Laurinha, 2 anos: maconha contra microcefalia

Paciente com câncer produz óleo de cannabis em Salvador
março 3, 2016

A esperança em um frasquinho Pais de menina de 2 anos pagam R$2,5 mil para importar 150 ml do óleo da maconha. “Chorei de felicidade. Ela é outra criança”

Eis que Laurinha veio ao mundo e, no primeiro dia de vida, teve convulsões. No segundo dia, também. No terceiro, a mesma coisa. A microcefalia causada pelo vírus da zika trouxe muitas complicações neurológicas para a pequena. Ao nascer, enfrentou um mês de internamento antes de sair do hospital. "Os médicos não davam muita esperança. Diziam que, a qualquer momento, ela poderia não resistir". Laurinha aguentou firme. Finalmente, pôde ir para casa. Era só a primeira etapa vencida.

Logo passou a tomar muitas medicações, a maioria anticonvulsivos. Mas as crises persistiam. Foram quase dois anos suportando fortes espasmos. Pouco antes, quando Laurinha estava com um ano e 10 meses de vida, a neuropediatra, pela primeira vez, falou em utilizar a maconha medicinal. “Na verdade, eu que falei com ela. Pesquisei na Internet e vi no CBD uma esperança”, revela a vendedora Suzana Ribeiro Santana, mãe de Laurinha.

“A médica queria tentar todas as possibilidades antes. Até porque a burocracia é grande e o CBD é muito caro. Quando nenhum outro remédio deu resultado, ela decidiu prescrever”, afirma Suzana. Foram mais de R$2,5 mil gastos na primeira importação. Os cinco frascos de 30 ml de CBD devem durar dois meses e meio. “A verdade é que a gente não tem condição de comprar. Metemos as caras mesmo. Mas será que vamos conseguir comprar da próxima vez? É o que a gente se pergunta”, diz Suzana.
“Tínhamos um carro de 40 mil, vendemos e compramos um de 20, tivemos q usar toda nossa poupança. Aqui em Salvador fiquei até março sem emprego, sendo que tivemos que largar tudo lá e vir pra Salvador”, lembra o analista de logística Luciano Bertolussi. Quando os frascos chegaram e, em poucos dias, Laurinha deixou de convulsionar com frequência, a família vibrou. “Muita esperança dentro de um vidrinho. Eu até chorei. Foram os dias mais felizes da minha vida. Não há nada pior do que você ver sua filha convulsionando e não poder fazer nada”, lembra a mãe.

Os resultados são muito bons, apesar de o produto não ser específico para Laurinha. “Esse é um CBD fraco. Ela precisava de algo mais forte. Mesmo assim, a melhora é clara. Melhoraram bastante as crises e o cognitivo evoluiu demais”. Laurinha toma 0,75ml de CBD de doze em doze horas. Dos seis medicamentos que chegou a tomar, (Gardenal, Depakene, Depakote, Frisium, Keppra e Sabril), quatro foram retirados. Restam apenas Keppra e Sabril, além do CBD.

O diagnóstico de microcefalia em Laurinha veio no oitavo mês de gestação. Os pais moravam no interior, em Paulo Afonso. Dois dias depois do diagnóstico, eles já estavam em Salvador em busca do melhor tratamento para o desenvolvimento da filha.

Hoje moram no bairro de Águas Claras. A vendedora Suzana largou o emprego e dedica 24 horas do dia à menina. Laurinha cresce cercada de cuidados e carinho. Mas, agora, a esperança se renovou. E tem nome: cannabis

Com a Associação Cannab monitorando de perto a procedência e a fabricação do óleo, a família de Laurinha espera que a menina ganhe muito em qualidade de vida. “Agora o nosso desafio é encontrar a dosagem certa. Na verdade, nem sabemos se esse é o CBD mais adequado para ela. Por isso, essa associação é uma esperança enorme para muita gente”. Diz Suzana. “A gente não vê relatos de males que a cannabis tenha causado. A gente só vê benefícios. Então nossa luta é que acabe com esse preconceito”.