A vida do comandante da Cavalo Marinho I um ano após a tragédia

Fernanda Lima* e Bruno Wendel

Ao CORREIO, ele conta que adquiriu hipertensão, precisa de remédio para dormir, sofreu um infarto e vive atormentado pelas lembranças

Era ainda de manhã cedo quando Osvaldo saiu da casa onde mora, no Jaburu, bairro de Mar Grande, Ilha de Itaparica, para a primeira travessia do dia 3 de agosto. No caminho, avistou um outro morador da ilha, disposto a insultá-lo, e o coração quis sair do peito. Temia ser chamado, novamente, de assassino. A pressão arterial não suportou a possibilidade: teve um pequeno infarto. Um ano depois da tragédia no mar, Osvaldo Barreto, comandante da lancha Cavalo Marinho I, ainda sente doer as feridas. Hoje, enquanto a Bahia relembra as vítimas, reclama injustiça e chora as mortes, Osvaldo precisou partir. Ainda não consegue enfrentar o passado e buscou refúgio longe do local onde viveu por toda a vida.

No escritório do advogado, no bairro de Nazaré, em Salvador, o comandante aceita conversar com o CORREIO a poucos dias da tragédia completar um ano. Tem uma voz baixa, os olhos marejam algumas vezes em quase uma hora de entrevista. A timidez em tudo contrasta com a aparência forte. Ao falar da proximidade do dia 24 de agosto, revela uma de suas certezas:

“Eu vou me ausentar até passar essa data, porque essa data é muito forte. Prefiro passar fora e se, Deus quiser, vou passar”.
Osvaldo Barreto comandava a Cavalo Marinho no dia do naufrágio (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

É por receio das próprias lembranças que prefere um breve afastamento. Elas surgem principalmente à noite, quando ouve os gritos de desespero ouvidos um ano atrás. É como se estivesse ao lado dos conhecidos desesperados por socorro no mar. Precisa tomar quatro remédios por dia (três para pressão e um, tarja-preta, para dormir) desde então. Hoje, considera-se uma pessoa doente: hipertenso e sonâmbulo. E tudo piorou quando o tal morador de Mar Grande começou, segundo ele, a perseguição.

No dia do pequeno infarto, o acusador nem começou as ofensas e Osvaldo já sentia um grande mal-estar. Descobriu somente depois, ao chegar na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), que a pressão havia subido para 24 por 14 – o normal é de 12 por 8. O homem parece ser um dos poucos, em Mar Grande, a apontar o dedo de inquisição para Osvaldo. Na Ilhota e no Jaburu, regiões de Mar Grande onde passa a maior parte do tempo, parece bastante querido. Sobre Vado, como é conhecido nos locais, os moradores falam da simpatia e tranquilidade. “Não tem culpa de nada não, minha senhora. É uma vítima que nem a gente foi também”, afirmou um morador, sob anonimato.

O comandante decidiu contratar o advogado criminalista Leite Matos para tentar medidas legais contra o desconhecido. É a primeira vez, depois da tragédia, com algum representante legal. Algumas versões diferentes das declarações do ano passado aparecem: diz, agora, não ter comunicado à CL Transporte Marítimo sobre nenhuma condição imprópria na lancha, já que “não trabalhava diretamente com essa embarcação”; e nega ter pedido à esposa, Silvana, para não embarcar na Cavalo Marinho I, como afirmou o delegado da 24ª Delegacia (Vera Cruz), Ricardo Amorim, em abril do ano passado, ao CORREIO.

O advogado precisará tratar da principal questão: Osvaldo é um dos três indiciados pela Polícia Civil como culpados pela tragédia. Os outros dois são o engenheiro responsável pela embarcação, Henrique José Caribé Ribeiro, e o proprietário da lancha, Lívio Garcia Galvão Filho. Todos acusados por homicídios culposo, quando não há intenção de matar. A defesa já parece ter afinado a linha de atuação. O próprio advogado Leite Matos revela:

“No meu entendimento, com tudo que eu aprendi até hoje como estudante e advogado, é que o que aconteceu é um caso de força maior. Quando o comandante saiu da ponte de Mar Grande, o tempo estava bom, apenas chuviscava. Não havia nenhuma recomendação da Capitania dos Portos para suspender a embarcação”.

