Claustro onde Dulce viveu como noviça hoje é depósito em convento de Sergipe

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Por Jorge Gauthier (jorge.souza@redebahia.com.br)

O sino de ferro, datado de 1831, permanece em uma das torres do Convento do Carmo da cidade de São Cristóvão em Sergipe. Foi nesse sino, que hoje toca duas por semana, que Dulce cumpriu suas primeiras obrigações religiosas como noviça. Ela ingressou, em 8 de fevereiro de 1932, na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus junto com outras nove religiosas. Era sua obrigação diária badalar o sino para anunciar a chegada do novo dia.

Passados 86 anos desde que Dulce deixou o convento, todas as áreas internas que ela dividia com as nove noviças permanecem quase inalteradas. O claustro - o quarto onde vivia - atualmente abriga um depósito usado pelos freis carmelitas enclausurados, que ainda vivem no local em votos de silêncio. O CORREIO recebeu uma autorização especial da Arquidiocese de Sergipe para mostrar onde Dulce dormiu enquanto era noviça.

O espaço - um vão com chão de madeira com 50 metros de comprimento e quatro de largura - não tinha paredes. As camas das freiras eram separadas apenas por cortinas. O corredor tem ainda cinco janelas voltadas para o pátio e sete que ficam ao lado da Igreja do Carmo. Ao final do quarto, ficava o sino tocado por Dulce.

Hoje, o local guarda algumas imagens religiosas a exemplo do Sagrado Coração de Jesus, cadeiras e lastros de camas. O antigo claustro das freiras fica na ala oposta aos quartos dos freis que vivem no local em voto de silêncio - por conta disso o acesso ao espaço é totalmente restrito.

O Convento e Igreja do Carmo foram construídos pelos freis carmelitas e fundados em 1699. Foi justamente na Igreja do Nosso Senhor do Passos da Ordem Terceira do Carmo, sob o olhar atento de uma imagem de aproximadamente 1,2 m de Santo Antônio, datada do século XVII, que a jovem Maria Rita Lopes Pontes tornou-se freira e passou a se chamar Dulce em homenagem à sua mãe que morreu quando ela ainda tinha 7 anos.

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(Foto: Yuri Rosat/CORREIO)

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(Foto: Yuri Rosat/CORREIO)

Do período que viveu no convento - cerca de um ano quando professou os votos religiosos de pobreza, castidade e obediência, Dulce aguardava ansiosa pelos dias de domingo. Eram nesses momentos que ela e as outras noviças ficavam à beira do quintal carregado de frutas e fazendo orações na gruta dedicada à Nossa Senhora de Lourdes, cravada na pedra ao fundo do convento.

“Ela gostava muito de ficar aos domingos na gruta e também comendo frutas que caíam dos pés. Ela gostava muito de comer manga, caju, goiaba e jambo”, conta o frei João Marcos, noviço carmelita que é um dos responsáveis pelo convento atualmente.

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Ela gostava muito de ficar aos domingos na gruta e também comendo frutas que caíam dos pés. Ela gostava muito de comer manga, caju, goiaba e jambo

frei João Marcos, noviço carmelita que é um dos responsáveis pelo convento atualmente

Quando chegou no convento, no dia 9 de março de 1933, a jovem Maria Rita carregava consigo uma boneca - Celica - e também o passado de uma menina de família rica. Tudo isso ficou em Salvador, onde nasceu. “A lembrança mais remota de Maria Rita foi a imensa alegria demonstrada quando ela chegou. Trago muito forte em mim a lembrança do espírito de fraternismo e de serviço que ela tinha. No convento, ela sempre procurava fazer os trabalhos mais humildes”, contou a Irmã Maria das Neves, já falecida, em depoimento registrado na sala memorial do convento. Maria das Neves foi uma das nove companheiras de Dulce no noviciato até ela regressar para Salvador e dar início ao seu trabalho de evangelização e assistência social.

O convento recebeu diversas proponentes à freiras até o ano de 2003. Desde então, é a casa de freis carmelitas que fazem votos de silêncio. Nos próximos meses, esse silêncio será compartilhado com fiéis de todo Brasil. Atualmente, o espaço só tem uma relíquia de primeiro grau (um fragmento do osso de Dulce) e algumas fotos em um improvisado memorial.

A Arquidiocese de Sergipe, as Obras Sociais de Irmã Dulce (Osid) e a prefeitura de São Cristóvão pretendem criar uma rota turística na cidade indicando os pontos onde Dulce passou, mostrando as áreas do convento.

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Irmã Maria das Neves passou a maior parte de sua vida em Surubim (Foto: Reprodução/ Facebook)

“Pretendemos implantar o roteiro turístico religioso com memorial de Irmã Dulce, loja de artigos religiosos, visita guiada ao convento que a primeira santa brasileira frequentou e reconstrução dos sete passos de Dulce ao chegar no Centro Histórico da nossa cidade que é a quarta mais antiga do Brasil e tem amplo acervo arquitetônico”, explica o prefeito Marcos Antonio de Azevedo Santana (MDB).

  • 1910

    A Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus foi criada em Santarém, no Pará, em 1910.
  • 1933

    Dulce ingressou na congregação em 1933. Hoje, a congregação está em mais de 20 países.

O projeto Pelos Olhos de Dulce tem o oferecimento do jornal CORREIO e patrocínio do Hapvida