Ciências Exatas e da Terra – Cérebros da Ufba https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba Conheça alguns dos maiores dos pesquisadores da Bahia Fri, 26 Jun 2020 21:06:10 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.3.17 Jailson de Andrade: o pesquisador que vai da Baía de Todos os Santos à Antártida https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/jailsondeandrade/ https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/jailsondeandrade/#respond Thu, 25 Jun 2020 04:17:38 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=3042 Professor do Instituto de Química, ele também estuda o coronavírus na água e no ar A mãe do professor Jailson de Andrade tem aquela que talvez […]

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Professor do Instituto de Química, ele também estuda o coronavírus na água e no ar

A mãe do professor Jailson de Andrade tem aquela que talvez seja a melhor definição do filho. Costuma dizer que ele é formado por três ‘Ps’: é professor, pescador e pesquisador. Aos 90 anos, ela não poderia estar mais certa. 

O primeiro ‘P’ é mais óbvio: desde 1976, Jailson é docente do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Em 1999, se tornou titular – ou seja, atingiu o nível mais alto da carreira acadêmica, na progressão de cargos das universidades federais. 

O ‘pescador’ vem do fato de ter barco há quase 30 anos. Ao longo desse período, trocou de embarcação algumas vezes. “Navegar é uma coisa que faz parte do meu dia a dia”, revelou ele, que diz ter um amor especial pela praia de Cacha Pregos, na Ilha de Itaparica, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Desde que foi pela primeira vez, aos 13 anos, não consegue ficar muito tempo longe. O hábito, porém, foi interrompido na quarentena.

E, por fim, é pesquisador à frente de alguns dos principais projetos do estado: ele é um dos pesquisadores com produtividade 1A pelo CNPq na Ufba. Pesquisadores 1A são aqueles que estão no nível mais alto da pesquisa científica no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, definidos entre aqueles que se destacam entre seus pares.

Em março deste ano, após uma atualização do CNPq, sua bolsa passou a ser ligada ao Senai Cimatec, onde também atua. Também colaborador de outras instituições, ocupa o cargo de pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa do Centro Universitário Senai-Cimatec.    

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Mas foi a partir da Ufba, onde entrou pela primeira vez em 1970, como estudante de graduação em Química, que traçou sua trajetória nos 50 anos seguintes. 

“Meu DNA está ligado à Ufba. Na parte de pós-graduação, por exemplo, coordenei a implantação do doutorado em Química e, depois, o de Energia e Ambiente, com colegas”, contou o professor, hoje com 68 anos.

“Quando solicitei a renovação, eles consideraram o endereço formal (do Cimatec), mas não quer dizer que eu esteja fora da Ufba. Tudo continua igual”.

Como pesquisador 1A, é o coordenador de um dos oito Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) da Ufba. Os institutos são ligados ao CNPq e foram criados para apoiar os principais grupos de pesquisa do país. Desde 2008, com o surgimento do primeiro edital, ele conseguiu trazer um INCT para a Ufba. Era um núcleo que reunia pesquisadores da USP, UFRJ, Unicamp, UFRJ, UFRGS, entre outras instituições.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Química na pandemia

Com tanta experiência e toda essa estrutura, o professor Jailson logo se envolveu com as pesquisas sobre a covid-19. Nos últimos meses, elaborou dois projetos que devem dar respostas importantes à pandemia do coronavírus: um é sobre a presença do vírus em corpos d’água e em esgotos e outro sobre a presença no ar dos ambientes internos (hospitalares) e externos, bem como as possibilidades de contágio em cada um. 

O primeiro, inscrito em um edital do CNPq para o tema, já foi aprovado, mas no limite dos recursos. Ou seja, ainda que o órgão tenha autorizado, não selecionou a proposta para receber investimento nesse primeiro momento. “Assim, a ideia é absorver esses estudos nos projetos que temos em andamento”, explica o professor, hoje também confinado, como a maioria dos colegas. 

“Já temos trabalhos ligados à parte atmosférica e à parte da água. As perguntas agora são: o que está sendo determinado, que tipo de amostradores podemos fazer, o tamanho do vírus em escala nanométrica”, diz. 

O Senai Cimatec foi o responsável por desenvolver as câmeras de desinfecção que foram instaladas em hospitais da rede pública, para profissionais que estão na linha de frente do combate à covid-19. Os túneis, que pulverizam hipoclorito de sódio por 10 segundos nos profissionais, já são utilizados em unidades de referência para coronavírus, como o Hospital Espanhol e o Instituto Couto Maia, ambos em Salvador.

É por isso que, para o professor Jailson, é tão importante saber o que tem no ar. “O que está no ar é o que deposita na roupa. Depois que a pessoa passa pela câmera, isso diminui. Mas a forma de transporte mais eficiente (do vírus) é o ar. Em seguida, vêm os corpos de d’água. Então, se você combina a mobilidade do ar com a dos corpos d’água, dá uma boa visão de contaminação de ambientes internos e externos”. 

De casa, mantém o que chamou de “diário do presidiário”. “Hoje é o dia 84. Cada dia, anoto na minha agenda há quanto tempo estou sem sair de casa, sentado na frente do computador”, disse, quando conversou novamente com a reportagem, na segunda semana do mês de junho. 

A rotina no computador se intensificou. Além das reuniões de trabalho, é frequentemente convidado para palestras e seminários por videoconferência – ou, como tanto se popularizou na quarentena, as ‘lives’. Às vezes, são tantos convites para  um mesmo dia que precisa recusar. Mas as demandas virtuais têm tido seu lado bom.

“Antes, reunir o comitê gestor do nosso INCT custava entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, porque tenho pessoas no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro. Com custos de passagem, eu já ficava triste. Só isso era um valor imenso. Nesse pandemônio agora, já fizemos duas reuniões com custo zero e está todo mundo aprendendo”, conta. 

Só no INCT, são mais de 50 envolvidos. Para o professor Jailson, a pandemia da covid-19 trouxe a ciência de volta para o foco. “Mostrou que a ciência está na base de tudo. Você não consegue mover o mundo fora da base da ciência. É ela quem guia. Um país pode até não estar na ponta daquela questão, mas a resposta tem que vir da ciência”, defende.

Família ciumenta

O professor Jailson não é casado, nem teve filhos. Durante toda a vida, dedicou-se à ciência. “Para mim, a ciência é uma outra família extremamente ciumenta”, divertia-se. Talvez o caminho tivesse sido outro se, ao entrar na graduação, não tivesse tido contato com professores que foram tão importantes para que seguisse na academia. 

Cheio de orgulho, cita dois: o professor Raphael de Menezes Silva Selling, um dos primeiros a desbravar a Química Inorgânica na Ufba, e o professor Antônio Celso Spinola Costa, da Química Analítica. De alguma forma, foi como se os dois apresentassem, ao estudante Jailson, um mundo novo. Assim, enquanto muitos colegas foram para o setor empresarial – o Polo Petroquímico de Camaçari era um dos que mais atraía recém-formados –, Jailson ia no sentido oposto. 