Mas o comandante nega qualquer sentimento de culpa. Acredita, sim, em algumas mudanças necessárias no sistema de embarcações: uma cabine de fiscalização entre Mar Grande e Salvador para repassar informações do tempo, equipamentos mais modernos dentro das lanchas e catalogação dos nomes dos passageiros. Não se culpa. “Eu sei que sou inocente. Vai provar pra eles que sou inocente. [...] Eu acho que eles querem o mais fraco para jogar a culpa”.

A certeza na inocência não significou estabilidade emocional. Três meses depois da tragédia, Osvaldo voltou, de vez, a comandar embarcações. No segundo mês, em outubro, havia retornado ao serviço. Mas passou mal e precisou voltar ao descanso. “Eu tinha que voltar porque a empresa estava ali pressionando para eu voltar, se não ia cortar meu dia. Minha família precisava de sustento. É o trabalho que eu sei fazer é aquele”, conta ele, funcionário da CL há três anos.

A empresa proprietária da lancha, no entanto, nada ofereceu de suporte durante os meses de afastamento. O comandante, que recebe R$ 2.800 por mês, precisou arcar com todas as despesas com medicamentos, médicos e psicólogos. “Estou andando por conta própria”, resume Osvaldo. Com amparo somente da família e amigos próximos. Na entrevista a seguir, Osvaldo conta detalhes do pós-tragédia, do dia da viagem e da embarcação, lamenta o número de vítimas e as dificuldades de voltar ao trabalho. Diz esperar, sobretudo, que o tempo se encarregue de revelar sua inocência. Porque a lembrança ficará para sempre.

Como foi o dia do acidente?  

Foi um dia normal. Acordei no meu horário normal para trabalhar, 5h30, tomei um banho, um café, já sabia que naquele dia ia trabalhar na Cavalo Marinho I, era a lancha escalada para aquele dia, naquele horário, eu trabalhava geralmente na Nossa Senhora da Penha, que é outra lancha da empresa. Peguei minha moto e desci para a ponte. Carregou normalmente [de passageiros], perguntei ao cobrador e ao despachante quantos haviam embarcado, ele informou 136 e saí normalmente. O tempo estava nublado, mas chovia pouco, dava para fazer a viagem normalmente e quando chegou antes dos bancos de areia, a chuva intencionou mais e deu uma rajada de vento muito forte. Disseram, na época, que não tinha equipamento para ver, o vento deu 38 a 39 nós de vento... foi um negócio muito rápido. Quando dei por mim começou a chover ... os passageiros de um lado foram para outro, da direita foram para a esquerda e aí aconteceu o acidente ... aí deu o que deu, aquela tragédia.

O senhor lembra de mais detalhes de como aconteceu o acidente?  

Detalhes a gente não vai lembrar, por que foi muito rápido. O vento bateu pela direita da lancha, a gente chama de boreste no mar, e a lancha adernou, deitou, foi muito rápido. Não pude fazer mais nada, foi só rezar e pedir a Deus que o pior não acontecesse [morrer], porque também fui uma vítima, ainda pude salvar muitas vítimas. 

Como foi esse momento em que a lancha adernou, como o senhor se virou no mar e como foi essa questão dos resgates? 

Depois que virou, se eu não tivesse calma, poderia ter tido mais vítima. Graças à Deus ... Eu tenho 10 anos de mar, não são 10 dias. Com a minha experiência, comecei a conduzir o salvamento, saltar as boias salva-vidas que estavam em cima da lancha, coloquei os coletes em alguns que consegui e esperar o socorro chegar, pedindo calma e em nenhum momento me afastei da embarcação, o tempo todo, até a última pessoa sair com vida, estava ali perto.

Osvaldo Barreto comandava a Cavalo Marinho no dia do naufrágio (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

Muitas vítimas morreram no impacto ou não? Ou morreram no mar quando pediu por socorro?  

A noção que tenho é que a maioria que faleceu estava embaixo [parte inferior do barco] - costume do pessoal de Mar Grade e outras localidades, nesse horário 5h, 5h30, 6h e 6h30 é vir dormindo embaixo, no convés inferior. Muita gente faz isso.

