses viajantes. Por lazer e também a trabalho, já percorreu nos últimos dois anos 20 países, como Estados Unidos, China, Índia, Malásia, Itália, Alemanha, Áustria, México.
Moacyr é diretor de Parcerias da ESL (Eletronic Sports League) Brasil, empresa líder de esportes eletrônicos no mundo, que vai pagar, em outubro no estádio do Ibirapuera, em São Paulo, US$ 750 mil em prêmios na ESL Pro League Season 4. A competição é uma das mais importantes ligas do cenário mundial do jogo.

É por causa de pessoas como ele que o setor turístico tem começado a abrir os olhos para competições e feiras desse setor, conhecido como eSports. No entanto, ainda precisa vencer algumas fases desse jogo. Para Moacyr, o trade subestima o potencial dos games por conta de um preconceito: “acham que esporte eletrônico é coisa de criança”.

Os números mostram que esse negócio não é brincadeira. No Ibirapuera, foram oferecidos 30 mil ingressos para três dias de competições. Duas etapas se esgotaram no primeiro dia de vendas liberadas.

Como acontece em outros setores, o evento acaba sendo um atrativo para que os visitantes conheçam as cidades que recebem campeonatos e feiras, consumam e movimentem a cena local. “A gente já percebeu que assim que as pessoas compram o ingresso, temos um chat para tirar dúvidas, e elas logo perguntam qual é a cadeia de hotel que temos parceria, as empresas de ônibus, de aviação.

jogosturismo

Final do Campeonato Brasileiro de LOL (CBLoL), no Ibirapuera, em São Paulo

Essa procura vem de vários estados, inclusive nos surpreendeu o público do Nordeste”, detalha Moacyr, chamando atenção para como as empresas de turismo podem se aproveitar da atração feita por esses eventos.

Mercado milionário
“O ano de 2016 será crucial para o eSports. A agitação inicial vai se acalmar e o caminho a seguir será mais claro em vários fatores importantes, como regulamentos, direitos de conteúdo e o engajamento dos meios de comunicação tradicionais”, escreveu no relatório sobre o setor, Peter Warman, CEO da Newzoo.

O relatório também aponta o crescimento do número de espectadores: mais da metade deles, no entanto, se concentra no continente asiático e nos Estados Unidos.

Moacyr conta que não apenas pessoas como ele, que trabalham no setor, investem em viagens. Quem quer fisgar esse público, precisa marcar presença na internet. “É um público muito fiel e se comunica basicamente pelas redes digitais, se informa pelo Facebook, monta caravanas”, conta Moacyr.

O designer gráfico baiano Jan Martinez, 26, é um exemplo de como o público é engajado na cultura esportiva eletrônica. Ele participou da organização de times e eventos em Salvado e sempre que pode viaja para feiras e competições.

“Eu já fui em alguns eventos fora de Salvador. Em São Paulo, fui para a Brasil Game Show, por exemplo. A gente vai, assiste e também sempre aproveita um pouco da cidade, costumo organizar com amigos mais próximos e vamos juntos”, conta o designer, que, em média, gasta R$ 1.500 nessas viagens.

O empresário Ricardo Silva, da 42 Comunicação e Cultura, que realiza o maior evento de jogos do Norte-Nordeste em Salvador, o Gamepolitan, viaja com frequência também para feiras. Envolvido na cultura geek, ele relativiza que esse público não gastaria tanto quanto o público de turismo de eventos de outro setor, mas acredita no crescimento do mercado.

“É um público jovem que está entrando no mercado de trabalho, saindo da faculdade”, afirma. No ano passado, só o Gamepolitan, conseguiu fechar 20 leitos de um único hotel. Ricardo acredita que o engajamento de outros setores, como de informática e telefonia, pode também se estender para o setor turístico.

Incentivo
O governo e o trade ainda têm apostado em estratégias tradicionais. A ESL, representada no Brasil por Moacyr, realiza eventos em 12 países. Ele cobra que o crescimento do setor passa por incentivos governamentais.

“Falta uma visão governamental. Aqui os jogos são muito caros, lá fora a gente tem os esportes eletrônicos como esporte oficial de países como a Malásia e a Rússia. Você tem nos Estados Unidos bolsas para os competidores. Falta visão ainda aqui para crescer”, analisa Moacyr.

