Ciências Humanas – Cérebros da Ufba https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba Conheça alguns dos maiores dos pesquisadores da Bahia Sat, 27 Jun 2020 15:49:43 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.3.17 Pedro Vasconcelos: entrelaçou a geografia com a paixão pela pesquisa nas cidades https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/pedrovasconcelos/ https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/pedrovasconcelos/#respond Thu, 25 Jun 2020 04:10:55 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=2953 Em sua banca para se tornar professor titular na Ufba estava Milton Santos; seleção durou uma semana Não era qualquer banca. Eram nomes como o geógrafo […]

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Em sua banca para se tornar professor titular na Ufba estava Milton Santos; seleção durou uma semana

Não era qualquer banca. Eram nomes como o geógrafo baiano Milton Santos, o pernambucano Manuel Correia de Andrade, o paulista Antonio Christofoletti e o carioca Sylvio Bandeira. Tinha, ainda, o advogado baiano Joaquim Batista Neves – que, hoje, a memória custa a trazer o nome de volta.

Esse foi o grupo que o professor Pedro de Almeida Vasconcelos encontrou, em seu concurso para a cadeira titular de Geografia na Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 1987. “Hoje, estão todos no céu”, diz ele, que foi aprovado depois de uma semana de avaliação. Mas Pedro também era um candidato diferente.

Os concursos para titular, normalmente, são prestados por professores que já fazem parte de uma instituição. São uma espécie de progressão interna da carreira acadêmica. Mas, à época, o professor Pedro não tinha qualquer vínculo formal com a Ufba. Já dono de um PhD concluído na Universidade de Ottawa, no Canadá, fora convidado a dar aulas no mestrado em Arquitetura como colaborador. Fora isso, nunca tinha feito concurso para ensinar ou pesquisar na universidade.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Mesmo assim, decidiu tentar o concurso. Em três meses, escreveu uma tese com 160 páginas comparando o transporte público do Brasil com o canadense. Era uma tese totalmente diferente da que defendera no Canadá, em 1985, que era uma análise histórica sobre a variação espacial de regiões metropolitanas brasileiras, e com pouco mais de 360 laudas.

Milton Santos fora exigente. Manuel Correia, que já o conhecia de Pernambuco, percebeu a ansiedade e chegou a fazer um sinal para que se tranquilizasse. Mas o professor Joaquim Batista Neves, ex-diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, por sua vez, tinha preparado 21 páginas de perguntas sobre a defesa.

“Imagine uma tese feita em três meses. Estava cheia de erro até de digitação, porque naquela época era datilografia. Eles pediam 50 exemplares. Para que 50 exemplares? Acho que era para não ter candidato pobre”, reflete ele, hoje com 72 anos.

O professor de São Paulo não queria aprová-lo. Christofoletti  argumentava que o cargo de titular era o final da carreira de um professor. “Mas, em dez anos, não tinha aberto nenhum concurso. Eu não fiz concurso para ser titular, fiz para entrar na universidade. E entrei pela porta da frente”, defende.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Com uma trajetória bem própria, o professor Pedro se tornou pesquisador do CNPq em 1987. Em 2001, recebeu a mais alta classificação: a de 1A. Hoje, ele é um dos pesquisadores 1A da Ufba.

A covid-19 poderia ter interrompido seu trabalho, mas o que aconteceu foi exatamente o contrário. Com a pandemia e a suspensão de aulas, ele conseguiu acelerar o trabalho de pesquisa. Ao mesmo tempo, porém, se intensificaram as reuniões de colegiado e bancas finais de pós-graduação por videoconferência. 

“Como eu tenho muito material na biblioteca, eu posso trabalhar em casa sem problemas. Pela manhã, trabalho no computador e, à tarde, nas leituras e notas no material. Nos fins de semana, não trabalho no computador e os horários são diferentes para que todos os dias não sejam iguais”, conta.

Aprendizagem

A entrada do professor Pedro na Ufba não foi o único momento em que destoou de outros pesquisadores. Até mesmo o caminho pela ciência foi um tanto dissonante. Natural de Recife (PE), ele cursou Geografia na Universidade Católica de Pernambuco, entre 1966 e 1969. Como muitos colegas da época, um de seus objetivos era se tornar técnico da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). 

Mas não foi o que aconteceu. Assim que se formou, o professor Manuel Correia de Andrade – o mesmo da banca e que tinha sido seu professor durante a graduação – fez um convite. Queria que ele desse aulas em uma disciplina de Geografia no curso de Economia daquela universidade. Foi Manuel quem o incentivou a buscar uma pós-graduação fora do país.

