Ciências Agrárias – Cérebros da Ufba https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba Conheça alguns dos maiores dos pesquisadores da Bahia Sat, 27 Jun 2020 15:15:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.3.17 Gleidson Giordano: o filho de produtor rural que se tornou o mais jovem pesquisador 1A https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/gleidsongiordano/ Thu, 25 Jun 2020 04:08:00 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=2702 Mineiro, virou professor do Departamento de Zootecnia da Ufba aos 28 anos Aos 28 anos, alguns jovens podem estar começando a vida adulta – tendo o […]

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Mineiro, virou professor do Departamento de Zootecnia da Ufba aos 28 anos

Aos 28 anos, alguns jovens podem estar começando a vida adulta – tendo o primeiro trabalho como recém-formado na graduação, por exemplo. Mas, no caso do jovem Gleidson Giordano, os 28 anos vieram com uma novidade: a aprovação para o cargo de professor na Universidade Federal da Bahia (Ufba), no que viria a ser o curso de Zootecnia.

Ali, no fim de 2008, deixou a família no interior de Minas Gerais para dar aulas à primeira turma do então curso recém-criado, que teve início no ano seguinte. O professor Gleidson tinha acabado de concluir o doutorado – fez o trajeto de quatro anos em aproximadamente dois anos e oito meses. Antes disso, terminou o mestrado em apenas um ano (metade do tempo previsto). 

Talvez por isso – e pelo fato de ter se interessado pela ciência tão cedo –, conseguiu um feito de poucos: aos 40 anos, é o mais novo, entre os pesquisadores 1A da Ufba. A classificação máxima veio em 2018, apenas sete anos depois de ter começado a receber a bolsa de produtividade. Quando a solicitou pela primeira vez, em 2011, só estava na Ufba há dois anos. 

“Foi meteórico, mas não sou vaidoso. Me considero muito simples, tanto que, em 2018, o CNPq já estava com sinais claros de falta de dinheiro. Eu tinha medo de não conseguir renovar o 1D, porque é de 1D para cima que você tem taxa de bancada”, lembra.

A taxa de bancada é o valor pago além da bolsa de produtividade para garantir a manutenção da pesquisa. É com esse recurso que muitos cientistas compram materiais como reagentes e insumos, material perecível de laboratório, material bibliográfico e até combustível para pesquisa de campo. 

Mesmo assim, o professor Gleidson garante que nunca teve o objetivo de ter a classificação 1A. O sonho, desde o início, era ser bolsista de produtividade. É aquela história: a bolsa é um reconhecimento. Da excelência, da qualidade do trabalho, do quanto aquela contribuição é importante para o meio científico. 

“Eu era pesquisador 2 e tinha renovado. Quando foi antes da metade (do período de vigência), o CNPq fez uma reclassificação porque viram que tinha muita gente nível 1 com baixa produtividade. Subi para 1D e fiquei quatro anos, até virar 1A no ano passado. Falo com todo coração: foi uma surpresa, mas uma surpresa muito agradável mesmo. Foi uma consequência natural”, explica. 

Mineiro, o professor Gleidson fez a graduação na Uesb; no mestrado e doutorado, estudou na UFV
(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

Vida rural

O professor Gleidson nasceu na cidade mineira de Várzea da Palma, mas cresceu a menos de 50 quilômetros, em Buritizeiro, também em Minas Gerais. No ano passado, a população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para Butizeiro era de pouco mais de 28 mil habitantes.

“A gente brinca que é cidade de primeira (marcha). Porque quando você passa a segunda, no carro, acabou a cidade”, conta. 

Filho de um pequeno produtor rural, logo percebeu que gostava das Ciências Agrárias. Na infância e na adolescência, estudava de segunda a sexta-feira. Aos finais de semana, seguia para a fazenda. Enquanto o pai tirava leite das vacas, descobria o que era Zootecnia. 

