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Por Padre Maurício da Silva Ferreira*
Na década de 1960, no contexto do pós-guerra, quando o mundo ainda se reconstruía, o Papa São João XXIII convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II que, por muitos motivos, tornou-se um marco na vida da Igreja: a reforma litúrgica, a redescoberta da vocação batismal e a reflexão sobre a sua natureza e missão evidenciam a postura de aproximação e diálogo assumidas pela Igreja frente à sociedade moderna.
O Concílio Vaticano II favoreceu a redescoberta de elementos e traços importantes da Igreja Primitiva, como por exemplo, o conceito de santidade que repropôs a si e a toda sociedade: a santidade não teria a ver apenas com um especialíssimo dom de Deus concedido a um restrito rol de pessoas privilegiadas, nem com o heroísmo pessoal destas; a santidade está relacionada à vivência da radicalidade do Evangelho nas coisas cotidianas e triviais: tem a ver com a capacidade de viver com extraordinariedade as coisas do dia-a-dia. Por isso, a Igreja compreende que toda ela e cada um de seus membros são vocacionados à santidade.
Irmã Dulce, primeira santa baiana que foi canonizada neste domingo (13), assimilou este conceito: entendeu que a vivência do evangelho estava relacionada com aspectos muito concretos da vida, como a proximidade e o comprometimento com os doentes, pobres, os prediletos de Deus.
Tal qual vemos na parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37), compreendeu que santidade tinha a ver com não ser apressada ou indiferente frente a quem está caído à “beira do caminho”: é preciso parar, limpar e tratar as feridas, derramando sobre estas o vinho do amor que é capaz de cauterizar, aliviar a dor e restabelecer a saúde.
A Santa dos Pobres começou a sua obra invadindo cinco casas na Ilha dos Ratos e, em seguida, ocupando um galinheiro, situado ao lado do Convento Santo Antônio, onde acolhia os seus doentes, que veio a se tornar o Hospital Santo Antônio, sinal de que o amor ao próximo é uma força criativa, capaz de edificar a partir de bases muito modestas.
A presença de Santa Dulce dos Pobres, a visita e a amizade de figuras como São João Paulo II e Santa Madre Tereza de Calcutá tornam a Cidade Baixa um território especial, um terreno povoado por santos e santas que nos ensinam, com o seu testemunho, que santidade tem a ver com ser inteiramente de Deus, em favor de cada homem e de cada mulher.
*Padre Maurício da Silva Ferreira é reitor da Universidade Católica do Salvador (Ucsal)
O projeto Pelos Olhos de Dulce tem o oferecimento do jornal CORREIO e patrocínio do Hapvida