Decidiu entrar em contato diretamente com os consulados da Bélgica e da França para tentar uma bolsa. Escolheu os dois países porque já falava francês. “A França nunca me respondeu, mas a Bélgica disse que eu ia”.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Foi assim que acabou fazendo um mestrado em Urbanismo e Planejamento Territorial. Ao mesmo tempo em que essa oportunidade o levou ao mestrado, também pode tê-lo afastado, inicialmente, da sala de aula. “Eu não tinha moral nenhuma. Tinha aluno que abria o jornal na minha frente. Eu tinha que bater a porta para dizer que o professor chegou. O professor Manuel Correia foi muito gentil, mas não devia ter me convidado”, diz.

Depois de três anos na Bélgica, onde casou e teve um filho, voltou ao Brasil. 

Sem laços profissionais em Recife, escutou o cunhado, um baiano, chamando-o para morar em Salvador. O professor Pedro acabou fazendo a dissertação sobre os preços de terreno na capital baiana com base em anúncios de jornais. Defendeu a dissertação e, em 1973, voltou de vez às terras soteropolitanas.

Logo foi chamado para trabalhar na Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder). Foi estagiário, técnico, assessor e se tornou diretor-superintendente. A vivência como diretor também não agradou.

“Detestei”, diz, categórico.

“Não tenho perfil. Eu sou um estudioso. Não sou um homem de ação, de comandar, dar ordem e tal. Imagine, com essa minha timidez, dar ordem para os colegas?”, argumenta, com o mesmo tom de voz baixo que manteve ao longo de duas horas de entrevista.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Arquitetura

Quase dez anos depois, em 1982, participou de um evento em Campina Grande (PB), representando a Conder. Lá, encontrou um professor canadense que o chamou para fazer doutorado no Canadá. Até então, nunca tinha cogitado a possibilidade.

“Fui fazer o doutorado e adorei. Imagine ser pago para estudar? Aí, voltei para a Geografia. Fiz geografia urbana, para não mudar muito, e fiquei quatro invernos naquele país. O clima também ajuda você a estudar”, brinca.

Ao longo da entrevista, o professor Pedro reforçou algumas vezes: foi apenas no doutorado que aprendeu a pesquisar de verdade. Na Bélgica, durante o mestrado, explica, estava perdido. “Eu era muito jovem. Não sabia nem fazer fichamento direito”.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Depois dos quatro anos com a família no Canadá, voltou a Salvador e à Conder. Um de seus colegas na companhia foi quem fez a ponte para que ele fosse chamado para dar aulas no mestrado em Arquitetura. Na época, não havia programa de pós-graduação em Geografia.  Depois que passou no concurso para titular, passou a dar aulas na graduação em Geografia e continuou associado ao programa de pós-graduação em Arquitetura. Quando a pós-graduação em Geografia foi criada, em 1993, deu aulas nos dois.

Urbanismo

Durante todo esse tempo, a geografia urbana foi sua companheira. A tese do doutorado analisava nove regiões metropolitanas brasileiras e o mercado informal em cada uma delas. Já a tese que fez para concorrer à vaga de professor titular comparava o sistema de transporte do Canadá com o do Brasil.

A cidade, de certa forma, sempre foi o centro de suas pesquisas. “Com o desenvolvimento das novas formas dos aglomerados urbanos, seja através do aparecimento de nebulosas urbanas, seja através do crescimento de aglomerações desmesuradas como Los Angeles, os conceitos de cidade e de urbano estão sendo cada vez mais contestados: é quase impossível constatar onde termina uma grande cidade, e mesmo estabelecer a especificidade do urbano neste final de século, com o desenvolvimento de novas formas de comunicação”, escreveu o professor Pedro, em 2006, em um artigo publicado na revista científica Geousp Espaço e Tempo.

Nos últimos anos, orientou trabalhos que vão desde a formação de cidades baianas como Jequié e Serrinha até o comércio informal na Cidade Baixa, em Salvador.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Porém, ao mesmo tempo, seu trabalho não é apenas sobre o contemporâneo. Alguns de seus livros se debruçam justamente sobre o período da escravidão no Brasil – mas a escravidão urbana, como faz questão de frisar. Nos últimos cinco anos, essa tem sido uma de suas pesquisas principais. Ao fim da vigência da bolsa de produtividade atual, em 2021, ele deve lançar um livro sobre o tema.

Ao contrário da escravidão rural, a urbana oferecia mais alternativas. Os chamados ‘escravos de ganho’ andavam com certa liberdade pelas ruas. Uma vez por semana, davam uma combinação aos seus senhores.