“Isso me despertou um interesse muito grande. Fui gostando da parte de produção animal mesmo”, diz. Na família, todos enveredaram pela área: uma das irmãs se tornou médica veterinária; a outra, engenheira de alimentos. O pai – um homem do campo, que só estudou até o terceiro ano do Ensino Fundamental – dificilmente pensaria que, no futuro, teria três filhos doutores. 

Gleidson fez o vestibular para Agronomia, na Universidade Estadual de Montes Claros e para Zootecnia nas Universidades Federais de Lavras (Ufla) e de Viçosa (UFV). Só foi aprovado em agronomia. 

Cumpriu três semestres até descobrir que, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), na cidade de Itapetinga, havia o curso de Zootecnia. E mais: que era possível fazer transferências entre as universidades estaduais, ainda que uma estivesse na Bahia, outra em Minas Gerais.

Desde cedo, foi como se entendesse como a ciência funciona. A pesquisa, para o professor Gleidson, começou quando foi bolsista de iniciação científica, no terceiro semestre. Em toda a Uesb, havia apenas 23 auxílios disponíveis para estudantes de graduação concorrerem.

“Pense aí, que briga de boi”, diz, aos risos.  

Ali, começou a acompanhar trabalhos na área de produção de forragem, silagem, feno, e dos chamados pequenos ‘ruminantes’ – que são caprinos e ovinos. Mas foi só no segundo ano de iniciação científica que começou a entender o que estava fazendo. Foi quando definiu: queria ser pesquisador. 

“Na verdade, meu maior sonho era ser pesquisador da Embrapa. Mas o concurso só abriu quando eu já era professor. Estava realmente muito determinado”, conta, referindo-se à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 

Estímulo

Na iniciação científica, ficou encantado pelas descobertas. Percebeu que, ao produzir uma forragem conservada, podia encontrar um novo alimento e testar na alimentação de caprinos e ovinos. A partir daí, conseguiria avaliar o potencial de ganho do animal e se o novo alimento poderia, ou não, substituir algum outro. 

O mestrado e o doutorado foram na UFV, ambos em tempo recorde. Durante cada um dos cursos, lembrava de um ensinamento do pai: toda vez que decidisse fazer algo, tinha que fazer a melhor forma possível. Assim, enquanto alguns colegas cursavam duas disciplinas por semestre, ele fazia três ou quatro. 

Ele se tornou pesquisador do CNPq em 2011, dois anos após entrar na Ufba
(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

“Eu sempre me dedicava 100% aos estudos. O entusiasmo conta muito. Quando você faz com prazer, com amor, a dedicação é outra”, reflete. 

Nos últimos anos, tem testado produtos agroindustriais do biodiesel para a alimentação de caprinos e ovinos. Além disso, avalia silagens com aditivos químicos e microbianos para bovinos e caprinos. E se isso pode parecer distante demais da vida de quem não é produtor rural, a realidade é outra. 

Quando se estuda a possibilidade de uso de alimentos de menor custo na dieta animal, a médio e longo prazo, caso essas iniciativas passem a ser usadas de forma massificada, o custo de produção cai. Ou seja: a carne que vai ser vendida para o consumidor virá com um preço mais acessível. 

Mas, para que seja bom para todo mundo – mais barato para quem compra e também mais rentável para quem produz -, é preciso que a pesquisa exista. E é por isso que, por ano, o professor e seu grupo de pesquisa têm uma meta de publicar, no mínimo, cinco artigos. No entanto, esse objetivo é sempre superado. Às vezes, publica o dobro. Em alguns anos, o triplo.  

Na Bahia

Ainda que tenha feito Zootecnia na Bahia, no início, ele não pensava em vir para cá. Viu o concurso para professor quando estava prestes a terminar o doutorado, mas chegou a se inscrever para uma vaga na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Só que a seleção acabou sendo no mesmo período nas duas instituições. 

“Fiquei com a opção de tentar na Ufba pelo peso da instituição, por ser mais próximo de Minas, de meus pais. Pensei em vários fatores e, quando fiz, fui classificado em primeiro lugar”, diz Gleidson. 

