Passeios pela gastronomia do Litoral Norte, de Jauá a Itacimirim

Linda Bezerra – @linda_bezerra

Olhando assim, só pela janela ou retrovisor do carro, não dá para imaginar onde tem comida boa na orla de Camaçari. É preciso vencer a ansiedade e a fome (caso esteja demais) e garimpar com paciência. Muitas vezes, perguntar a um e a outro para descobrir bons guisados e cozinheiras de mão cheia.

Foi assim que chegamos em Dona Zezé, responsável por um tal mocotó, em Jauá, praia de miscelâneas musicais e muvuca na areia. “Tem gente que passa mal de tanto comer”, alertou logo a garçonete Elizete Souza, 28 – do restaurante vizinho. São 10h da manhã e é necessário ter coragem. O pirão, sem uma pelota de farinha, é tentador.
O pé do boi, super limpo, é escaldado e depois temperado com manjericão, hortelã e quioiô, folha perfumada que ajuda na digestão. Ainda bem, porque diante da fama do prato… Só o cheiro já inebria. Zezé diz que não bota uma gota de óleo. Mas a receita está cheia de carne de salpresa e calabresa. Sem mais delongas, caio de boca. O suor desce na hora. O mesmo acontece com todos os que provam o prato, servido durante o dia inteiro.


Mocotó – Delicioso, receita herdada da mãe, hoje com 84 anos, o prato é servido por Zezé, na Rua Direta de Jauá, pertinho da Praia. Porção individual (R$ 20)

Alta estação
De volta ao asfalto, o calor só ameniza na entrada arborizada de Arembepe. Na praça central, um anfitrião de peso, o velho pescador apelidado de Isqueiro, fala com eloquência de sua moqueca de arraia desfiada com camarão. “Faço peixe com perfeição”, argumenta, sem modéstia. Mais adiante, outra tradição, o Restaurante da Coló, uma senhora que cozinhava para funcionários da antiga Tibrás, nos anos 1960.

Nas paredes, fotos de casas de adobe nos transportam para a antiga Aldeia Hippie, sucursal dos ‘malucos’ que pipocaram pelo mundo naqueles tempos de conquistas e liberdades. A leveza do Mar Aberto, com clima mediterrâneo e gaivotas no teto, seduz. João Sá, um dos donos, oferece um risoto de camarão ao vinho branco. Cremosíssimo e suave, é um bom parceiro para a brisa do mar que nos abraça no salão.


Risoto – Com 33 anos, o Restaurante Mar Aberto reina em longevidade na orla de Camaçari. Largo de São Francisco, 43, Arembepe. Telefone: 71 3624-1257

Ainda em Arembepe, as geleias da alemã Claudia Kusch, na Pousada Alfazema: jabuticaba, carambola com anis estrelado, e a de gengibre, limão e manga. Restauradora de tecidos raros pelo mundo, inclusive no Vaticano, em Roma, transformou em lembranças as pinceladas de Michelangelo da Capela Sistina, que viu de perto, e se entregou aos tons do mar baiano. O café, sob encomenda, é feito na cafeteira moka italiana, e acompanhado de iogurte com kefir (bactéria saudável), banana-da-terra assada com canela e nibs de cacau, bolos, cuscuz, pães caseiros. Requinte é pouco…


Geleias – Um dos itens do rico café de Cláudia Kusch, feito sob ecomenda, na Pousada Alfazema, em Arembepe (R$ 25 por pessoa). Praça das Amendoeiras, 1. Telefone: 71 98705-7738

Receita reforçada
“Os meninos queriam algo que turbinasse o teor afrodisíaco do polvo, aí eu lasquei ovo de codorna” explica cheia de graça, Jajá, 65, cozinheira dos ‘barões’ de Sergipe, artistas da axé, políticos e aventureiros de jet skis que cruzam o encontro de três rios, ao lado do restaurante dela, em Barra do Jacuípe. O Polvo Cipueiro, assim batizado por Durval Lelys em letra de música, virou atração. Os leais costumam degustar a iguaria, de segunda a quinta, quando a balbúrdia é bem menor. Sábado e domingo tem jeitão de feira, ela mesmo concorda. Oásis mesmo é o Empório Jacuípe, uma parada para wi-fi livre, uso de banheiros limpos e para se deliciar com as sobremesas do pernambucano Patrício Oliveira: petit gâteau com chocolate belga e suflê de goiabada com queijo. O espaço multiuso é bom para comprar e apreciar coisas belas antes de seguir na estrada: luminárias, mesas, cadeiras e santos.


Polvo – O Restaurante de Jajá fica bem na curva do encontro de rios, em Barra de Jauípe. Receita famosa, o tira-gosto rende para duas pessoas (R$ 74). Telefone: 71 3678-3647


Suflê de Goiabada – Sobremesas encantadoras, wi-fi, compras. Empório Jacuípe, BA-099, 10. Telefone: 71 3678-1402

Do clima charmoso ao Shopping Guarajuba, que exibe quiosques com Coxa Coxinha, beijus e o Magnífico de Morango, sabor de sorvete imperdível da Doce Gelato. Ao entrar na vila, todo mundo indica a pizzaria La Cantina, na beira do rio, antes de chegar ao mar.


Magnífico de Morango – Um refresco para o sol a pino do Litoral Norte, no meio do roteiro, de Jauá a Itacimirim. Dos deuses. Guarajuba Shopping, Rodovia BA-099, Km 42,5 – Monte Gordo. Telefone: 71 3248-7400

Só belezas
Na parada final, fronteira com Mata de São João, o prato mais surpreendente do roteiro: Arrastão, do restaurante O Pescador, em Itacimirim. Se prepare: mariscos grelhados na chapa e até um meninico de lula recheada com siri catado, criação exclusiva do casal Luciano e Roberta. Ele escolhe com expertise os pescados e ela comanda o fogão. A maciez do polvo, o camarão graúdo, a lagosta… Tudo com legumes (poderiam ser mais crocantes), batata Bétha, (invenção da chef), arroz soltinho e temperado. Eita! Quem procura acha.


Arrastão – Prato de mariscos na chapa, o polvo é fermentado vagarosamente no fogo a lenha. Rende duas fartas porções (R$ 211). Restaurante O Pescador, Rua 9, Praia de Itacimirim. Telefone: 71 99676-2676

 

 

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