“O resto era deles. Isso era uma contradição do próprio sistema. O escravo não podia ter bens, mas deixava em uma caixinha e normalmente comprava a alforria”, explica o professor Pedro, que também tem estudos sobre escravos libertos, artesãos e os chamados brancos pobres dos períodos colonial e imperial.

A partir da pesquisa sobre a escravidão, ele busca entender a desigualdade social no Brasil.

O trabalho é diferente do conduzido pelos historiadores, como explica. “A gente na Geografia tem um olhar importante porque, por exemplo, os historiadores têm muita dificuldade com mapa, de localizar o intraurbano. E outra coisa é que as relações espaciais são diferentes. A Geografia dá uma contribuição complementar e os temas vão além das disciplinas”, diz.

Um exemplo dessa diferença é justamente os relatos sobre os africanos que chegavam ao Rio de Janeiro e os que chegavam a Salvador. No Rio, cidade portuária que mais recebeu escravos em toda a América, aportavam nativos de países como Angola e o Congo.

Já para Salvador, por outro lado, a maioria dos africanos que chegava era de locais como Benin e onde hoje fica a atual Nigéria. Só que, enquanto o Rio recebia muitos agricultores – em localidades de Angola, por exemplo, já havia ocupação portuguesa -, quem mais vinha para Salvador eram guerreiros. Estados independentes, como a Nigéria, guerreavam com outros. Os perdedores eram mandados para cá – principalmente jejes e nagôs.

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

“Isso virou uma engrenagem comercial. E é delicado porque, sem a colaboração dos africanos, como você encheria um navio com mil pessoas? E outras coisas terríveis. Por exemplo: aqui, um escravo valia cinco vacas. Na África, um cavalo valia dois escravos. Esse é um lado que precisa ser conhecido para não virar folclore. Essa é a história pesada que a gente arrasta”, diz.

Antes do livro sobre escravidão, porém, vai publicar outro. Originalmente, em maio, lançaria O Universo Conceitual de Milton Santos, pela editora CRV com apoio da Ucsal. “Não quero contar a história dele, mas como os conceitos dele foram evoluindo ao longo do tempo”, explica. Porém, a data de lançamento foi adiada devido à pandemia; a nova data ainda será divulgada.

Contribuição

Em 1998, quando se aposentou da Ufba, começou a dar uma disciplina na Universidade Salvador (Unifacs). Logo foi convidado também para ministrar uma matéria na Universidade Católica do Salvador (Ucsal). E permaneceu assim, com os quatro vínculos, até 2003, quando a Ucsal pediu que ele criasse a pós-graduação em Desenvolvimento Territorial, onde ele trabalha até hoje.

“Quando você se aposenta (da Ufba), não pode dar aula na graduação nem se você quiser. E eu gosto de manter o contato com os jovens”, diz. Também sentia que ainda precisava contribuir com a Ufba; assim, nunca se desligou totalmente dela.

“A população brasileira pagou para eu ficar no Canadá, pagou para eu estudar em Paris no pós-doutorado (em 2004, na Sorbonne). Por isso, eu achei que devia continuar contribuindo com a geografia. É uma espécie de retorno que eu trouxe”, explica.

Vasconcelos, Roberto Santos e João Leão: Pedro foi o vencedor da terceira edição do prêmio Roberto Santos de Mérito Científico da Fapesb, em 2017
(Foto: Ufba/Divulgação)

Mas, desde a morte do geógrafo Sylvio Bandeira – que também foi um dos pesquisadores 1A da Ufba e um de seus grandes amigos -, em 2017, decidiu desacelerar. Pediu para reduzir a carga horária na Ucsal de 40 horas para 20 horas. Na Ufba, no ano passado, pediu para sair do quadro de pesquisadores permanentes do programa de pós-graduação em Geografia para ficar com o status de docente colaborador.

Começou a fazer pilates, natação, emagreceu e mudou até a postura.

“Tentei melhorar a cabeça também porque, se eu parar, estudo o tempo todo. Você pode imaginar como a família reclama. Minha mulher fica brava”, admite.

O estudo, de fato, costuma ser colocado em primeiro lugar, entre suas preferências – junto à pesquisa, que considera relacionada. Em seguida, vem o gosto pelo ensino. Só depois, em terceiro lugar, lista as orientações de trabalho – que são tão importantes para os pesquisadores com produtividade 1A. “Porque as cabeças não são iguais”, justifica.