No início, foi difícil se adaptar. Não tinha costume de viver em grandes cidades. Chegou apreensivo, mas foi bem recebido. “Minha chegada foi em alto estilo, perdendo para o trânsito de Salvador, com retorno a cada dois quilômetros”, lembra. Hoje, casado e pai de uma filha de oito anos, não pensa em sair da cidade – a menos que seja para um fim de semana com a família na praia de Imbassaí, em Mata de São João, onde tem uma casa. 

O professor Gleidson sabe que, para a Ufba, é importante que existam pesquisadores como ele. É assim que os programas de pós-graduação são avaliados e recebem notas. Além disso, a classificação 1A facilita a captação de recursos vindos de outras instituições – não só do CNPq, mas de agências também como a Fapesb.

“Se juntar os projetos individuais que já busquei com recursos dessas instituições e de outras, tenho certeza de que a soma é coisa para mais de R$ 1 milhão e grande parte desses recursos é para compra de equipamento que é da universidade”. 

Hoje, porém, a situação é diferente. Ele tem alguns projetos com recursos que tinham sido aprovados há mais de dois anos. No entanto, os investimentos estão contingenciados. Nos últimos quatro semestres, não aceitou novos orientandos no doutorado.

No último processo seletivo, aceitou um estudante de Valença que veio com um projeto financiado. Além disso, vai orientar uma estudante do mestrado porque já tinha sido seu orientador na iniciação científica. Agora, tentam adaptar o projeto para um trabalho mais básico, que possa ser executado nesse cenário de falta de recursos. 

Como outros pesquisadores, o professor Gleidson tem enfrentado dificuldades com o contingenciamento de recursos para a educação e a ciência
(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

“Não está tendo recurso para pesquisar trabalho de dissertação e tese. A universidade está passando por grande dificuldade financeiras, sem condição de apoiar as pesquisas com transporte e outras coisas básicas”, diz, com o pesar de quem sempre chegou a ter dez orientandos ao mesmo tempo.

Tendo sido credenciado aos programas de pós-graduação da Ufba e também da Uesb, o professor Gleidson tem números altos de orientações – que é justamente um dos critérios para a avaliação das bolsas de produtividade. Contando os que chama de ‘co-orientandos’, em que não tinha o vínculo de orientador principal, mas participou ativamente da pesquisa, chega a 94 pesquisadores. 

Com a pandemia do coronavírus, os laboratórios fechados e a fazenda experimental da Ufba, em São Gonçalo dos Campos, também paralisada, ele estima que o trabalho tenha sido afetado em até 90% das atividades de campo. Mesmo assim, como os colegas, tenta se adaptar.

“As pesquisas de zootecnia têm impacto direto no agronegócio. A impossibilidade de continuar vai inviabilizar melhorias que poderiam otimizar as pesquisas na Bahia e no Brasil. Fora que o papel social que a instituição tem na vida das pessoas também vai ficar muito prejudicado, porque vamos ter menos gente entrando na universidade para se qualificar”, reflete. 

Formação acadêmica, segundo o Lattes

  • 2006 – 2009
    Doutorado em Zootecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
  • 2005 – 2006
    Mestrado em Zootecnia – UFV
  • 2000 – 2004
    Graduação em Zootecnia – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb)

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Ronaldo Oliveira: recém ingresso no topo da pesquisa no país, criou curso de Zootecnia da Ufba https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/ronaldooliveira/ https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/ronaldooliveira/#respond Thu, 25 Jun 2020 04:00:01 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=3111 Professor, que se considera um ‘nutricionista de ruminantes’, é também aficionado por aves Com uma câmera Canon 7D Mark II e uma lente 100-400 mm – […]

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Professor, que se considera um ‘nutricionista de ruminantes’, é também aficionado por aves

Com uma câmera Canon 7D Mark II e uma lente 100-400 mm – equipamentos profissionais –, o professor Ronaldo Lopes Oliveira desenvolveu um de seus maiores hobbies: a fotografia de pássaros. Em três anos, quando a paixão começou, foram mais de 29 mil registros. Desse total, aprova a qualidade técnica de apenas 10%.

