Foto: Arisson Marinho / CORREIO

“Falar dela não me machuca. Doer, não dói mais. A ferida cicatrizou, mas a lembrança dela não tem como tirar. Até eu morrer, vai continuar. Tenho cinco filhos. É como se fossem meus cinco dedos. Um quebrou”.

Carmen Andrade, 56 anos, mãe de Midiã Andrade, uma das sete vítimas da tragédia da Fonte Nova
 
Por Editoria de Esporte

Uma das maiores tragédias do futebol brasileiro completa 10 anos. Foi em 25 de novembro de 2007, precisamente às 17h47, que sete torcedores do Bahia morreram após parte da arquibancada superior da Fonte Nova desabar durante a partida contra o Vila Nova, pela Série C. E nesses dez anos, uma das raras homenagens feitas às vítimas foi o tradicional minuto de silêncio.

Dez anos depois, quase tudo mudou. Para desgosto de alguns sobreviventes da queda e familiares dos falecidos, o único punido foi o estádio, implodido em 29 de agosto de 2010. Não houve condenados na esfera criminal: apontado por muitos deles como culpado, o ex-jogador e atual deputado estadual Bobô, na época diretor geral da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb) - autarquia do governo do estado que administrava a Fonte Nova -, foi absolvido da acusação de homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Assim como o ex-diretor de operações da Sudesb, Nilo dos Santos Júnior.

O episódio não só retirou a vida de Márcia Santos Cruz, Jadson Celestino Araújo Silva, Milena Vasques Palmeira, Djalma Lima Santos, Anísio Marques Neto, Midiã Andrade Santos e Joselito Lima Júnior, todos com idade entre 24 e 31 anos. A tragédia, ocorrida menos de um mês depois do anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, impactou diretamente na construção da Arena Fonte Nova e no esporte de Salvador, que ficou sem ginásio durante sete anos e sem piscina olímpica por nove em consequência do vazio deixado pela antiga casa do Bahia e dos tricolores. O estádio de Pituaçu, reformado para abrigar o time, o ginásio de Cajazeiras, construído como substituto do Balbininho, e o Centro Olímpico de Natação, no Bonocô, ocupando a lacuna da extinta Vila Olímpica, são exemplos de que os bens materiais se recuperam, ainda que demande tempo e cerca de R$ 1,7 bilhão.

Difícil é mensurar o impacto na vida da dona de casa Carmen Andrade, 56 anos, e de sua neta Karen, 15, que perderam a filha e a mãe naquele dia em que a festa pelo acesso do Bahia à Série B se transformou em luto. Hoje, as duas carregam Midiã na memória. Elas e outros familiares das vítimas, além de dois sobreviventes, contam histórias de sofrimento e superação na reportagem a seguir. O CORREIO localizou as casas onde moram parentes dos primos Jadson e Joselito, mas os familiares teriam viajado. A família de Márcia não foi localizada. Patrícia, que além de perder a irmã Milena sobreviveu à queda, enviou um depoimento explicando por que ainda não consegue falar sobre o assunto.