Houve o mau tempo. Tanto a Marinha quanto a Polícia Civil disseram que o senhor teria autonomia para voltar a embarcação. Por que o senhor não voltou?  

Quando você é pego de surpresa, você volta para onde? O mar, o vento, a natureza não avisa, vem. Voltou para onde? Essa é a pergunta? Peguei a lancha virando. Vou voltar para onde? 

Quando o senhor sai com a lancha, como estava o tempo? Estava bom, estava ruim? Como foi essa mudança de tempo? 

Rapaz, foi um negócio que nem sei explicar. Saí com visão boa, estava nublando, mas dava para viajar tranquilo, quando chegou no banco de areia ... não sei, foi coisa de Deus, natureza, por que o tempo mudou, rajada de vento muito alta e tem um banco de areia que todo mundo conhece em Mar Grande ... ali é que está o problema, foi nesse lugar que a lancha adernou. 

É o local (banco de areia) que acontece outras situações perigosas com outras embarcações?  

Aconteceu, mas não de virar. Aconteceu de bater o mar forte..., mas não pegando de surpresa como foi daquela vez.

Mas com o senhor especificamente já tinha acontecido outro episódio? 

Já aconteceu de a gente passar e a lancha bater muito, mas foi numa lancha maior, a Nossa Senhora da Penha, mais larga, mas aquilo ali foi coisa de Deus. Na hora que entrou nos bancos, a rajada de vento mais forte e aí aconteceu a tragédia.

Na época surgiram muitas histórias e uma delas é que um adolescente pilotava o barco? Isso procede?  

[risos de reprovação e balança a cabeça negativamente quando dá a resposta] Fora de cogitação. Uma: minha tripulação não tem nenhum adolescente e nessas viagens com o tempo assim [ruim], quem faz [a travessia] sou eu mesmo. É como no ferry boat: tem o imediato e o comandante. O imediato faz a viagem, mas lá, quem estava manobrando fui eu. 

Nos inquéritos da Polícia Civil e da Martinha, o senhor é indiciado como um dos culpados. Para o senhor, de quem é a culpa, e por que a Marinha e Polícia Civil indiciam o senhor?  

A culpa, não sei. Meu advogado está aí, é ele quem vai dizer de quem é a culpa, porque eu sei que sou inocente. Vai provar pra eles que sou inocente ...  Eu acho que eles querem o mais fraco para jogar a culpa, contratei o advogado Leite Matos, que vai provar que sou inocente. Não podia voltar com a lancha naquele momento. Fui pego de surpresa. Como é que volta? 

Numa situação como essa, em que o tempo muda bruscamente, o que é aconselhável fazer?   

Se eu estivesse na ponte, com a lancha atracada ainda ou como já cheguei na ponte várias vezes e o tempo está ruim, ligo para o gerente ‘olha, o tempo está ruim’, não viaja. Mas infelizmente, a lancha já estava viajando. Como voltar com a lancha viajando? Quando o tempo está ruim, a Capitania dos Portos avisa a gerência das empresas, que encaminha as embarcações para o Bom Despacho que é um lugar calmo. Mas infelizmente não teve tempo de nada. Já tinham saído três lanchas antes. 

O senhor falou sobre a lancha que habitualmente comandava, que teria mais condições, por ser maior. A Cavalo Marinho I, então, era mais vulnerável às intempéries e condições do tempo? 

É uma lancha antiga, já rodou muito pior, no inverno, só que o fluxo de passageiros foi subindo, a empresa foi crescendo, foi fazendo lanchas maiores, mais largas com mais capacidade. E a Cavalo Marinho era uma lancha que fica mais parada, de stand-by, quando precisava, ela entrava. Rodavam três lanchas direto: Costa do Sol, Nossa Senhora da Penha e Camamu Teixeira, as maiores. As lanchas menores ficavam ... uma vai para lavar, bota a menor para rodar. Não é vulnerável, a lancha já rodou muito tempo. 

A embarcação estava lotada, tinha gente em pé? 

Pelo documento da lancha, liberado pela Capitania dos Portos e pela Agerba, a lancha pegava 160 passageiros, estavam 120.