Formação acadêmica, segundo o Lattes:

  • 1982 – 1985
    Doutorado em Geografia – University of Ottawa, Canadá.
  • 1970 – 1973
    Mestrado em Urbanisme Et Aménagement Du Territoire – Université Catholique de Louvain, Bélgica.
  • 1980 – 1980
    Aperfeiçoamento em Planejamento Urbano e Regional – Carleton University, Canadá.
  • 1966 – 1969
    Graduação em Geografia – Universidade Católica de Pernambuco.

Produtividade em números

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Antonio Virgílio Bastos: o pesquisador da Psicologia que estuda o significado do trabalho https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/antoniovirgiliobittencourtbastos/ Thu, 25 Jun 2020 04:05:00 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=2745 Neto, sobrinho e filho de professoras, ele andava em salas de aula desde que tinha um ano de idade Desde cedo, os caminhos do professor Antonio […]

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Neto, sobrinho e filho de professoras, ele andava em salas de aula desde que tinha um ano de idade

Desde cedo, os caminhos do professor Antonio Virgílio Bittencourt Bastos pareciam estar, de alguma forma, ligados à sala de aula. Neto, sobrinho e filho de professoras de Ensino Fundamental, chegou a morar em um colégio. Na época, quando a mãe era chamada para dar aulas em cidades como Ubatã, Barra do Choça e a própria Ipiaú, onde nasceu, era comum que os colégios tivessem apartamentos para os docentes. 

“As professoras eram muito disputadas no interior. Com um ano e pouco, eu já vivia em ambientes de escolas. Aprendia muitas coisas enquanto minha mãe dava aula e eu ficava escutando”, conta ele, que acredita que a marca familiar influenciou na escolha da carreira.

Isso sem contar o interesse pelas disciplinas da área de Humanas, a exemplo de Sociologia e Filosofia, logo no primeiro ano do Ensino Médio. Quando decidiu estudar Psicologia na Universidade Federal da Bahia (Ufba), o curso estava no começo. Entrou em 1971 – a graduação foi criada apenas três anos antes, em 1968. 

Aposentado desde 2018, ele continua dando aulas na pós-graduação
(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Na época, o professor Antonio Virgílio nem mesmo sabia, com clareza, o que era ser psicólogo. Por pouco, não fez Administração. Àquela altura, porém, era difícil imaginar que, anos mais tarde, seria um dos pesquisadores com produtividade 1A no CNPq na mesma Ufba onde se formou e onde logo se tornaria professor. Pesquisadores 1A são aqueles que estão no nível mais alto da pesquisa científica no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

“No fundo, eu já tinha a ideia de que a minha carreira era para ser professor, pesquisador. Nunca me dediquei a ser psicólogo, nunca atuei como psicólogo. Fiz meu curso e já fui monitor, trabalhei com professores e, assim que terminei, entrei no mestrado em Educação”, lembra ele, hoje com 65 anos. Ao mesmo tempo em que entrava no mestrado, também se tornou professor colaborador da Ufba. 

Para estudar

Aos 10 anos, o pequeno Antonio Virgílio foi morar em um pensionato. Por razões políticas, a mãe foi retirada da direção de um colégio onde trabalhava. Enquanto isso, ele foi morar a 20 quilômetros da escola inicial, no pensionato. 

Aos 14, novamente, foi viver em uma pensão de um conhecido da família: dessa vez, em Salvador, para estudar no Colégio Antônio Vieira. Foi quando se encantou pelas Ciências Humanas e onde, pouco depois, optou pela Psicologia no vestibular. Na época, o curso de Psicologia era tão novo que algumas disciplinas nem tinham professores aqui; os docentes precisavam vir de fora, de estados como São Paulo. 

As primeiras experiências foram no campo da psicologia experimental e da análise de comportamento, enquanto trabalhava como monitor em um laboratório. “Eram as disciplinas com ratinhos. E também tive uma professora que ensinava teorias da personalidade. Como não existia bolsa de iniciação científica, todo o nosso trabalho era voluntário”. 

Formou tão rápido que, em pouco tempo já era docente colaborador da Ufba. Aos 22 ou 23 anos – difícil dizer ao certo –, chegou a dar aulas para alguns de seus próprios colegas que porventura tivessem atrasado algo do curso. 

Com um mestrado em Educação, logo assumiu a disciplina de metodologia de pesquisa. De certa forma, a Psicologia vinha sempre alinhada à área educacional, principalmente a alfabetização e, de forma mais específica, à formação do psicólogo. 