Assim que terminou a graduação, emendou o mestrado. Naquela mesma época, começou a dar aulas no curso de Química. Foi justamente quando o professor Raphael se aposentou e Jailson assumiu a disciplina que ele dava, no Departamento de Química Geral e Inorgânica. 

“Daí começa meu interesse pela ciência. E é o que eu sempre quis na vida: ser professor, fazer pesquisa científica”, afirma ele, que começou a ser bolsista de produtividade do CNPq entre 1988 e 1989.

Passou por todos os degraus até chegar à classificação de 1A, em 1999. 

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Entre o fim dos anos 1980 e o início dos 1990, a pesquisa em Química no Brasil cresceu. Ali, o país lançou um programa de incentivo à ciência em parceria com o Banco Mundial, que tinha, como um dos principais aspectos, a meta de aproximar a academia do mercado. Na Bahia, com o Polo Petroquímico, esse ambiente ficou ainda mais favorável. 

Foi quando o doutorado em Química da Ufba foi criado, em 1992, com direito a financiamentos diversificados e pesquisas com foco no setor empresarial. Enquanto isso, o professor Jailson desenvolvia o próprio trabalho, tornando-se cada vez mais interdisciplinar. 

Se, na Química, hoje, as divisões parecem ser bem definidas, ele prefere não escolher. Na Ufba, foi professor titular do Departamento de Química Geral e Inorgânica. No CNPq, sua área é a Química Analítica. Há quem aposte que seu trabalho, na verdade, é em Química Ambiental, e muita gente diz que ele faz a ligação entre Energia e Meio Ambiente. 

“Eu sou professor de Química e gosto de olhar os fenômenos com a visão mais larga possível. Essas classificações são para facilitar, colocar o indivíduo em uma caixinha, mas o principal é ter uma visão ampla”, rebate o professor, também presidente da Academia de Ciências da Bahia e vice-presidente regional para o Nordeste da Academia Brasileira de Ciências.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

À frente da ACB, ele deve promover, mais uma vez, o 2 de Julho da Ciência. A data, que costuma ser celebrada em manifestações juntamente aos festejos públicos pelo Dia da Independência da Bahia. Dessa vez, haverá uma marcha virtual em defesa da ciência.

Baía de Todos os Santos

Em 2008, em uma reunião com a Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb), percebeu algo importante: a Baía de Todos os Santos poderia ser um bom foco de pesquisa. A Fapesb se interessou pelo programa e o professor passou um ano inteiro construindo o projeto, mapeando as instituições baianas que queriam estudar a Baía. Podia ser de qualquer área, desde que a Baía de Todos os Santos fosse o foco do estudo.

Resultado: o professor Jailson se viu à frente de um enorme projeto, que reunia Ciências Humanas, Exatas e Artes. Além do tamanho, a própria duração é um diferencial, em comparação a outros programas: o projeto total deve levar 30 anos, dividido em seis ‘ondas’ de cinco anos. 

“Fazer as pessoas falarem a mesma língua levou um tempo, mas decolamos. A dúvida era: vocês terão fôlego?”, lembrou.

Pois, as duas primeiras ondas já foram concluídas. Entre os produtos da pesquisa, há livros sobre história colonial, estudos sobre baías, ações poéticas, atlas da culinária e relatórios sobre aspectos humanos, oceanográficos e em segurança, meio ambiente e saúde. Até uma coletânea com textos escritos por professoras da rede municipal de Vera Cruz, com histórias sobre a Ilha de Itaparica, foi lançada.

O projeto sobre a Baía de Todos os Santos reúne pesquisadores de diferentes áreas
(Foto: Reprodução)

Atualmente, estão na terceira fase, cujos recursos vieram do próprio CNPq, após praticamente todo o ano de 2018 de negociações. Assim, até 2023, há recursos garantidos. 

Para a quarta fase, a Fapesb, que andava com dificuldades financeiras, deve conseguir apoiar mais cinco anos. “Mesmo com toda tempestade, a Baía de Todos os Santos continua navegando. E é importante porque eu diria que o grande mote desse projeto é que ele junta ciência da melhor qualidade de todas as áreas com trabalho junto às escolas. É totalmente integrado”, reflete. 

No final do ano passado, veio até um projeto sobre a Antártida. Pela primeira vez, um grupo do Nordeste – capitaneado pelo professor Jailson e pelo professor Moacyr Cunha Filho da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) – conseguiu aprovar estudos sobre o continente mais frio do planeta.

Mais do que isso: em outubro, o grupo embarcou dez pesquisadores que fizeram estudos na região de convergência das Ilhas Malvinas com o Oceano Antártico.

“Projetos como esse colocam a Bahia em posições de destaque. Não estamos de carona. Estamos pautando”, reforçou. 

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

No final de 2019, ainda encontrou tempo para se dedicar às investigações e discussões sobre o óleo que atingiu o litoral do Nordeste e alguns estados do Sudeste. Uma das frentes do INCT coordenado por ele é especificamente ambiente, além de energia. O instituto é vinculado ao Centro Interdisciplinar de Energia e Ambiente (Cienam), também sob a coordenação dele.

Em fevereiro de 2020, um artigo assinado pelo professor Jailson e outros cinco pesquisadores, sobre a contaminação de organismos marinhos na Baía de Todos os Santos foi publicado na revista Nature.

“É um estudo completamente novo que foi feito pouco antes do derramamento do óleo. Agora, ele é considerado um marco, porque temos uma referência para tudo que vier depois do derramamento”.

Nos últimos meses, as experimentações ficaram comprometidas devido ao fechamento do laboratório. No entanto, as análises sobre o que já havia sido coletado continuam. Uma das próximas edições da revista da ACB deve ser dedicada a projetos sobre o óleo.

Brilho

Para dar conta de tantos projetos, acorda entre 4h20 e 4h30. Antes da quarentena, às 5h30, saía para caminhar. Antes disso, porém, já leu os principais jornais do país – Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo – e os jornais locais. Depois da caminhada, saía para trabalhar. Não voltava para a casa antes das 20h. 

“Minha mãe diz: ‘poxa, você não para de trabalhar. Eu digo: ‘minha mãe, eu não trabalho’. Eu me divirto. Eu gosto. Fazer ciência é o que eu gosto”, garantiu.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Na família, não há outros pesquisadores. Diz ter sido o único a fazer voto de pobreza. Entre os estudantes, porém, nem consegue contar quantos influenciou para seguir a carreira científica. Identificá-los é relativamente fácil: nas aulas, enquanto tentava ligar o assunto do dia com situações da vida real, observava os alunos. Em alguns, um aspecto em comum – o tal do ‘brilho’ no olho. 

“Esse brilho no olho é fundamental. É uma coisa que é o estar inquieto, de querer saber mais. E eu sempre tive estudantes interessados”, contou. 

Mas ele sabe que a carreira acadêmica não é para qualquer um. Ciência é bonita, mas é competitiva. Quem fica parado, diz, fica para trás. Para manter a qualidade, é preciso ter um ritmo cada vez mais intenso.

“O Brasil e a Bahia precisam investir em ciência, tecnologia e educação. Sem educação, não tem ciência. E, se você não faz, você anda para trás, porque outros vão andando por nós”.