Italo Mendes, diretor de administração e porta-voz do Ministério de Turismo, concorda que o setor é subestimado, mas anuncia que o governo federal tem começado a investir no chamado Turismo Inteligente ou Turismo 3.0, que inclui pensar em ações que atraiam o jovem turista.

“Ainda tem sido esquecido e é preciso que o mercado fique atento às novas oportunidades não só do eSports, mas também dos games, quadrinhos, cosplayers (elementos da cultura nerd em geral)”.

Italo acredita que a popularização do Pokémon Go, inclusive, pode ser a porta de entrada para a sensibilização desses demais públicos.

“Você pode colocar Pokémon no Elevador Lacerda ou incentivar (que caçadores do jogo) que busquem na praia de Itapuã e você vai gerar mais informações sobre aquele destino e com chance de fidelizar o turista”, exemplificou.

O Turismo no Mundo Digital é o tema Fórum Agenda Bahia desta terça-feira. O evento é realizado pelo CORREIO e pela rádio CBN, em parceria com a Braskem, Coelba e Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).

 Faltam espaços para torneios em Salvador
Sediado em Salvador, o Gamepolitan é o maior evento de games do Norte/Nordeste e chega a pagar R$ 20 mil em premiação. No ano passado, ele atingiu público de dez mil pessoas, mas este ano encolheu 40%. A falta de um espaço adequado para realização do evento, que acontecia no Centro de Convenções da Bahia e precisou migrar para o Parque de Exposições, seria o principal motivo para isso, segundo os organizadores.

Tácio: cursos e exercício de fonoaudiologia até se tornar narrador do maior torneio de eSports do Brasil

Tácio: cursos e exercício de fonoaudiologia até se tornar narrador do maior torneio de eSports do Brasil

“Temos potencial na cidade e um público apaixonado. Faltam espaços com uma estrutura mínima necessária para receber eventos de tecnologia. Salvador, no máximo, está acostumada apenas com eventos musicais, mas não tem locais como uma rede de TI estruturada, 2.500 m² e uma internet de qualidade com banda (de conexão) suficiente para transmissão de um evento ao vivo”, critica Ricardo Silva, um dos organizadores do evento.

Maio de 2017 é a previsão do próximo Gamepolitan, até lá Ricardo espera contar novamente com o Centro de Convenções, que segundo estima a Secretaria de Turismo da Bahia deve ser reaberto até próximo dia 15. Moacyr Júnior da ESL Brasil diz que Salvador, através da Câmara de Vereadores, tem buscado atrair eventos do gênero.

“Houve um evento na Câmara com tanta gente que os políticos se assustaram. É exemplo de que não falta público aqui”, lembra o designer baiano Jan Martinez, entusiasta da cultura nerd.

Mercado cresce e exige formação
Antes de se popularizar o termo eSports, Tácio Schaeppi, hoje com 29 anos, já era fissurado por videogame, jogos de RPG, desenhos animados. Se formou em Direito pela Faculdade Ruy Barbosa, em Salvador, e trabalhou por oito anos em um escritório de advocacia e via a cultura nerd apenas como um hobby.

“Até o dia que realizamos um evento em Salvador e não tínhamos dinheiro para contratar um narrador. Como advogado, tinha desenvoltura na fala, e resolvi quebrar o galho. Quando terminou o evento, eu estava completamente apaixonado e sabia que era aquilo que queria para minha vida”, lembra.

Ele então correu para internet, fez cursos, passou a ser acompanhado por um fonoaudiólogo e começou a ganhar destaque. Hoje é um dos cinco narradores que trabalham para a empresa Riot no Brasil, e narra o principal campeonato de eSports do país, o Campeonato Brasileiro de LoL (CBLoL).

“Fazemos hoje uma das maiores transmissões do mundo e estou muito feliz, tive que mudar para São Paulo. Aqui que ficam os jogadores (inclusive dois baianos) e toda a estrutura”, explica ele.

Tácio está inserido em um mercado que tem crescido e se profissionalizado. No final do mês passado, foi criada a Associação Brasileira de Clubes de eSports (ABCDE).

Ela é composta por oito das maiores organizações dos esportes eletrônicos no Brasil – Big Gods, CNB eSports, INTZ eSports, KaBuM! eSports, Keyd Stars, Operation Kino, paiN Gaming e Red Canids.

O objetivo da associação é profissionalizar a classe e fomentar os jogos no país, sem abandonar o espírito competitivo entre essas equipes, de acordo com o seu estatuto.


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