“Sempre trabalhei formando pesquisadores. Minha dissertação de mestrado já foi um trabalho sobre isso, sobre comunidade científica”, explica. 

Trabalho e relações

Talvez o professor Antonio Virgílio seja um dos que mais se envolveu com a gestão. Na própria Ufba, no começo, trabalhou em um órgão suplementar que coordenava a pesquisa de avaliação da reforma universitária. Já no Instituto de Psicologia (IPS), a gestão começou a aparecer nas investigações científicas. 

Cada vez mais se aproximava da psicologia organizacional do trabalho, com a interface entre sua própria área e a Administração – aquela que quase foi sua escolha, nos tempos de vestibular. O doutorado que fez na Universidade de Brasília (UnB) também foi na área da psicologia organizacional do trabalho. 

O professor é uma das referências em pesquisa sobre psicologia organizacional do trabalho
(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Resultado: quando voltou, além de dar aulas no curso de Psicologia, ensinava no mestrado de Administração. Se dividiu entre as idas à Estrada de São Lázaro, no IPS, e ao Canela, na Escola de Administração, por décadas – até ficar apenas na Psicologia, quando o programa de pós-graduação foi criado. 

Aposentado desde 2018, continua desenvolvendo a pesquisa na pós-graduação. Além disso, ainda ocupa o cargo de superintendente de Avaliação e Desenvolvimento da Ufba – algo que, para ele, une seus maiores interesses: a Psicologia, a Administração e a Educação. 

Mesmo aposentado, não pensa em se afastar da universidade agora. Pode ser até que as coisas mudem no futuro, mas, por ora, não se vê deixando de ser professor e pesquisador. Não quer deixar os alunos. 

 “A gente não imagina a vida sem o trabalho. Termina sendo uma coisa central na vida da gente e é um tipo de trabalho que está associado com satisfação, realização. Não é como você dizer ‘pare aqui’. É um trabalho que faz parte da nossa identidade como pessoa e se dissociar dele não é uma coisa tão simples”, refletiu.

Trabalho e relações

E se tem uma pessoa que entende da relação que as pessoas estabelecem com seu trabalho, é justamente ele. O significado do trabalho é uma das linhas de pesquisa desenvolvidas pelo professor Antonio Virgílio desde o doutorado. Ou seja: estuda o que, para as pessoas, significa trabalhar e quais são os impactos disso tanto no desempenho quanto nas organizações, considerando também as mudanças do mundo produtivo. 

Há, ainda, outras duas linhas de pesquisa: a psicologia organizacional – quem é o psicólogo e os desafios da profissão – e a promoção de rede sociais no trabalho. Aqui, rede social não tem nada a ver com sites como Facebook, Twitter e Instagram, mas com a própria interação humana nos ambientes de trabalho. Ou seja: o que aproxima e o que afasta pessoas, bem como o impacto dessas redes nas organizações. 

Agora, no meio da pandemia, com tanta gente trabalhando em home office, o tema talvez nunca tenha sido tão atual. Ao mesmo tempo, outras tantas pessoas encaram os riscos de trabalhar nos serviços essenciais ou o medo do desemprego. 

“A gente fica à disposição do trabalho e perde a noção do tempo”, diz o professor Antonio, ele próprio alguém que tem trabalhado mais na quarentena. Na conversa mais recente com a reportagem, há pouco mais de uma semana, ele tinha acabado de sair da segunda reunião virtual do dia. Até o fim daquela tarde, teria outros duas videoconferências. 

Assim como todos os pesquisadores – e como a maioria dos profissionais hoje em teletrabalho -, o professor Antonio tem feito tudo que pode. Mas, ao mesmo tempo que tem limitações, sente que está “a todo vapor”. 

“No nosso grupo, isso é um objeto de estudo. Estamos estudando os impactos psicossociais dessas mudanças na nossa rotina de vida. Nós ainda não temos os resultados, mas já estamos com os dados. Vamos começar a analisar, porque é bem qualitativo”, adianta. 

A pesquisa é direcionada à população em geral. Nos últimos meses, quase mil pessoas responderam questionários sobre a rotina. A ideia é tentar entender a situação – que vai deste a luta contra um inimigo invisível até as demandas de trabalho nesse contexto. 

“Você tem duas condições potencializadoras de ansiedade, de medo, de insegurança e incertezas. Às vezes, as pessoas não têm recursos psicológicos. Isso sem falar nas perdas, nas situações de luto que não podem ser vividas plenamente”. 