Em uma ou outra incursão ao ar livre, se deparava com alguma ave que chamava atenção.

Em 25 de janeiro de 2020, Ronaldo fotografou o Besourinho-de-Bico-Vermelho, em Entre Rios (Foto: Ronaldo Oliveira/Divulgação)

“Fui encontrando um bichinho aqui e outro ali, achando bonito, e acabei descobrindo que gostava de pássaros e de observá-los. Descobri o Wiki Aves, conheci o mundo da observação e passei a fotografar”, conta o professor de 46 anos.

Hoje, ele contabiliza 829 espécies fotografadas – a maioria das imagens é da região de Porto Sauípe, em Entre Rios, no Litoral Norte baiano, mas há registros de todo o país. A frequência de saídas era alta antes da pandemia: nos tempos pré-confinamento, saía quase todos os finais de semana. Mesmo assim, durante todos os outros dias, a rotina do professor Ronaldo está diretamente ligada à natureza e aos animais.

Enquanto professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), ele troca as aves pelos mamíferos – pelo menos, em seus estudos. A pesquisa sobre os chamados ruminantes – bovinos, caprinos e ovos – fez com que ele se tornasse um dos pesquisadores 1A da instituição, a partir do dia 1º de março de 2020. Assim, desde então, ele está no nível mais alto da pesquisa científica no órgão federal.

A notícia da classificação, na verdade, veio em fevereiro, depois de ele ter passado quatro anos como pesquisador 1B – a categoria anterior. Na data prevista para sair o resultado da renovação das bolsas de produtividade, ele entrou no site do CNPq. Já era a segunda vez, naquele mês, que conferia as respostas.

O resultado estava lá, mas apenas os números das bolsas tinham sido publicados. A lista com os nomes completos só seria divulgada após a fase de recursos. “Fui em minha página ver o número do processo, coloquei o número e vi: bolsa 1A”, lembra.

Achou que o número estivesse errado. Decidiu voltar e conferir. “Anotei de novo, conferi número por número. Só então fui comemorar. É um fantástico reconhecimento. É gratificante e valeu a pena o esforço de trabalhar tão perto com os meus orientandos”.

Agora, com o distanciamento social, essa convivência tem sido apenas digital. As atividades de campo, assim como as laboratoriais, foram suspensas. “Por sorte, estávamos no intervalo de pesquisas e não temos nenhum animal que precise de cuidados diários”, conta. 

No entanto, o professor encontrou uma forma de continuar incentivando a produção e a divulgação científica. Primeiro, fez um levantamento da situação de acesso à internet de todos os integrantes de seu grupo – dos estudantes de graduação a outros professores. Após a confirmação de que havia condições, deram início a um ciclo de encontros para discussões, apresentações de projeto e palestras com gente do Brasil inteiro e de países como Portugal e Moçambique. 

“Foi interessante porque o nosso grupo discutia para dentro. Hoje, a gente está abrindo uma sala virtual e convidando. Isso está sendo muito bom porque a gente debate e qualifica nossos dados”, explica. 

No campo

Buscar uma graduação que tivesse relação com a vida no campo pareceu natural para o então adolescente Ronaldo, na época do vestibular. Nascido no município de Nova Andradina, interior do Mato Grosso do Sul, cresceu na cidade vizinha, Batayporã. Filho de lavradores, viu o pai ser funcionário de fazendas da região; a mãe, por sua vez, trabalhava como empregada doméstica nas mesmas propriedades.

“Era meu pai na produção e minha mãe cuidando de galinha. Cresci naquele meio. Como fui o primeiro de minha família a entrar na universidade, tentei ir para cursos vinculados àquela praia”, explicou.