Formação acadêmica, segundo o Lattes:

  • 1982 – 1986
    Doutorado em Química – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
  • 1976 – 1978
    Mestrado em Química – Universidade Federal da Bahia
  • 1970 – 1975
    Graduação em Licenciatura e Bacharelado em Química – Universidade Federal da Bahia

Produtividade em números

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Milton Porsani: professor comanda rede de pesquisa em exploração de petróleo https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/miltonporsani/ https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/miltonporsani/#respond Thu, 25 Jun 2020 04:11:35 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=3127 Ele acompanha trajetória de alunos e destaca importância de ‘despertar o sentimento do aluno para a indagação’ Era uma semana difícil. O professor Milton Porsani, 67 […]

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Ele acompanha trajetória de alunos e destaca importância de ‘despertar o sentimento do aluno para a indagação’

Era uma semana difícil. O professor Milton Porsani, 67 anos, tinha pelo menos duas viagens para apresentações de trabalho em uma semana. Depois, na semana seguinte, devia concluir um relatório. “Está vendo como é?”, comentou, enquanto tentava conseguir encontrar espaço para a entrevista na agenda.

No dia marcado, no final de 2019, logo depois da conversa, levou o CORREIO para conhecer o Instituto de Geociências (Igeo), unidade em que é lotado na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Geólogo de formação, tornou-se referência em Geofísica Aplicada enquanto professor e pesquisador da instituição.

No Igeo, que conhece de uma ponta a outra, está desde 1990. Enquanto conduzia a equipe de reportagem pelos corredores do prédio, apresentava alunos e laboratórios. Reconheceu cada estudante que encontrou no percurso: uma tinha trabalhado na Petrobras e recentemente entrara na pós-graduação, por exemplo; outro atuava com pesquisa desde a iniciação científica.

Em junho de 2020, pouco mais de seis meses após esse primeiro encontro, essa cena já não é tão corriqueira. Agora, o professor Porsani encara a distância do instituto – pelo menos, de sua estrutura física. Desde o dia 18 de março, está recolhido e cumprindo o isolamento social devido à pandemia do coronavírus.

Ainda que suas pesquisas e projetos não tenham relação direta com a covid-19, não havia como não terem sido afetadas por ela. Mas, de certa forma, nada parou: as viagens e reuniões técnicas presenciais deram lugar a encontros virtuais, assim como a gestão e a orientação de alunos.

“Meu desejo e esperança são de que nossos colegas pesquisadores que atuam em estudos relacionados à covid-19 tenham sucesso breve na descoberta de vacinas e medicamentos que permitam salvar vidas e reduzir o sofrimento dos brasileiros”, diz Porsani, que, por sua vez, trilhou um caminho na ciência há pelo menos três décadas.

Com o desenvolvimento e aplicações de métodos geofísicos para exploração de petróleo, gás, água subterrânea, recursos minerais e controle de qualidade do meio ambiente, chegou a um dos pontos mais altos da carreira acadêmica em 2004: foi quando se tornou um dos pesquisadores com produtividade 1A da Ufba no CNPq.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

No próprio instituto onde trabalha, são três pesquisadores nessa condição. Ao lado da Faculdade de Comunicação e da Faculdade de Arquitetura, o Igeo é a unidade com o maior número de bolsistas 1A.

“O Instituto de Geociências tem quatro cursos de graduação: Geografia, Geologia, Geofísica e Oceanografia. O de Geologia é o mais antigo. Por isso, ter três pesquisadores 1A é até pouco para a história que nós temos”, diz.

A trajetória no CNPq também foi longa: a primeira bolsa veio com a classificação 2, em 1993. “Acho que é uma passagem natural de quem se envolve na pesquisa e se dedica à formação de pessoas. A gente tem obrigação de orientar alunos, dar aulas, formar pessoal e fazer pesquisa”, completa.

Geofísica

O professor Milton Porsani nasceu no município de Urupês, no interior do estado de São Paulo. Com pouco mais de 13 mil habitantes, a cidade fica próxima de São José do Rio Preto. No vestibular, acabou fazendo Geologia e Educação na Universidade de São Paulo (USP). Mas, como gostava de Matemática e Computação, acabou se aproximando da Geofísica.

“Achei que era a área que poderia me sentir mais confortável”, explica ele, que emendou o fim da graduação em Educação, em 1978, com um mestrado em Geofísica, na Universidade Federal do Pará (UFPA).

Ficou cinco anos em Belém. O plano inicial, na verdade, era se estabelecer por lá, mas as dificuldades de contratação no estado fizeram com que viesse para Salvador. “Entendi que era o caso de continuar estudando e comecei a estudar a geofísica da exploração de petróleo”, lembra.

Assim, ele já fez o doutorado na Ufba, entre 1983 e 1986, desenvolvendo algoritmos para o processamento de dados sísmicos. Por três anos, esperou por uma possibilidade de contratação – que só veio com o concurso de 1989, com ingresso na instituição em 1990.

“Foi quando comecei de verdade e já me envolvi com a pesquisa. Depois, já apliquei para o CNPq”, diz o professor.

De fato, a graduação em Geofísica da Ufba foi um dos primeiros do Brasil. Criado em 1992 – mais de duas décadas após a fundação do Igeo, em 1968 -, o curso só veio depois do da USP.

Extração de petróleo

Os algoritmos, já presentes no doutorado do professor Porsani, continuaram em sua pesquisa nos anos seguintes. Ainda hoje, ele trabalha desenvolvendo métodos e algoritmos para filtragens, decomposição e análise subterrânea.

“Trabalhamos com a descoberta do petróleo e, para isso, são envolvidas várias técnicas de tratamento de dados e construção de imagens sísmicas”, explica.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Nesse contexto, estão incluídas desde a obtenção de imagens físicas e de melhoria dos sinais até a confiabilidade da informação registrada em 2D ou 3D.

O assunto pode até soar complexo, mas o professor Porsani costuma responder de forma objetiva quanto ao impacto da pesquisa dele na vida das pessoas: todo mundo precisa de gasolina, ainda que de forma indireta. “E, hoje, o Brasil produz gasolina. Só que, até chegar nisso, existe toda uma cadeia que envolve a descoberta, a exploração”, cita.

O petróleo é encontrado em bacias sedimentares. Mas, durante o processo de perfuração, há a participação de profissionais de diversas especialidades.

“A Petrobras precisa desses especialistas em Geofísica, por exemplo”, argumenta. É por isso que ele estima que 95% dos profissionais formados em Geofísica sejam absorvidos justamente por essa cadeia.

Desde 2009, o professor Porsani coordena um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) sediados na Ufba – o de Geofísica do Petróleo. Renovado em 2016 para seguir até 2022, o projeto conta com mais de 40 pesquisadores de instituições como a Universidade de Campinas (Unicamp) e do Senai Cimatec.

A missão, de acordo com ele, é desenvolver uma rede de pesquisadores que contribuam para os estudos de exploração de petróleo.

O INCT coordenado pelo professor Porsani ainda faz parte do GasBras, um programa ainda maior de pesquisa ligado à USP. Além dele, o INCT liderado pelo professor Jailson Andrade, que é de Energia e Ambiente, também faz parte do projeto. A proposta é estudar as melhores formas de desenvolver a indústria do gás convencional no Brasil.