Situações como a pandemia de covid-19 se tornam fenômenos sociais, justamente por afetar toda a vida das pessoas, segundo o professor Antonio. Daí a importância de investigações nas áreas de humanidades e ciências sociais. Entender o comportamento das pessoas diante da quarentena, por exemplo, pode ser uma tarefa das diferentes áreas das ciências humanas. 

“Isso convoca questões psicológicas, questões sociológicas, questões de vida das pessoas, e a gente vê que a ciência não tem limites. O problema é global e depende de todos os campos científicos para ser compreendido”, defende.

Reflexos nos psicólogos

O professor ainda está envolvido com outra pesquisa diretamente ligada aos efeitos da covid-19. Essa, por outro lado, é vinculada ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) e deve investigar o impacto da pandemia nas condições de trabalho dos psicólogos – desde o modo de trabalhar até os reflexos na vida familiar dos profissionais. 

Não é a primeira vez que ele participa de pesquisas com a entidade profissional. Em 1984, enquanto membro do CFP, coordenou o primeiro grande estudo da Psicologia no Brasil. A partir daí, vieram outras funções como essa. Por anos, foi membro da Comissão de Psicologia do Ministério da Educação (MEC). Lá, integrou a equipe que elaborou a minuta para as novas diretrizes curriculares do curso no país.

Uma de suas pesquisas é sobre as redes de interação no ambiente de trabalho
(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Passou pelo Inep, na avaliação dos cursos de Psicologia no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), e, por ser pesquisador do CNPq, foi presidente do Comitê de Assessoramento da área no órgão. De 2000 para cá, entrou na área de Psicologia da Capes, coordenando o setor de 2011 a 2018 – sem deixar de tocar as próprias pesquisas.   

Para ele, que conheceu a realidade dos órgãos financiadores de pesquisa, o número de pesquisadores 1A em todo o país – inclusive na Ufba – poderia ser maior. 

“O CNPq vem, historicamente, enfrentando dificuldades para as bolsas. Muitas vezes, o professor até tem qualidade para ser 1A, mas fica anos ali por restrições orçamentárias. Agora, o cenário é ainda pior, porque a gente não sabe nem se vai continuar sendo bolsista”, lamentou.

Sua classificação veio entre 2004 e 2005 – quando já tinha deixado a presidência do Comitê de Assessoramento do CNPq. “Eu já era 1B, mas eu não ia me promover”, explicou.

Passando adiante

O professor Antônio Virgílio é casado com uma colega – a também psicóloga Ana Cecília de Sousa Bittencourt Bastos, igualmente professora aposentada do Instituto de Psicologia. Os dois se conheceram ainda na graduação e fizeram o doutorado juntos, em Brasília, quando o primeiro filho do casal tinha dois anos.

“Já temos 42 anos de casados e convivíamos muito no dia a dia, mas a gente nunca trouxe as coisas do trabalho para casa. Nunca sentimos que essa proximidade fosse um problema, tipo trazer tensões ou brigas. Eu com minha história, ela com a dela. Ela tem outras habilidades que eu não tenho”, disse.

O filho é arquiteto, mas a filha seguiu os passos dos pais. Formou-se psicóloga, fez mestrado e doutorado na Ufba. Mas, professora da Universidade Católica do Salvador (UcSal), encontrou outros rumos de pesquisa, a exemplo do luto.

Na família do professor Virgílio, são três psicólogos: além dele, a esposa, Ana Cecília, também professora da Ufba, e a filha
(Foto: Marina Silva/CORREIO)

“Influenciei bastante gente a seguir na pesquisa. Já formei uma geração bem grande de orientandos que estão na Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), na Universidade de São Paulo (USP), em Feira de Santana, alguns na própria Ufba. No ano passado, teve um concurso para a minha vaga – que eu não participei da banca – mas quem passou foi uma ex-orientanda minha”, conta.

Fora da universidade, gosta de curtir a vida familiar – inclusive os quatro netos (três meninas e um menino). Fora isso, gosta de caminhar. Era a sua atividade física principal, antes da quarentena. É nesses momentos que sai para pensar e elaborar, enquanto escuta música.

Sua playlist tem mais de três mil músicas. “Em geral, são músicas mais antigas. Tem internacionais, mas também da Jovem Guarda, Chico (Buarque), Milton (Nascimento), Gal (Costa), Caetano (Veloso)… Os clássicos todos, músicas que marcaram minha adolescência”, contou. 

Só não tem hábito de assistir televisão. Acredita que acompanhar a TV acaba sendo uma fonte de adoecimento para seu corpo. Crítico do enquadramento dos meios de comunicação, prefere se informar por portais e sites de jornais. Nos últimos tempos, porém, aumentaram os convites para assistir algo na Netflix. 