De que forma era feita a manutenção da Cavalo Marinho I? O senhor disse que ela era uma embarcação reserva. Por que naquele dia ela foi usada?  

Porque a outra lancha foi para a praia lavar. E manutenção quem faz é o estaleiro. O pessoal de bordo não se mete.

Os moradores falam da embarcação Costa do Mar, apelidada de Caixão, que seria tão vulnerável quanto a Cavalo Marinho. É a que o senhor comanda ultimamente? Os passageiros reclamam?  

Por isso até fiquei doente. Pressão subia, tive princípio de infarto por estar ouvindo coisas de passageiros, besteiras, às vezes coisas sobre mim, sobre a lancha. Por que não vai na Capitania, já que não presta?

Deviam falar: ‘Nessa lancha eu não vou’. E pegar outra lancha. Mas não. Eles dizem ‘essa lancha é ruim, essa lancha é um caixão’, mas embarcam.

E o senhor acha que é ruim mesmo?

Não, ela é abafada, toda fechada, mas não sou eu quem vai dizer que ela tem que parar. Não tenho autoridade para isso.

Em algum momento sua relação de empregado com a CL foi abalada por alguma pressão? A CL o pressionava para abrigar mais passageiros do que o indicado?  

Muitas vezes estava trabalhando nessa lancha e dizia ao pessoal que essa lancha pega 180 passageiros. Naquele dia, estava com 120 passageiros

Até hoje não há registro da quantidade de pessoas que usam a travessia Salvador/ Mar Grande...

Infelizmente, não há esse controle. A gente pergunta: ‘tem quantos passageiros’ ‘tem, 100, tem 120’.

Dizem que uma jovem teria embarcado na Cavalo Marinho I e que estaria desaparecida até hoje. Ela embarcou?

Não sei se ela embarcou. Um dia depois da tragédia, passei mal. Havia notícia de um corpo sumido ainda. Depois, soube que era mentira e que essa menina já tinha falecido há um tempo.

O senhor sofreu muita pressão?  

Eu sou de Mar Grande, filho de lá, querido, todo mundo me conhece, gosta de mim. Só tem um cidadão que eu vou até entregar ao advogado. É um único cidadão só que me aborreceu, aí. E por isso que eu tive esse princípio de infarto. Minha pressão subiu muito, 24x14.

No dia 3 de agosto deste ano, você sofreu um infarto. Como foi isso? Já tinha apresentando sintomas? 

A pressão estava subindo, não dormia direito... Nesse dia, eu desci para trabalhar normalmente, e esse cidadão... Ele não me disse nada, minha pressão subia. Fui para Upa tranquilo andando. Quando cheguei lá, o médico fez meus exames e deu que eu tinha tido princípio de infarto. Vim para o [hospital]  Teresa de Lisieux, fiz mais exames, fiquei dois dias e depois retornei para casa.  

Como foi retornar ao trabalho depois dessa tragédia? 

Voltar ao trabalho foi difícil, mas eu tinha que voltar porque a empresa estava ali pressionando para eu voltar, se não ia cortar meu dia. Minha família precisava de sustento. O trabalho que eu sei fazer é aquele. Voltei depois de três meses. 

 O senhor se sentiu incapaz emocionalmente de voltar? 

Incapaz não, porque eu estudei para fazer o que faço. Geralmente, eu sinto essas coisas mais ao chegar em casa. Quando eu deito, estou em casa, penso em um conhecido meu, uma parente minha que estava lá. É mais esse tipo de coisa. 

E você recebeu algum amparo da CL? 

Amparo? Recebi assim, bem pouca coisa. Acho que poderia receber mais apoio. Mas felizmente minha família é grande. Mas suporte com medicamento, tudo eu gastei do meu bolso. Não é sobre dinheiro, nem nada. É só estar ligando para mim, perguntando como estou. Isso faltou. 

E nesse pequeno infarto, a CL te amparou de alguma forma?  

Por enquanto, estou andando com minhas próprias pernas. Eu e minha esposa viemos para Salvador, eu fui para médicos, para o cardiologista. Estou de atestado médico, mas a CL não se pronunciou ainda. Ia tirar férias agora em agosto, mas não liberou. Só a direção da empresa sabe responder porque não tirei. Eu pedi férias para agosto, era para eu estar de férias. 