“Faz parte do nosso objetivo estudar quais impactos e quais os cuidados poderiam ser tomados de forma segura. Na Geofísica, estudamos a qualidade das rochas geradoras, que são aquelas que podem sofrer estímulos para produzir o gás”, explica.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Aposentadoria

Em 2000, o professor Porsani se tornou professor titular da Ufba – justamente da disciplina de Extração de Petróleo. No segundo semestre do ano passado, porém, decidiu se aposentar.

“Mas continuo por aqui”, garante. Na ocasião, apontava as salas do corredor do Igeo onde ficam os pesquisadores do seu departamento.

“Essa aposentadoria me tira a obrigação de várias coisas. Embora eu esteja aposentado, nunca estive trabalhando tanto”.

Ele sabia que, se estivesse aposentado, conseguiria tocar outros projetos – inclusive, já tem ideias para escrever dois novos livros. Até hoje, já publicou mais de 70 artigos científicos. Um dos maiores problemas, porém, é perder o contato com os alunos na graduação. E, como alguém que dedicou a vida à ciência, ele sabe bem o que essa relação pode significar.

“Os professores que a gente tem são muito importantes para despertar o sentimento do aluno para a indagação, para a pesquisa”, diz ele, que vive em uma família de cientistas.

A esposa, Elizabeth Ramos, é professora do Instituto de Letras da Ufba e os dois filhos também são pesquisadores.

Formação acadêmica, segundo o Lattes:

  • 1983 – 1986
    Doutorado em Geofísica – Universidade Federal da Bahia
  • 1978 – 1981
    Mestrado em Geofísica – Universidade Federal do Pará
  • 1978 – 1979
    Especialização em Ensino de Geologia – Universidade Federal do Pará
  • 1974 – 1978
    Graduação em Faculdade de Educação – Universidade de São Paulo
  • 1972 – 1976
    Graduação em Geologia – Universidade de São Paulo, USP, Brasil

Produtividade em números

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José Landim: o geólogo que é uma das maiores referências em erosão costeira https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/joselandim/ https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/joselandim/#respond Thu, 25 Jun 2020 04:07:04 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=3099 Da área de Oceanografia, ele chegou a criar um ‘kit aula’ particular para evitar alguma carência de material em sala É possível que você já tenha […]

O post José Landim: o geólogo que é uma das maiores referências em erosão costeira apareceu primeiro em Cérebros da Ufba.

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Da área de Oceanografia, ele chegou a criar um ‘kit aula’ particular para evitar alguma carência de material em sala

É possível que você já tenha lido algo sobre a pesquisa do professor José Maria Landim. Referência nos estudos sobre erosão costeira, é comum que ele seja convidado a dar entrevistas sobre o tema. Mas a verdade é que o próprio Landim pouco lê o que é publicado a respeito dele.

Quando foi entrevistado pelo CORREIO para este especial, confessou: não tinha lido as últimas reportagens em que foi citado, a exemplo de quando o seu trabalho foi listado entre 10 pesquisas de excelência na Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 2019, ou quando, a partir de seus estudos, explicamos a erosão em cidades como Prado e Mucuri, que chegaram a decretar situação de emergência entre 2017 e 2018. 

Não era por afetação, nem nenhum tipo de arrogância. Pelo contrário: em meio à timidez, o professor Landim não gosta de falar sobre si mesmo. No final da conversa, explicou que acredita que é sempre preciso ter humildade.

“A gente não deve nunca ficar se achando porque isso acaba afetando a sua percepção”, disse. 

Professor do Instituto de Geociências da Ufba, ele é um dos três professores de sua unidade que é pesquisador com produtividade 1A pelo CNPq, o mais alto nível da pesquisa científica no órgão – ainda que o único na área de Oceanografia. Mas, para ele, ser classificado como alguém que desenvolve o mais alto nível de pesquisa em todo o país não tem “nada de excepcional”. 

No CNPq, o professor Landim desenvolve pesquisas sobre oceanografia
(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

“A gente está conversando aqui. É uma coisa de outro mundo? Não, é uma coisa normal. Como dizem os filósofos lá, a única coisa que eu sei é que eu não sei nada”, reforçou, mais de uma vez.  Em toda a carreira, já orientou mais de 100 pessoas. Só doutores foram 30. Com orgulho, sabe do paradeiro de alguns: muitos tornaram-se professores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), das Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG), Fluminense (UFF) e de Sergipe (UFS), além da própria Ufba.

Oceanografia

Ele próprio foi parar na Geologia por acaso. Na juventude, os pais queriam que fizesse Engenharia. Do alto da revolta juvenil, na hora de se inscrever para o vestibular, porém, decidiu ir por um lado que não tivesse nada a ver com a Engenharia. Foi assim que, em 1974, entrou na Ufba. 

Na graduação, começou a traçar o caminho da pesquisa. Primeiro, foi monitor da disciplina Geologia Geral. Em seguida, a professora Yeda Ferreira – que coordenara a criação do Igeo, pouco antes, em 1968 – fez um convite: queria que ele participasse do programa de iniciação científica. 

“Entrar nesse programa foi uma grande motivação para mim. Eu comecei a me entrosar com a pesquisa e me motivou a fazer um mestrado aqui no Igeo”, lembrou o professor Landim, que concluiu o mestrado em 1983. 

Antes mesmo da conclusão, ainda em 1980, já começara a ensinar na Ufba. Depois, por estímulo dos professores da instituição, fez doutorado pleno no exterior – na Universidade de Miami, nos Estados Unidos. 

O foco na pesquisa guiou seus passos seguintes. Nunca fez um concurso para trabalhar fora da universidade, assim como nunca chegou a enviar um currículo para ser funcionário de empresas. A carreira esteve sempre ligada à Ufba – em 1999, tornou-se professor titular, que é o mais alto posto acadêmico. 

O CNPq veio antes disso. Quando voltou do doutorado, em 1987, aplicou para ser pesquisador do órgão. Subindo os níveis, foi classificado como 1A em algum momento dos anos 2000. O nível não era seu objetivo. Na verdade, nem mesmo acreditava que um dia chegaria a ser pesquisador 1A. 

“Eu achava que o que eu estava fazendo aqui era o que eu estava fazendo aqui e que, para chegar a 1A, precisaria de muita coisa. Mas fui surpreendido numa determinada situação em que fizeram a reclassificação dos pesquisadores. No final, é uma espécie de recompensa pela atividade que você desenvolve”, analisou. 

Na Geologia, pesquisou muitas áreas. Trabalhou com Geologia e Geofísica Marinha, fez mapeamentos geológicos, orientou trabalhos de arqueologia, mapeamento ambiental e, com um colega, produziu a segunda edição do Mapa Geológico da Bahia. Depois, passou a enveredar pela Oceanografia. 

Quando aplicou para o CNPq pela primeira vez, tentou uma bolsa na Geologia. Na época, contudo, seu projeto foi deslocado para a Oceanografia pelo comitê da área no CNPq. Hoje, é pesquisador 1A do comitê de Oceanografia.