“Minha mulher adora séries, vive chamando. Volta e meia assisto, mas eu mesmo nem sei entrar nessa Netflix”, brincou. Mas não pense que ele é avesso a redes sociais e novas tecnologias: no Whatsapp, participa de vários grupos sobre trabalho e política; no Twitter, também acompanha a política. 

Só no Instagram, avisa, quase não entra. Não posta fotos pessoais, nem fotos suas. Prefere deixar para compartilhar imagens interessantes, geralmente registradas em viagens. 

(Foto: Marina Silva/CORREIO)

Depois que teve um câncer de próstata, queria diminuir o ritmo. Foi quando saiu da Capes. No entanto, acabou se envolvendo com mais um projeto: anos depois de ter sido membro do CFP, participou da chapa que venceu as eleições da entidade, em agosto deste ano.

“Foi com medo dessa chapa que nós organizamos uma frente em defesa da Psicologia e da diversidade humana, porque a Psicologia está sendo fortemente atacada”, explicou, referindo-se a uma chapa que tinha lideranças que defendia a “cura gay” e ficou em último lugar. Mesmo assim, ele não vai assumir cargos na diretoria.

“A essa altura da vida, não sou tão maluco de ter mais uma coisa”, disse, aos risos. 

Formação acadêmica, segundo o Lattes

  • 1989 – 1994
    Doutorado em Psicologia – Universidade de Brasília (UnB)
  • 1979 – 1982
    Mestrado em Educação – Universidade Federal da Bahia (Ufba).
  • 1972 – 1976
    Graduação em Psicologia – Universidade Federal da Bahia (Ufba)

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João José Reis: o pesquisador da escravidão que é um dos maiores escritores do Brasil https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/joaojosereis/ https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/joaojosereis/#respond Thu, 25 Jun 2020 04:00:00 +0000 https://especiais.correio24horas.com.br/ocerebrodaufba/?p=2682 Pesquisador 1A do CNPq e professor da Ufba, ele investiga movimentos sociais e resistência escrava Ao receber um dos mais importantes prêmios literários brasileiros, o professor […]

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Pesquisador 1A do CNPq e professor da Ufba, ele investiga movimentos sociais e resistência escrava

Ao receber um dos mais importantes prêmios literários brasileiros, o professor João José Reis avisou: seus livros, artigos e capítulos eram escritos com paixão pelos temas que tratavam. Não prometia a objetividade perfeita, mas dizia não permitir que suas inclinações ideológicas pautassem as interpretações sobre o que escrevia

“História panfletária, nem pensar! Me curvo às evidências que brotam dos arquivos e elas não cessam de surpreender com um universo muito mais complexo do que caberia numa explanação fácil e porventura maniqueísta, que divida o mundo entre o herói e o bandido”, disse, na cerimônia de entrega do Prêmio Machado de Assis, em 2017, ao ser homenageado pelo conjunto da obra. 

Só para dar uma ideia, desde 1941, nomes como Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Guimarães Rosa e Cecília Meireles já receberam o prêmio. Mas esse reconhecimento tem sido constante: aos 68 anos, o professor João Reis ganhou outras tantas honrarias, ao longo da vida.

(Foto: Natália Reis/Divulgação)

O alcance é mundial: além de ser considerado um dos maiores historiadores do Brasil, é referência internacional nos estudos sobre escravidão, resistência escrava, movimentos sociais e história atlântica. 

Assim, não poderia ser diferente: ele é um dos pesquisadores com produtividade em pesquisa 1A pelo CNPq na Universidade Federal da Bahia (Ufba), onde começou a ensinar em 1979, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH).

“Meu interesse pela pesquisa veio na universidade, antes não imaginava que me tornaria pesquisador. Talvez um pouco no último ano do Ensino Médio, mas não fazia a mínima ideia do que era pesquisa histórica”, contou, em entrevista ao CORREIO. Ele preferiu responder por email.

Ele dá créditos às universidades onde estudou: “A Ufba, onde estudei Ciências Sociais, e a Ucsal (Universidade Católica do Salvador), onde estudei História, me deram régua e compasso para prosseguir estudando e pesquisando na pós-graduação”.

Pesquisa 

Na entrevista, o professor João Reis foi sucinto. Não quer dizer que não tenha uma trajetória longa. Pelo contrário: se alguém for imprimir seu currículo Lattes, por exemplo, vai ter que se preparar para uma sequência de 25 folhas. Só entre livros completos publicados ou organizados, são 16 listados na página online, publicados desde 1983.

