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Mensagem correta é capaz de promover o engajamento que move a engrenagem interna de todos para o trabalho e para a vida
Os recursos humanos e o talento das pessoas podem ser um diferencial em momentos de crise. Para explorar bem isso, é preciso se comunicar, engajar a equipe e investir em educação, segundo especialistas que participaram do Agenda Bahia
Lucy Brandão Barreto
lucy.barreto@redebahia.com.br
O mundo amanheceu perplexo ontem com a notícia da eleição do empresário Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos. No auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), o público também parecia ainda não acreditar. “Ele soube usar o propósito para se comunicar com a maioria dos americanos e isso foi decisivo”, justificou o primeiro palestrante do Fórum Agenda Bahia, na manhã de ontem, Marcos Caetano.

Marcos Caetano citou o discurso de Trump como exemplo para as empresas brasileiras (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)
Sócio da empresa de comunicação estratégica Brunswick Group e ex-diretor de Pessoas e Comunicação do Itaú Unibanco, ele explicou que não poderia não falar sobre o assunto que o mundo inteiro comentava e que isso tinha muito a ver com o tema de sua palestra “Como o propósito pode transformar as empresas”.
A ERA DO POR QUE
O propósito é, segundo ele, o elemento capaz de mover a atual geração. “Na época em que eu era jovem, as empresas falavam sobre o ‘que’ faziam. O tempo passou e elas passaram a falar ‘como’ faziam. Agora estamos na fase do ‘por que’. É uma juventude preocupada com os propósitos da empresa”.
A geração atual não está preocupada apenas com os lucros, segundo Caetano. “Querem ganhar dinheiro, claro, mas o mais importante é a pergunta: por que me levanto todos os dias e vou trabalhar?”. Depois que as organizações começaram a perceber isso, passaram a se comunicar melhor com seus públicos, garante o especialista. “O propósito engaja as pessoas e funcionários engajados produzem muito mais”, completa.
DE VOLTA AOS EUA
Mais uma vez citando as eleições americanas como exemplo, Caetano explicou o que Donald Trump fez. “Não estou aqui julgando se isso é bom, mas ele teve uma mensagem eficiente e atingiu mais de 76% dos americanos com seu discurso de mudança, de alguém que não é político e veio para mudar o status existente há anos, foi uma mensagem engajadora”.
Para Marcos, o perfil do povo americano diz muito sobre esse engajamento. “O que simboliza o americano é o movimento, eles fazem tudo sem perder tempo e até inventaram o Drive Thru. Para um americano, ter duas horas de almoço é coisa de preguiçoso”, disse, arrancando risos da plateia.
Ainda defendendo a sua “tese”, ele explicou que o lema de Trump confirma isso: “Make America Great Again” (Fazer a América grande de novo), enquanto a frase de campanha de Hillary Clinton foi “Stronger Together” (Somos mais fortes juntos). “É um bom lema, mas não indica ação alguma”, avalia Marcos Caetano.
SOBRE EMPRESAS
Para Caetano, o exemplo do que ocorreu na votação dos EUA é um ponto de reflexão para as empresas. É necessário que as companhias encontrem seu propósito, algo que mobilize as pessoas, e comuniquem isso da forma correta.
Ele conta que, na época que trabalhava no banco, era um desafio fazer esta comunicação. “Banco é um negócio complicado. Ele é demonizado pela sociedade porque obtém 30% de lucro. Há empresas que têm uma margem muito maior e, por ser socialmente responsáveis, ninguém liga para isso”.
Foi então que a empresa passou a comunicar seus propósitos e isso mudou o olhar sobre o banco. “A gente passou a dizer: ‘Você sabia que de cada 10 projetos de infraestrutura do país, a gente financia oito? A gente está transformando o país, sem um banco não dá para fazer esses projetos’. Isso são os porquês, são os propósitos”, concluiu.
O Fórum Agenda Bahia, que encerrou ontem a edição 2016, é uma realização do CORREIO e da rádio CBN, em parceria com Braskem, Coelba, Fieb e da prefeitura de Salvador.
Capital humano é gargalo para desenvolvimento
Um dos principais gargalos para o desenvolvimento do Brasil e da Bahia é a formação do capital humano. Por isso, A Diferença que o Talento Faz foi o tema escolhido para conduzir o último seminário do sétimo Fórum Agenda Bahia, realizado no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), no bairro do Stiep.
“Pela primeira vez, o Agenda Bahia faz dois seminários em dois dias seguidos. Isso acontece porque são duas pautas correlatas: produtividade e a formação do capital humano brasileiro e baiano”, afirmou o presidente da Rede Bahia, Antonio Carlos Júnior, durante a abertura do evento, na manhã de ontem, referindo-se também ao seminário promovido anteontem.
“(As palestras) vão mostrar a diferença que o talento faz, com a educação formal. O Fórum Agenda Bahia mudou tanto no conteúdo quanto no formato. Esperamos estar contribuindo com o desenvolvimento sustentável da Bahia com esse debate”, explica Antonio Carlos Júnior.
Já o presidente da Fieb, Ricardo Alban, destacou que, no cenário atual, dominado por mudanças, dúvidas e incertezas, é preciso assumir um senso de responsabilidade pelo futuro. “Por isso o Fórum Agenda Bahia é tão importante para fazer com que as pessoas tenham capacidade de construir caminhos e soluções. Precisamos de algo a mais para o nosso país”.
Só que, na avaliação dele, não há como chegar a mudanças construtivas sem a participação das pessoas. “O talento não pode ser desperdiçado. Já temos um déficit econômico e social muito grande para nos dar ao luxo de desperdiçarmos talento. Daí a nossa responsabilidade de dar condições para que oportunidades possam surgir e também ser convergentes para o desenvolvimento desses talentos”, disse Alban, ressaltando experiências como as do Senai Cimatec na Bahia.