“Eu me sinto bem atuando tanto na área de Ciências do Mar quanto na área de Geologia. O cara, para ser pesquisador, tem que ter uma curiosidade e ser uma pessoa obsessiva para ficar ali tentando resolver as questões que aparecem. Se você não tiver aquela obsessão, você não vai se aprofundar o suficiente”, reforçou.

Erosão costeira

Praticamente tudo em seu trabalho, de certa forma, está relacionado à compreensão da erosão costeira. Ultimamente, tem se dedicado ao trabalho com os deltas – a exemplo do delta do Rio São Francisco. Entender o que acontece na região de um delta – que é a foz formada por canais ou braços do leito do rio – é importante para conseguir avaliar a vulnerabilidade deles às mudanças climáticas.  

“Todos os deltas do mundo estão sofrendo processo de erosão da linha de costa, inundação de planícies por dois fatores: intervenção humana e mudança no clima”, explicou o professor. 

(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

A intervenção humana vem, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial, quando milhares de barragens começam a ser construídas. Essas barragens acabam prendendo sedimentos ao longo do curso do rio, fazendo com que mais nada chegue à foz. Além disso, algumas delas foram construídas para regularizar vazão e garantir energia elétrica o dia inteiro. Só que isso também provoca alterações nos rios. 

A erosão costeira interfere também na cultura e nas atividades humanas. A tendência é que as praias da Orla de Salvador, por exemplo, não tenham para onde migrar, com a subida do nível do mar. Muitas podem desaparecer por completo. 

“Na maré alta, no Porto da Barra, não tem lugar para a pessoa ficar na areia. Como você vai resolver isso? Pode resolver criando uma alimentação de praia, identificando fontes de areia. A gente estuda para mapear essas fontes de areia”. 

Desde 2012, ele é o coordenador do Instituto Nacional de Tecnologia (INCT) de Ambientes Marinhos Tropicais. O objetivo central do instituto, que reúne pesquisadores do Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Paraíba e Pernambuco, é avaliar como a heterogeneidade desses ambientes pode determinar a resposta deles às mudanças climáticas – e erosão costeira é justamente uma delas.

Sala de aula

Aos 64 anos, já poderia estar aposentado da Ufba pelo tempo de serviço. No entanto, tem adiado. Colocou um prazo para si mesmo: daqui a menos de um ano, em 2021, quando completar 65 de idade. A sala de aula, explica, “cansa”.   

“É por isso que o professor tem que aposentar mais cedo. Tudo isso é um desgaste. E você não desliga”. 

Há alguns anos, o professor Landim criou o ‘kit aula’. É uma caixa em que guarda tudo que costuma usar com os alunos – mas tudo comprado do próprio bolso. É lá que guarda seu projetor, extensões, adaptadores de tomada e até pilhas para o controle dos aparelhos de ar-condicionado. Andava sempre com o kit, até a suspensão temporária das aulas da Ufba, devido à pandemia da covid-19.

“Se não tivessem essas coisas, seria uma maravilha. Mas, infelizmente, tem. Outro dia, eu estava dando aula no térreo e o ar-condicionado estava quebrado. Daqui a pouco, um cachorro começa a latir embaixo da janela. Latia, latia, não parava. E eu não conseguia dar aula”, contou. 

Aos alunos, costuma dar um conselho: que conheçam as mais diferentes ideias. Às vezes, um estudante pode não ter interesse em uma disciplina ou outra, mas, lá na frente, garante, vai perceber que ter conhecido aquele tema vai torná-lo um profissional melhor. 

Em troca, aprende outros aspectos com os alunos. Hoje, é comum se deparar com situações em que percebe que pensa diferente daqueles que têm a mesma idade. Vez ou outra, é adicionado em grupos de Whatsapp com colegas dos tempos de colégio, de ginásio. Nesses ambientes, nem sempre são pessoas que têm contato com as gerações mais jovens. 

Resultado: as piadas são as mesmas, as ideias são as mesmas. Nesse bolo, estão incluídas piadas ou declarações machistas, homofóbicas, preconceituosas.

O professor Landim criou até um ‘kit aula’
(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

“Eles não percebem que determinadas atitudes não são mais toleráveis. O pessoal da minha geração ainda acha engraçado muita coisa que eu já não acho. Vejo com outros olhos, até porque os jovens de hoje nem entendem isso mais como piada. É isso que os alunos me dão de retorno”, disse o professor.

Artigos

Por ano, a publicação de artigos e capítulos de livro é variável. Cada pesquisa pode chegar a demorar dois, três anos – o tempo de um mestrado, por exemplo. 

Mas, para o professor Landim, esse tipo exigência é importante para a pesquisa. Quando um trabalho é submetido à publicação, ele passa pelo crivo de avaliadores internacionais. Recebe anotações e intervenções de cada um deles para, em seguida, ser editado ou até praticamente reescrito. 

“Se não tiver isso, não te estimula ou não te faz crescer. Tem até uma frase de Santo Agostinho: ‘eu prefiro aqueles que me criticam, porque me corrigem, do que os que me elogiam, porque me corrompem’. A crítica é fundamental”.

Ele sabe que, por mais que muitos estudantes queiram desenvolver pesquisa, a maioria sonha com um bom emprego. Não é incomum – especialmente diante da falta de bolsas – que muitos decidam deixar a carreira de pesquisadores por uma oportunidade de emprego com salários mais altos.

Obsessão

Certa vez, conversava com um gerente de um hotel famoso de Salvador. Seu interlocutor não conseguia entender como ele dava aulas e fazia pesquisa – sem ganhar a mais por uma atividade ou outra. “Você faz pesquisa de graça?”, questionava. 

Mas o professor Landim sabe que, ao longo de todos os anos na Ufba, trouxe ‘lucros’ à universidade que vão além do capital simbólico. Trouxe recursos, trouxe equipamentos que ficam para a universidade. 

“Eu sempre fui obcecado nisso, de ir em frente. Por isso, tem várias coisas que eu pago do meu bolso. Se quebrou algo que não pode esperar, eu pago”, contou ele, pai de uma filha de 31 anos e de um garoto de 14 anos. 

Nem as mudanças na rotina devido à quarentena mudaram esse perfil. Agora, de casa, enquanto cuida de afazeres domésticos, coordena a rotina de orientação de alunos por videoconferência, faz relatórios, propostas de projeto e mesmo reuniões virtuais com os órgãos colegiados da universidade. 

“A única atividade que a gente fica impossibilitado é dar aulas presenciais, porque até a parte de manutenção do laboratório, tento ir uma vez por semana no Igeo ver se está tudo funcionando. Choveu muito no mês de maio e é impressionante como o mofo começa a cobrir tudo”, diz, preocupado com o trabalho de uma vida.

Para ele, é natural que pesquisadores sejam assim. Afinal, as perguntas não deixam de existir – as investigações continuam, seja qual for a área do conhecimento. No caso dele, essa sensação talvez seja ainda mais forte, ainda que não esteja na linha de frente das pesquisas sobre covid-19. 