Em agosto do ano passado, lançou mais um livro – Ganhadores: a greve negra de 1857 na Bahia, publicado pela Companhia das Letras. Na obra, o professor conta a história dos negros de ganho (como eram chamados aqueles que repassavam seus ganhos aos seus proprietários) que protagonizaram o episódio de uma greve que paralisou o transporte de Salvador em 1857.

Capítulos de livro, por outro lado, são pelo menos 58. Para ele, parece ser natural. Mesmo sem vir de uma família de pesquisadores, diz não ter sido desestimulado a seguir a carreira acadêmica em nenhum momento da vida. “Vira vício”, explica ele, que nasceu em Salvador.

(Foto: Nós Transatlânticos/Divulgação)

O mestrado e o doutorado vieram ainda entre a segunda metade da década de 1970 e o início dos anos 1980 – os dois em História, na University of Minnesota System, nos Estados Unidos, com bolsas da Fundação Ford. Após completar os créditos e a qualificação para o doutorado, mas antes mesmo de concluir a tese, tornou-se professor da Ufba.

Na universidade, conta ter sido bem recebido tanto por alunos quanto por colegas. Mesmo assim, sentiu dificuldade, no início. Na época, as diferenças entre um ambiente de pesquisa e outro eram mais acentuadas.

“Naturalmente, é um choque quando se chega de uma universidade cheia de recursos como a que frequentei nos EUA e encontra as condições precárias de nossas universidades. Na época era especialmente chocante a pobreza das nossas bibliotecas, por exemplo. Hoje estamos melhor, mas ainda longe dos melhores padrões internacionais. Se investe pouco em educação e pesquisa no Brasil, menos ainda agora”, diz.  

Hoje, alguns de seus principais estudos são sobre a sociedade, a cultura e a resistência da Bahia ao longo do século 19. Há desde a pesquisa sobre a sociedade a partir das tensões e conflitos sociais, bem como as dimensões culturais, até a investigação sobre os movimentos sociais. Nesse aspecto, estão incluídas as revoltas e fugas de pessoas escravizadas, relações escravistas e biografias de escravos africanos.

Importância

O professor João José não lembra, ao certo, quando se tornou pesquisador 1A – talvez tenha sido há uns 20 anos, depois de passar por todos os níveis de classificação. No entanto, ele explica, na prática, o significado do auxílio: vai desde recurso para viagens de pesquisa, participação de congressos até compra de livros e equipamentos. 

“Essas possibilidades turbinam a pesquisa científica, naturalmente”, reflete.

(Foto: Almiro Lopes/CORREIO)

Ressalta, porém, que a investigação científica não é exclusiva dos bolsistas em produtividade. “Significa que a Ufba tem pesquisadores bem avaliados pela comunidade científica nacional. Mas não são apenas bolsistas do CNPq, de qualquer nível, que fazem pesquisa”.

Ao longo da trajetória acadêmica, formou quase 30 mestres e pelo menos sete doutores, de acordo com o seu Lattes. O número deve aumentar: há outros três futuros mestres e quatro doutorandos sendo orientados.

Preferiu não entrar em detalhes sobre quantos pesquisadores tinha incentivado a seguir a carreira. “Quanto a influenciar outras pessoas, creio que sim, é a sina do professor, não?”, respondeu. 

O momento, porém, o preocupa. Os seguidos cortes e contingenciamentos nas agências de fomento, como o próprio CNPq, e nas universidades, não representam um futuro animador.

Acredita que será “um desastre” para a ciência brasileira – sobretudo com a suspensão de bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Para ele, o impacto negativo nas Ciências Humanas deve ser maior para os jovens pesquisadores.

“Não vejo com muito otimismo nosso futuro do Brasil enquanto nação produtora de ciência. Estamos dando para trás depois de quase 20 anos de bons ventos. Caminhamos para nos tornamos um país colonizado pela ciência alheia”, lamenta.

Formação acadêmica, segundo o Lattes

  • 1978 – 1982
    Doutorado em História – University of Minnesota System, UMN, Estados Unidos.
  • 1975 – 1977
    Mestrado em História – University of Minnesota System, UMN, Estados Unidos.
  • 1971 – interrompida
    Graduação interrompida em 1975 em Ciências Sociais – Universidade Federal da Bahia.
  • 1971 – 1974
    Graduação em História – Universidade Católica do Salvador.

O post João José Reis: o pesquisador da escravidão que é um dos maiores escritores do Brasil apareceu primeiro em Cérebros da Ufba.

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