Erros fazem parte da jornada de sucesso, diz Scarpioni
Thais Borges
thais.borges@redebahia.com.br
Quer ser um empreendedor de sucesso? Pois, se há alguma certeza é que, no percurso, você vai cometer erros. E o ideal é que erre mesmo – e logo de cara. É isso que diz a empreendedora baiana Lorrana Scarpioni, 26 anos, que está na lista dos dez brasileiros mais inovadores com menos de 35 anos, organizada pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, na sigla em inglês).
Ela tem conhecimento de causa. Em 2012, a moça criou a Bliive, que é a maior rede de intercâmbio de tempo do mundo – da qual é CEO hoje. Com mais de 120 mil usuários, a Bliive funciona assim: você pode oferecer uma experiência (uma aula de ioga por uma hora, por exemplo) e recebe um “TimeMoney”, como pagamento. Com essa moeda digital, pode trocar por experiências oferecidas pelos outros membros da comunidade.
“A mentalidade empreendedora é saber que vai errar. A gente tem que errar e errar rápido, para ser inteligente. O quanto antes você erra, antes aprende que não é o caminho. Mas isso (o erro) é natural, porque você está fazendo algo que ninguém fez antes, que não existe”, afirmou a jovem, durante sua palestra no último seminário do Fórum Agenda Bahia, que aconteceu no auditório da Federação das Indústrias do Estado (Fieb), na manhã de ontem.
À primeira vista, Lorrana pode lembrar uma dessas histórias de sucesso que acontecem com alguém que parece ter nascido de cara para a lua e que, por isso mesmo, está distante da realidade da maioria.
Só que, na verdade, Lorrana – nascida em Salvador; moradora de Esplanada, no Nordeste do estado, até os 4 anos, e criada em Curitiba (PR) – pode ser a garota da casa ao lado. A diferença é que, hoje, a moça ostenta títulos como uma das cem mulheres mais inspiradoras de 2015, em uma lista da BBC, além de ter sido nomeada Global Agenda Council em Creative Economy e Global Shaper pelo Fórum Econômico Mundial – que significa, resumidamente, que ela é uma jovem com potencial para papéis de liderança.
Além disso, não dá para deixar que o “fracasso” passe a definir quem você – ou a empresa – é. “Uma coisa que errei (na Bliive) foi nas métricas. Você tem que ter métricas para tudo. Porque, se está fazendo algo diferente, e tem métrica, consegue ver o que está acontecendo de diferente. O erro tem que ser parente da construção. Nenhum produto nunca começou do jeito que está (hoje)”, afirmou.
Também não existe caminho que leva direto ao sucesso – como uma linha reta. “A jornada para o sucesso está mais para um emaranhado, onde você vai e volta, mas está caminhando para ele”. E não vale desperdiçar nenhum conhecimento: a ideia para a Bliive veio de vídeos do TEDTalks, que são depoimentos de ideias ao redor do mundo, compartilhados na internet.
Arte usada como instrumento de transformação
Lucy Brandão Barreto e Alexandro Mota
Ao longo do dia de ontem, o Fórum Agenda Bahia debateu “A diferença que o talento faz”. Quando Margareth Menezes dividiu o palco, no final da programação, com o quinteto de metais Bahia Brass (que integra o Neojiba), o tema do evento fez todo o sentido. Ela cantou, de forma única, Milagres do Povo sob o olhar atento do maestro Ricardo Castro, fundador dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba).
Momentos antes, os dois dividiram com o público a forma como apostam em talentos nas instituições que estão à frente.
Margareth, que há 12 anos comanda a ONG Fábrica Cultural, contou a iniciativa do Mercado Iaô, que nos últimos três verões agita a cena cultural e empreendedora da região itapagipana. “Investir no ser humano é a maior sabedoria que uma nação pode ter, especialmente os jovens, que são elementos contundentes de transformação”, afirmou. O maestro relatou como regressou ao Brasil, depois de uma destacada carreira internacional, para apostar em jovens, 80% deles carentes.
Pela manhã, outra experiência mostrou como a arte pode ser transformadora. “A gente tem talento e pode tanto quanto qualquer outro. É só lutar, ter foco e fé”, disse o cantor lírico Sandro Machado, que faz mestrado na Alemanha e conversou com o público direto de lá, via internet, pelo Skype. Em um bate-papo com a comentarista Flávia Oliveira (da Globo News e Jornal O Globo), o tenor baiano contou como largou tudo aqui para estudar música na Europa.
“Fazia Administração e Finanças e odiava o curso”, disse. Fez vestibular para Música na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e não passou. “Isso serviu para me dar mais força, foquei no meu objetivo e disse: ‘Vou mostrar para todo mundo que eu posso ser o melhor’”.
Fez um novo vestibular e cursou Música na Ufba. Depois, fez seleção para um coro na Alemanha e passou. “Era o único tenor negro entre eles. Vim com um sonho de cantar nesse coro e depois voltar. Voltei para a Bahia pensando em fazer um mestrado na Alemanha”. De volta à Europa, fez testes e foi aprovado entre mais de 120 concorrentes.
Mas ele confessa que não foi fácil. Teve que trabalhar bem mais do que a maioria dos estudantes europeus, que já têm em sua formação básica muito do ensino voltado para a música e as artes. “Cheguei à Alemanha em 2015 com 28 anos, quase velho para a profissão”.
Atualmente, recebe uma bolsa que garante o pagamento do aluguel e do seguro saúde. Para custear outras despesas, trabalha em um bar. “Faria tudo de novo. Quero ter um nome como cantor de ópera, voltar à Bahia e devolver algo ao meu povo”.
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Diferencial em tempos de crise
08 de novembro
A diferença que o talento faz
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