“Às vezes, alguma ressaca destrói um muro, um calçadão, ou algum outro fenômeno natural pode acontecer. Estamos numa situação de pandemia, mas nenhum desses fenômenos deixa de acontecer e a gente tem muitos dados que foram coletados e precisam ser interpretados e sistematizados”, explica.

Formação acadêmica, segundo o Lattes:

  • 1983 – 1987
    Doutorado em Marine Geology And Geophysics – Rosenstiel School Of Marine And Atmospheric Sciences University Of Miami, Estados Unidos.
  • 1980 – 1983
    Mestrado em Geologia – Universidade Federal da Bahia.
  • 1974 – 1978
    Graduação em Geologia – Universidade Federal da Bahia.

Produtividade em números

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Sergio Luis Ferreira: o cientista que trocou o cargo no Polo pela pesquisa e pelos artigos https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/sergioluisferreira/ https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/sergioluisferreira/#respond Thu, 25 Jun 2020 04:04:37 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=2985 Vinculado ao Instituto de Química, ele também cobrava dedicação exclusiva dos orientandos Nos tempos da Escola Técnica, o jovem Sergio Ferreira começou a vislumbrar um futuro […]

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Vinculado ao Instituto de Química, ele também cobrava dedicação exclusiva dos orientandos

Nos tempos da Escola Técnica, o jovem Sergio Ferreira começou a vislumbrar um futuro na área da Química. Ele, que, até então, sonhava em ser médico, passou a enxergar uma carreira como chefe de laboratório ou algo parecido. Na época, no início dos anos 1970, a carência por bacharéis em Química levava a salários altos e postos valorizados, no Polo Petroquímico de Camaçari e no Centro Industrial de Aratu (CIA). 

“Por conta da idade, aquilo me chamava muita atenção. Durante todo o meu curso, tive vontade de ser um alto funcionário do Polo”, lembra ele, hoje com 64 anos. 

Isso quase aconteceu. Começou a graduação na Universidade Federal da Bahia (Ufba) e chegou até a trabalhar como técnico em Química de forma simultânea. Mas a pesquisa entrou na sua rota. Depois que praticamente emendou o mestrado na graduação, não conseguiu mais deixá-la. 

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Hoje, é um dos pesquisadores da Ufba com produtividade 1A do CNPq –  ou seja, está no nível mais alto da pesquisa científica segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Professor do Instituto de Química desde 1982, ele ainda tem outra função diretamente ligada à produção científica: desde o início de março, ele é o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação. Até o ano passado, ele era o coordenador de pós-graduação.

Mesmo que hoje ocupe um cargo na estrutura central da Ufba, o professor Sérgio já abdicou de oportunidades pela pesquisa. No Instituto de Química, onde é lotado, foi vice-diretor por um período. Pouco depois, apareceu a possibilidade de ser diretor. Abriu mão. Não quis tirar o foco da pesquisa. 

Uma de suas maiores preocupações, até mesmo como coordenador dos cursos de pós, é de manter sua produtividade, ainda que a área de Química seja, em suas palavras, “disputadíssima”.

“Apesar de ter alguns cargos administrativos, vivi para ser pesquisador. Sempre tive foco na minha pesquisa. Acho que esse 1A é porque vivi muitos anos voltados para o meu laboratório”.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Com tanta determinação, não foi estranho quando ele viu o trabalho aumentar na quarentena, assim como alguns de seus colegas. Por vezes, começa a jornada às 8h e só para depois das 21h. A pesquisa experimental, conduzida em laboratórios, teve que ser interrompida. Mas, ao mesmo tempo, seminários, leituras, elaboração de projetos e exames de qualificação não pararam. 

“Como trabalho com espectro analítica e experimentos com lentes de vidro, materiais muito suscetíveis, estamos preocupados com a umidade, que aumentou muito no último mês. Estou com medo de ter muito mofo nas coisas. Mas, na medida do possível, a gente vai tocando”, diz.

Científico

No Polo, nos tempos de estudante, encarava turnos de oito horas: das 8h às 16h, das 16h às 24h e da 0h às 8h. Dividia as jornadas com outros três técnicos de trabalho. Dois não estudavam; outro cursava Matemática. 

Para dar conta das aulas, não era raro que tivesse que fazer trocas. Mas os colegas não facilitavam; até aceitavam as trocas de turno, mas da forma como lhes fosse mais conveniente. Mas garante: nunca teve mau humor. 

“Trabalhei muito de meia-noite até 8h para chegar de manhã e seguir para a aula. Lembro que era muito difícil trabalhar a noite toda, mesmo com o salário lá em cima”, conta.

No fim da graduação, passou direto para o mestrado. Percebeu que seu negócio era mesmo ensinar e pesquisar. 

Gostava de estar em bibliotecas e tinha uma sede grande por ler artigos. Publicou o primeiro em 1988. Era o início do doutorado, mas também uma época em que não havia nem a tradição, nem a cobrança que existe hoje. Não era professor e não estava associado a nenhuma agência. Simplesmente teve vontade de escrever. Foi lá e fez.

(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

Como não tinha inglês fluente, teve dificuldades para colocar o trabalho sobre determinação de níquel em ligas de cobre no papel. Passou por todo o processo de submissão – bem mais caro e complexo do que é hoje, porque tudo era pelos Correios – para enviar o artigo à Escócia.

“Meu primeiro trabalho foi algo muito suado, numa revista que hoje é classificada como Qualis A1, a Talanta”, lembra.

As revistas acadêmicas são classificadas pela sua importância e relevância. O chamado Qualis A1 é justamente o nível mais alto. “O curioso desse artigo é que é o único artigo que eu tenho que eu publiquei sozinho, na vida inteira”.

Doutores

Não foram poucas as vezes que tentaram desestimulá-lo.

“Claro que ouvi que não dava em nada. Sempre, sempre, sempre. Mas eu olhava muito os meus pares”, revela.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, onde fez doutorado, se espelhava nos professores. 

Na Bahia, colegas como o professor Jailson Andrade – outro dos pesquisadores com produtividade 1A – orientavam. Diziam para que ele publicasse artigos, que tentasse ser pesquisador do CNPq. Foi o professor Jailson, inclusive, quem o convocou para ajudar a Ufba. “A gente precisa de pesquisadores aqui”, disse, na época. 

Ali, o doutorado em Química na Ufba começava a ser desenhado. Enquanto isso, desenvolvia a pesquisa em Química Analítica, passando por temas que iam desde a parte ambiental até a de alimentos e combustíveis. Formou tantos doutores que perdeu a conta – sabe que passam dos 40 (segundo o Lattes, 47). Muitos se tornaram professores da Ufba e das universidades estaduais baianas.

Nos últimos anos, tem se debruçado na quimiometria. O nome complicado é de uma disciplina que usa métodos estatísticos e matemáticos para planejar ou selecionar experimentos de forma otimizada para ter o máximo de informação química. É a partir da quimiometria que se modelam experimentos. Empresas industriais, por exemplo, recorrem a ela para otimizar procedimentos e gastar menos.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Escrita

Uma vez, ouviu de um colega se era capaz de escrever um artigo em um ou dois dias. Respondeu que não. Para o professor Sérgio, os artigos são como uma aula. Assim, gosta de escrever de forma didática. Daí, vem a consequência: quanto mais um texto é didático, mais provável é de que ele receba citações. 