Pensou nas opções: agronomia não o agradava; medicina veterinária estava fora das opções porque não queria “cortar bicho”, ver animais doentes. Um dia, lendo o Guia do Estudante, descobriu o curso de Zootecnia.

Em seu estado, porém, não havia nenhuma instituição que oferecesse a graduação.  A mais próxima ficava na Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná. Fez o vestibular mas, na primeira vez, não foi aprovado. Passou seis meses em um cursinho pré-vestibular social e, na prova seguinte, foi selecionado.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

“Foi paixão à primeira vista pela profissão. Mas, como eu tinha uma dificuldade financeira grande, fui em busca das oportunidades de bolsa, muito mais do que pelo desejo de iniciação científica. Só que acabei me apaixonando enquanto via meus professores no mestrado e no doutorado”, lembra.

Assim que acabou a graduação, entrou no mestrado da Universidade Federal de Viçosa (UFV), seguindo com o doutorado. Na época, a instituição já era uma das melhores do país na área. O programa, inclusive, tem conceito 7 na avaliação quadrienal da Capes – ou seja, a nota máxima e que indica um desempenho de alto padrão internacional.

O professor Ronaldo concluiu o doutorado em 2001, numa época em que os concursos andavam escassos. Acabou trabalhando por seis anos em uma universidade particular em Brasília, mas não esquecia o desejo de trabalhar com pesquisa. O concurso para a Ufba só foi lançado em 2005.

Lá, o foco sempre foi mostrar a produtividade com a divulgação científica. Assim que as pesquisas começaram, já investia em artigos e outras produções. De 2010 a 2018, o professor Ronaldo foi coordenador de ensino de pós-graduação e cuidava diretamente da pesquisa da universidade.

“Uma coisa que eu sempre fiz questão e que a gente acabou atingindo (na Zootecnia) é que a gente produzisse trabalhos com resultados que tenham foco na Bahia, no Nordeste e no país, mas os resultados têm que ser divulgados para o mundo. Por isso, buscamos as maiores revistas internacionais. Quebramos a cabeça muitas vezes, tivemos algumas rejeições, mas conseguimos galgar isso”, conta.

Zootecnia

O caminho do professor Ronaldo na Ufba está diretamente ligado ao desenvolvimento do Departamento de Zootecnia. Na instituição desde 2006, ele foi o fundador do curso de Zootecnia, criado em 2009. Quando chegou, era professor de Medicina Veterinária. Mas com o lançamento do programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), em 2007, o professor Ronaldo decidiu propor o curso que viria a ser um dos maiores destaques da instituição.

Um ano antes, em 2006, ele tinha vencido as eleições para ser o presidente da Sociedade Brasileira de Zootecnia (SBZ). O planejamento incluía o futuro: a meta era, em 2010, organizar o congresso da entidade em Salvador. Isso aconteceu justamente em 2010, praticamente ao mesmo tempo que a criação do curso, com a presença de mais de três mil pessoas.

“Quando a gente contratou os primeiros professores da Zootecnia, entrou um grupo bem forte e já com bastante publicação. Era um pessoal jovem que estava esperando a hora de entrar na universidade. Contratamos uns 10, 12 professores, que se engajaram na organização do congresso”, lembra.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Mas ele queria ir além. A graduação estava em seu segundo ano, mas o professor Ronaldo já via, ali, a oportunidade de criar a pós-graduação. Queria trazer o mestrado em Zootecnia para a Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia.

Para apresentar uma proposta forte ao Ministério da Educação (MEC), decidiram solicitar um mestrado e um doutorado. “Pensava que se eles fossem cortar algo, cortariam o doutorado. Mas tivemos a grata surpresa de termos sido aprovados já com mestrado e doutorado e nota 4”, lembra, referindo-se ao chamado conceito Capes, que avalia os programas de pós-graduação. A nota 4, que ainda é a do programa, significa que o conceito o curso é considerado bom.

