O VALE DO TÚNEL DO TEMPO
Principal destino de trekking do país deixa marcas para além dos calos
Por Mariana Rios
mariana.rios@redebahia.com.br
Eles têm peculiaridades: no falar, na rotina e na relação como tempo. Os ‘patizeiros’, moradores do principal destino de trekking do país, recebem uma legião de andarilhos e reforçam a cada geração uma escolha: enxergar o deslumbramento nos olhos dos visitantes e testemunhar a transformação nos pés daqueles que se aventuram em caminhar quase 100 quilômetros para cruzar o quintal deles. Estão acostumados com esse turista que encara uma travessia do Vale do Capão, em Palmeiras, a Andaraí, e não se surpreendem quando a escolha é entrar na cozinha quentinha de suas casas depois do dia de andança e ouvir as conversas: de onça, assombração, ou de um tempo de quando tudo era só café. Sem rede de fornecimento de energia elétrica ou telefone, quase todas as 11 casas que hospedam turistas exibem placas de captação solar, que garantem a iluminação. A geladeira é a gás.
Quem tem o perfil mais festeiro e quer conhecer a tradição forrozeira do Vale, as opções de hospedagem são a Igrejinha, Dona Raquel (e seus dois filhos: André e João) e Seu Eduardo. Já quem prefere um ambiente mais familiar e tranquilo, se sentirá acolhido em Seu Wilson, Dona Lea, Joia e Dona Linda. A diária é de R$ 110 (incluindo café, janta e dormida). “Depende muito do que a pessoa procura: se um turismo mais cultural, de vivenciar o modo de vida ‘patizeiro’, ou a aventura extrema, quando o turista só entra na casa para comer e dormir para encarar o dia seguinte. O Pati tem opções para os dois perfis”, diz Mateus Quiroga, guia credenciado na Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão. Com temperatura média de 15ºC, altitudes entre 400 e mil metros, para chegar ao Pati é necessário reservar um dia (com a mochila nas costas, a chegada é um oásis, tradução em vida da palavra ‘paz’), outro para voltar (com cicatrizes nos pés). O ideal são pelo menos cinco dias por lá. No Vale, os passeios levam ao Cachoeirão (por cima ou por baixo), à Cachoeira dos Funis, ao exuberante Morro do Castelo e sua gruta infindável – a descrição com tinta ou caracteres nunca irá traduzir o que é acordar dentro do Vale. É um experiência de tempo. Na casa de seu Wilson encontrei escalda-pés, bolo de aniversário, comida boa, farta e fresca. Na cozinha, depois de um dia de trilha – as distâncias variam de nove a 23 quilômetros, as panelas areadas, penduradas no teto, são uma constelação de lembranças.
SE SITUE
Como chegar
No Vale do Pati não entra carro, então o acesso é a pé. Há pelo menos duas opções mais comuns: pela localidade do Guiné, onde há um estacionamento antes da trilha – caminhada de 9 km até o vale. Outra possibilidade é pelo Vale do Capão – caminhada de 22 km.
Hospedagem
Os nativos mantém casas na localidade do Guiné, uma das entradas para o Vale. Basta ligar para as bases e se informar: Seu Wilson (75 3338-7136); Dona Lea (75 3338-7066); Raquel (75 3338-7058).
Guia
Mateus Quiroga, da Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão – (75 3344-1290).