“Os artigos são lidos à medida que tenho um cuidado. Não é simplesmente jogar lá. Você tem que vender o seu peixe de forma didática, porque quem pega um artigo geralmente é um estudante que quer aprender”.  

Essa prática lhe deu uma vantagem. Quando a produção de artigos passou a ser cobrada pelas agências, já era uma realidade para o professor Sérgio. “Eu já estava dentro do jogo”, sintetiza.

Em 1993, recebeu a primeira classificação de produtividade do CNPq – a de nível 2. Para ele, o gás da idade ajudou. O nível 1A veio há mais de 10 anos, acompanhado de um alto índice de orientandos. Um requisito constante para os doutores formados por ele é de que todos tivessem, pelo menos, um artigo publicado.  

(Foto: Evandro Veiga/CORREIO)

O professor Sergio é um dos dois únicos pesquisadores negros entre os com classificação 1A na Ufba. No passado, quando entrou no Instituto de Química, conta, eram mais professores negros. Havia mais baianos – hoje, há também mais pesquisadores de outros estados e países.

“Minha situação foi um pouquinho mais favorecida pela orientação de meus pais de promover a educação dos filhos. Mas as oportunidades ainda são muito poucas e, na minha geração, foi muito pior”, lamentou.

Seu pai, que trabalhou como pedreiro e carteiro, foi o primeiro negro a entrar na Faculdade de Arquitetura da Ufba, em 1960. Com dificuldades para concluir, ao mesmo tempo em que trabalhava, se formou em 1969. Por anos, trabalhou construindo casas e apartamentos populares.

“Essa e outras coisas favoreceram a minha situação hoje, além de eu ter segurado com muita garra todas as oportunidades”.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Essa mesma dedicação é exigida de seus orientandos. Vez ou outra, quando um pensava em se candidatar para ser professor substituto, recebia um alerta. “Se você quiser, pode continuar, mas procure outro orientador”, dizia. Queria assiduidade. Sabia que, se o estudante trabalhasse em outra coisa ao mesmo tempo, não conseguiria se dedicar 100% à pesquisa. 

“Durante um bom tempo, escolhi alunos que pudessem dar uma dedicação exclusiva ao laboratório. Isso facilitava porque trabalhávamos em conjunto”, explica.

Atualmente, porém, com as bolsas de mestrado e doutorado ficando cada vez mais escassas, ele admite que é difícil encontrar alunos que possam focar apenas na pesquisa, sem trabalhar.

Pela Ufba, diz que só tem gratidão.

“Mas reconheço que, sem meus estudantes, sem meus bons alunos, eu não seria um pesquisador 1A”.

Formação acadêmica, segundo o Lattes:

  • 1987 – 1990
    Doutorado em Química – PUC-Rio
  • 1981 – 1984
    Mestrado em Química – Ufba
  • 1975 – 1979
    Bacharelado em Química – Ufba

Produtividade em números

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Antonio Ferreira: da graduação em tempo recorde em Física às pesquisas sobre spintrônica https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/antonioferreira/ Thu, 25 Jun 2020 04:03:00 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=2727 Professor ainda surpreende em cada aula e não lembra quando conseguiu ter 30 dias inteiros de férias O professor Antonio Ferreira da Silva sabe muito de […]

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Professor ainda surpreende em cada aula e não lembra quando conseguiu ter 30 dias inteiros de férias

O professor Antonio Ferreira da Silva sabe muito de números. Conhece materiais semicondutores, átomos e nanotecnologia como poucos. Mas, professor titular do Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia (Ufba), tem um cálculo que ele não sabe fazer: há quanto tempo, desde que está na universidade, tirou férias de um mês inteiro.

Aos 72 anos, tem tantos projetos que não tem horário para trabalhar. Nem mesmo aos fins de semana está totalmente livre de relatórios, livros e pesquisas.

“A pesquisa que estou fazendo agora é spintrônica, que não é mais eletrônica. É quando você vai para o âmago do átomo para ter equipamentos eficientes. É o spin, não são mais os elétrons”, explica, referindo-se às partículas menores que os elétrons.

Mesmo hoje, com a universidade sem aulas, ele não parou o trabalho. Logo no início da quarentena, em março, teve que interromper o início de um período como professor visitante na Universidade de São Paulo (USP). Havia chegado em São Paulo pouco antes, em fevereiro. 

“Voltei no apagar das luzes, quase não acho mais avião. Até que peguei um e vim embora, porque já tinha recebido uma ordem da USP para não irmos mais, até pela minha idade. Mas a gente continua trabalhando pela web direto”, conta.

Antes da primeira conversa com o CORREIO, preferiu avisar: seu currículo Lattes era condensado. Para ajudar a conhecê-lo, enviou um documento – uma espécie de briefing – à reportagem. Se fosse colocar tudo lá, certamente ocuparia mais do que as 35 páginas atuais. Não é à toa que ele é um dos pesquisadores com produtividade 1A do CNPq na Ufba, sendo o único no instituto onde trabalha. Ou seja: ele está no nível mais alto da pesquisa científica no órgão federal.

“Você vê a importância que isso tem, mesmo com as nossas dificuldades. A Física só veio ter curso de doutorado há pouco tempo, mas não quer dizer que a gente não tinha pesquisa de ponta”, reflete o professor.

Justamente porque é um programa novo, ele é um dos professores que têm tentado inserir não só no Instituto de Física mas na Ufba, como um todo, o conceito de laboratórios de grande porte. Orgulhoso, anuncia: estão implantando o primeiro microscópio de transmissão da instituição.

O equipamento, que veio do Japão e custa mais de R$ 6 milhões, serve justamente para ver o âmago das substâncias que estão sendo analisadas. “Se você não conhece isso, não produz bons fármacos. É como se fosse um organismo para você ter uma ideia e estudar que aplicação vai ter. Na Medicina, isso é um espetáculo”, diz.

O professor Antônio fez doutorado na Suécia e no Japão
(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Desde 2005, participa de editais da Financiadora de Equipamentos e Projetos (Finep), a empresa pública também ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, para conseguir aportes para grandes laboratórios interdisciplinares. “Nunca perdemos um”, revela, citando os espaços chamamos Lamume, laboratórios multidisciplinares utilizados por diferentes cursos.

Tempo recorde

Nascido em Salvador, o professor Antonio passou a infância em Conceição do Jacuípe, no Recôncavo baiano. Por pouco, quase enveredou para uma área completamente diferente. Já de volta a Salvador, quando saiu do Ensino Médio, no antigo Colégio Pamphilo de Carvalho, no Engenho Velho de Brotas, prestou vestibular para Arquitetura e Física.

Mas gostou tanto de Física que fez o curso em tempo recorde – apenas dois anos e meio contra a média de quatro anos. Logo depois, emendou o mestrado na Universidade de Brasília (UnB). 

No meio do primeiro ano, acabou indo para a Universidade de Campinas (Unicamp), onde concluiu o mestrado. Nessa mesma época, começou a ensinar. A sala de aula também é uma paixão: mesmo hoje, professor titular da Ufba, não deixou de ensinar nem mesmo na graduação. Antes do doutorado, passou um ano em Salvador. Mas, naquela época, aqui não queria ficar. 