Nutrição

No caso do professor Ronaldo, a pesquisa é sobre a alimentação de bovinos de corte e de leite, caprinos e ovinos. “Eu sou um nutricionista de ruminantes”, explica. Assim, seu maior interesse sempre foi buscar a melhoria da nutrição desses animais ao encontrar novos alimentos que possam baratear ou melhorar a qualidade da carne dos bichos. Além disso, esse aperfeiçoamento também deve visar a saúde humana.

Ao chegar na Bahia, o foco foi encontrar alimentos típicos do estado que possam ser usados como alternativas na alimentação dos ruminantes. Ou seja: valorizar o que é produzido aqui, inclusive o que inicialmente seria descartado. Foi assim com estudos sobre resíduos de óleos como o de licuri e o de dendê.

“A gente estudou o quanto usar de dendê, até quanto eu posso ter na dieta de caprinos, bovinos e ovinos e como fica a qualidade dos produtos se o animal consome isso. Temos trabalho publicado em revista de alto impacto sobre a qualidade da carne do sol de bovinos que consumiram o resíduo de dendê”, conta.

Spoiler: a carne do sol fica mais macia. O dendê não a afeta negativamente; pelo contrário: a carne fica mais barata e melhor. Há, ainda, estudos sobre resíduos de frutas como umbu e acerola, além de óleos como o de amendoim.

“O Brasil tem o maior rebanho comercial de bovinos do mundo, porque o da Índia é sagrado. Então, a produção de carne de ruminantes do Brasil é um carro-chefe da Zootecnia, da agropecuária nacional”, completa.

Solução

A bolsa de produtividade, para ele, é um estímulo. O professor Ronaldo a coloca no mesmo patamar de outra iniciativa do CNPq: o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, mais conhecido até pela sigla Pibic.

A reclassificação, inclusive, é fruto de um trabalho antigo. Um passado recente, mas ainda um passado. “Se tem um conselho que eu poderia dar a quem está começando é não colocar isso como objetivo (se tornar 1A), mas fazer pesquisas para solucionar problemas que a sociedade tem. Esse é o papel. A bolsa é consequência”, enfatiza.

Nesse primeiro semestre de 2020, porém, só aceitou uma nova orientanda – uma estudante de doutorado. Ao todo, tem seis, entre mestrado e doutorado. Em outros anos, chegou a ter dez orientandos simultaneamente.

A queda vem por motivos como a redução de bolsas. “A gente tem tido uma procura menor pela pós por isso e também eu só poderia abrir uma vaga de atividade experimental. Temos que ter o dinheiro para o experimento acontecer. Se eu não tiver, não tem como ter o (projeto do) mestrado ou o doutorado do estudante”, completa.

Hoje, ele é coordenador da área de Zootecnia na Capes. Assim, antes da pandemia, viajava duas vezes por mês. No restante do tempo, dá aulas, faz pesquisa e ainda trabalha na Assessoria para Assuntos Internacionais da Ufba. 

As atividades administrativas, assim como as de extensão, continuam à distância mesmo hoje, com o coronavírus. O momento, para ele, pode até ser definido por um clichê: na crise, é preciso criar, buscar alternativas e, acima de tudo, não se deixar paralisar. 

“A ciência não pode ser paralisada. Ela é a resposta para uma série de coisas, inclusive para a pandemia. Um aspecto que alguns segmentos da sociedade mais critica é a paralisação econômica, mas a gente está estudando alternativas de produção de alimentos para a população humana. Tudo isso também contribui para um retorno e as pessoas não param de se alimentar. Por isso, a gente não pode parar”, defende. 

Formação acadêmica, segundo o Lattes:

  • 1998 – 2001
    Doutorado em Zootecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
  • 1996 – 1998
    Mestrado em Zootecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
  • 1990 – 1995
    Graduação em Zootecnia – Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Produtividade em números

O post Ronaldo Oliveira: recém ingresso no topo da pesquisa no país, criou curso de Zootecnia da Ufba apareceu primeiro em Cérebros da Ufba.

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