E o acompanhamento psicológico? 

Estou andando por conta própria, tenho plano de saúde, já marquei duas consultas.

Como você pretende passar o dia da tragédia?

Eu vou me ausentar aí, até passar essa data, porque essa data é muito forte. Prefiro passar fora e se, Deus quiser, vou passar fora. 

O que diria às famílias das pessoas que perderam seus parentes na tragédia? 

Eu queria lamentar, porque muitas vidas se foram. E eu poderia estar nesse meio, eu e minha tripulação. Eu mesmo rezo todos os dias por quem se foi. Porque, infelizmente, não voltam mais.

Algum momento você achou que tinha alguma responsabilidade pela tragédia? 

Não, nunca passou. Nunca passou. Eu sei que fiz o que devia ser feito. Infelizmente aconteceu o que aconteceu. Mas eu fiz o que poderia ter feito. 

Qual é a imagem que você não esquece da tragédia? 

O pessoal que me conhecia, me chamando: ‘Vado, me ajude, o socorro vai chegar? Quando vem?’. E eu dizendo: ‘calma, está vindo, chegando’. Isso que me vem, as pessoas que eu conhecia me chamando. Hoje, está todo mundo em Mar Grande vivo. Passam por mim e me abraçam. 

Uma das imagens mais marcantes da tragédia foi a do bebê carregado por um agente do Samu. Você lembra?

Até lembro de um cidadão, acho que de Itaparica, dizendo: ‘largue essa criança que ela está morta’. Os médicos em Salvador pegaram para ver se conseguia ressuscitar. Até hoje estou com isso na cabeça. Quer dizer que estamos dentro da água e ele já sabe? Meu marinheiro ficou com a criança no colo, segurando a criança. 

O que mudou na sua vida? 

Antes do acidente uma pessoa sadia, com pressão normal. Hoje, uma pessoa doente. Sim, estou doente. Hipertenso: vivendo a base de remédios, dormindo a base de remédios. Minha vida deu um nó. Mas isso vai mudar. Com fé em Deus isso vai mudar. 

Quais remédios o senhor toma?  

Tomo três pela manhã e um pela noite. Tem um para tarja-preta para insônia. Tudo a base de remédio. 

As coisas vão melhorar de que maneira? O senhor pensa em se afastar da função? 

É o tempo, o mais poderoso, que vai se encarregar de tudo, para voltarmos à nossa vida normal. Não sei se daqui a dois, três meses, eu paro de tomar remédio. Mas não pensei em parar, eu gosto de fazer, sei fazer, faço com perfeição. Então, nunca pensei em parar.  

O que tem que mudar na condição das embarcações? 

Hoje, deveria tomar o nome da pessoa que vai embarcar. Deveria ter fiscalização nos dois terminais, em Salvador e Mar Grande. Um monitoramento que, quando a gente chegasse na Ponte de Mar Grande, existisse uma cabine que dissesse como está o tempo, o mar. Tem que receber informação ali mesmo. Aí a gente perguntaria: ‘como está o tempo?’ E lá teriam todos os equipamentos para saber. Também deveria melhorar os equipamentos dentro das lanchas. Hoje, só temos uma bússola para viajar. Poderia ter um radar, um aparelho mais sofisticado para viajarmos. Já falei sobre isso algumas vezes. 

O senhor pontuou ao dono da CL algumas condições impróprias. O senhor chegou a pontuar os problemas da Cavalo Marinho I? 

Eu nunca falei, porque eu não trabalhava diretamente com essa embarcação. Só de vez em quando. 

O senhor chegou perto da embarcação depois que ela adernou? Por uns dias, ela ficou num dos recifes. 

Depois do acidente, eu nunca fui perto da lancha não.

Antes de ser comandante, com o que você trabalhou?

Trabalhei como motorista, operador de máquina. Depois vim para o mar. Da terra para o mar, foi fácil, tranquilo. Trabalhei seis anos como marinheiro nas docas. Depois fiz curso e subi de gradação, aí a Vera Cruz me chamou para trabalhar. Trabalhei cinco anos na Vera Cruz e já estava há três na CL. 

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier

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