“Eu queria ir para longe”, lembra. De fato, foi o que fez. Aplicou para duas bolsas de doutorado fora do Brasil: uma pelo mesmo CNPq pelo qual viraria pesquisador 1A anos depois e outra pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Foi aprovado nas duas. Resultado: casou e, em 1977, embarcou para a Suécia, para passar pelo doutoramento na Linkoping University. 

Lá, terminou o curso de outra forma meteórica – menos de três anos. No final, ainda chegou a passar seis meses na Kyoto University, no Japão, estudando semicondutores. Em 1979, já tinha defendido a tese quando recebeu uma carta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Um de seus professores na Unicamp perguntava se ele não queria voltar ao Brasil – mais especificamente para o laboratório especializado em células solares. 

Era uma nova pesquisa, um novo centro.

“Um professor da universidade da Suécia foi na minha sala e disse: ‘olha, Antônio, está tudo certo para você ser contratado como professor aqui.’ Eu disse: ‘agradeço muito mas tenho um desafio maior no Brasil, que era fazer esse laboratório”, conta.

Foram 20 anos no Inpe até surgir um concurso para a Ufba. Na época, as coisas eram diferentes. O concurso para professor titular não era como hoje. Era aberto de forma nacional. Decidiu encarar o novo desafio e fazer. “Foram três dias muito pesados. Por isso, estou aqui desde 2000 e já vim como professor titular pelo concurso nacional”, diz. O professor titular é o ponto mais alto da carreira acadêmica nas universidades públicas. 

Somente quando chegou à Ufba pôde se tornar pesquisador do CNPq, já que tanto o órgão quanto o Inpe são vinculados ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Quando aplicou para a bolsa, já começou alto: com um currículo e uma produção como os dele, já foi classificado como 1B. Menos de cinco anos depois, já tinha virado 1A. 

Ele não sabe quando tirou férias de um mês pela última vez
(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Na Ufba, seu trabalho é focado em semicondutores e materiais, a exemplo de óxidos e metais. Só para dar uma ideia do alcance disso, um aparelho de telefone, por exemplo, tem placas e dispositivos eletrônicos. O grupo do professor Antonio estuda como fazer esses dispositivos e, ao mesmo tempo, como otimizá-los. 

“Essa é uma das coisas que a gente faz. A outra é estudar como o material é altamente condutor. A gente começa a estudar também a parte biológica desses materiais, que é o que a gente chama de nanocristais, nanopartículas, para estudar quando ele pode ser adaptado, nocivo ou inofensivo ao corpo humano”, pontua.

Mas é como se não existem fronteiras. Faz parte do colegiado da Rede Nordeste de Biotecnologia, é vice-diretor do Laboratório de Nanotecnologia do Nordeste, membro titular do Comitê de Física e Astronomia e ainda criou um programa estratégico em nanotecnologia, o Sisnano, com um professor da USP. Na instituição, mesmo antes de ser professor visitante, ele orientava pesquisas de doutorado. 

Aula diferente

Entre os alunos, um comentário é comum: o de que ele nunca dá a mesma aula. É tão conhecido por isso que até se acostumou a ver estudantes que já cursaram a disciplina retornando para ver uma aula ou outra. 

“Ultimamente estou dando coisas relacionadas à física em sociedade, estudos de biologia, um curso contemporâneo, sobre o que está acontecendo na realidade. É uma aula bem diferente, extrapola o usual”, garante. 

Pai de uma arquiteta e um dentista, perde a conta de quantos físicos incentivou a seguir na pesquisa. Formou seis doutores e 19 mestres. O número de doutores só não é maior por uma limitação do próprio programa – o doutorado em Física existe há menos tempo na Ufba. Enquanto o mestrado data de 1975, o doutorado só foi implementado em 2007. 

“Eu podia me aposentar e ir embora (do Brasil), mas acho que você pode contribuir. Eu poderia estar aposentado há muito tempo na Suécia, porque tudo foi na mesma época. Lá, eles têm uma galeria com fotos dos estudantes que fizeram doutorado: eu fui o número 11. Hoje, tem mais de mil”, diz.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

A média de publicações por ano, conta, até baixou, nos últimos anos. Em alguns,  publica seis, sete artigos científicos, mas, no geral, acredita que a média fique por volta de três. “Tem pesquisa que leva um ano, dois anos para sair alguma coisa. E você é chamado para muitas viagens para o exterior, porque dou muitas palestras”, explica. 

No meio de tudo isso, vieram as dificuldades da Ufba e do próprio CNPq, principalmente no ano passado. A universidade sofre com o contingenciamento do Ministério da Educação (MEC); o CNPq, com recursos que já seriam insuficientes mesmo sem bloqueios orçamentários.

“Esse contingenciamento foi um terror, porque você não tem recurso para nada. Não tem recurso para comprar insumos. Se quebrar um equipamentozinho desse, você não tem dinheiro”, desabafa. 

Foi o que aconteceu há cerca de um mês, quando precisou importar uma peça para o microscópio eletrônico. A única verba que tinha era dele próprio – e foi a que usou.

Interdisciplinar

A quarentena impôs uma rotina de reuniões virtuais – pelo menos, uma vez por semana. Um dos projetos que desenvolveu nesse período foi em conjunto com pesquisadores de um consórcio de universidades da Noruega, da Suécia, da Alemanha, da Austrália e da Suíça justamente para a saúde. 

Uma das vertentes, a partir do trabalho de professores do Hospital das Clínicas da USP, é estudar como fazer um implante de ossos com uma placa e garantir que não haja rejeição. 

“Nesse projeto, está incluso o estudo de toda farmacologia e como nanopartículas podem ser usadas como substância para a cura de tumores. É um projeto bem grande, mas que ainda é sigiloso”, adianta. 

No fim, a Física não poderia estar mais interligada à saúde. O silício, enquanto substância química, é um dos exemplos que ele dá justamente por estar presente em materiais como cerâmicas, telhas e mesmo restaurações odontológicas. 

“O silício pode ser danoso ao corpo humano. Ele não se adapta. Mas, quando você consegue colocar ele em partículas muito pequenas, as nanopartículas, ele já não é mais silício. Ele atua como um material que pode destruir tumores”, explica o professor.

E é através da interdisciplinaridade que é possível chegar a conclusões como essa. O professor, defende, não pode estar focado numa única disciplina. O cientista, por sua vez, deve estar envolvido com pesquisas do mundo – não pode ficar preso. “Por isso, meus projetos têm Física, Química, Biologia, Saúde. Eu me comunico com todos”.

Formação acadêmica, segundo o Lattes

  • 1979 – 1979
    Doutorado em Física – Kyoto University (Japão).
  • 1977 – 1979
    Doutorado em Física – Linkoping University (Suécia)
  • 1972 – 1975
    Mestrado em Física – Unicamp
  • 1982 – 1982
    Aperfeiçoamento em Physics – Brown University (Estados Unidos).
  • 1967 – 1970
    Graduação em Física – Ufba

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