Um dia, um amigo do professor Albino Rubim lhe disse algo que o fez tomar uma decisão. O amigo, que tinha sido docente na área da Saúde, comunicou que tinha solicitado a aposentadoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Vou me aposentar para fazer o que gosto na universidade”, afirmou o cidadão, cuja identidade não nos foi revelada.
Naquele mesmo dia, Albino resolveu se aposentar da Ufba, em 2013.
“Quando você está aposentado, você não pode ocupar cargo e você diminui imensamente o número de reuniões que tem que ir. Então, pode se dedicar às coisas interessantes da universidade: formar pessoas, pesquisar, escrever seus textos”, explicou.
Mesmo assim, ele não parou de produzir. Sequer reduziu o ritmo. Continuou pesquisador do CNPq e seguiu ensinando na Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (Poscult) da instituição. Em algum momento do ano passado, chegou a impressionantes 15 orientações em andamento ao mesmo tempo (atualmente, são oito).
Não é à toa que foi, por quase duas décadas, um dos pesquisadores da Ufba com produtividade 1A pelo CNPq. “O pessoal acha que aposentado não faz nada, mas faz coisas diferentes”, ponderou.
Na quarentena, porém, ele avalia que o trabalho foi afetado. “Claro que a quarentena afeta o ritmo de trabalho, pois temos que assumir tarefas domésticas e as reuniões ficam prejudicadas. Podemos apenas fazer reuniões virtuais”.
Desde o dia 1º de março de 2020, ele tem a classificação de pesquisador sênior no CNPq. Criada em 2005, essa bolsa tem o objetivo de reconhecer a contribuição dos cientistas em suas respectivas áreas de conhecimento e é destinada aqueles que foram 1B ou 1A – caso dele – por pelo menos 15 anos. Como o professor Albino integrava o grupo de pesquisadores durante boa parte do tempo de produção deste especial, continua fazendo parte desta seleção.
Aos 66 anos, Albino Rubim deve ter feito quase tudo na Ufba. Ensinou e pesquisou na Faculdade de Comunicação (Facom), onde encarou três mandatos como diretor. Lá, ajudou a fundar o Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (o PósCom), que também coordenou.
Até que, na gestão do ex-reitor Naomar de Almeida Filho, foi convidado para capitanear o processo de criação do Instituto de Humanidade, Artes e Cultura (Ihac), em 2008.
Pode dizer, inclusive, que participou ativamente da implantação dos revolucionários Bacharelados Interdisciplinares (BIs) – na época, o conceito era algo relativamente novo no Brasil. Encontrou tempo até para ser secretário estadual de Cultura por quatro anos, entre 2011 e 2014, no segundo mandato do ex-governador Jaques Wagner (PT).
Apesar de tanto trabalho administrativo – que tende a tomar muito tempo –, o professor Albino ainda conseguiu se tornar um dos maiores pesquisadores da área de políticas culturais do país.
No entanto, o caminho poderia ter sido outro. Em uma breve olhada em seu currículo, uma coisa chama atenção. Em 1972, ingressou na faculdade em dois cursos: em Comunicação, na Ufba, e em Medicina, na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
A indecisão comum aos adolescentes, na hora de escolher o curso no vestibular, acabou levando-o a dois cursos com grande carga de leitura. Mesmo assim, completou as duas graduações no tempo previsto (Jornalismo em 1975; Medicina em 1977).
“Fiz jornalismo porque eu gostava muito de ler e escrever e fiz Medicina porque queria fazer psicanálise. Não tinha nada em vista para ser pesquisador”, afirmou.
Naquele contexto, inclusive, poucos professores se dedicavam à pesquisa na antiga Escola de Biblioteconomia e Comunicação (a precursora da Facom).
O contato com o professor Othon Jambeiro foi decisivo para que as expectativas do jovem Albino mudassem. Assim que terminou o curso de Comunicação, teve a oportunidade de fazer mestrado em Ciências Sociais. Na época, não era comum que estudantes da área de Humanas fizessem mestrado. Em sua turma de formandos em Jornalismo, foi o único. Com um detalhe: ele ainda cursava Medicina.
“Quando fiz o mestrado, comecei a vislumbrar a ideia de ser um pesquisador. Fiz uma dissertação sobre indústria cultural e fui chamado para dar aula na Facom como temporário. Mas fiz uma proposta para a Fundação Ford, que financiava projetos de pesquisa e acabou dando certo. Foi o primeiro projeto que estive à frente”, lembrou. O trabalho era sobre movimentos sociais e a imprensa dos trabalhadores.
Enquanto isso, a rotina com a Medicina ia ficando para trás. Na Psicanálise e na Psiquiatria, era atraído pela relação entre o social e o natural. Mas foi justamente a aproximação com a área que tanto gostava que selou a escolha pela Comunicação.
A decisão final veio quando trabalhou no antigo Centro de Saúde Mental Mário Leal (hoje Hospital Especializado Mário Leal), no IAPI. Ali, atendia, principalmente, a população mais vulnerável. Um caso, em particular, o marcou: o de uma senhora negra, pobre, que trabalhava como lavadeira e tinha sete filhos e filhas.
Na casa de um único cômodo, sofria violência doméstica do marido alcoolista e desempregado. Ali, viu o quanto a própria situação era hostil à saúde mental da paciente. Sentiu-se impotente.
“Você recupera essa pessoa, tira da crise e ela vai para a mesma situação, só que fragilizada, porque já teve uma crise. Eu não queria fazer psicanálise de pessoas mais ricas, mas também não queria isso porque era muito dramático. Você precisa ter uma estrutura psíquica forte para suportar dores tão intensas”, analisou.
Por outro lado, era um momento em que a área de Comunicação quase não tinha projetos no CNPq – ou em nenhum outro órgão de financiamento. Depois do doutorado em Sociologia na Universidade de São Paulo (USP), o professor Albino retornou à Ufba para ajudar a fundar o Póscom.
Por 10 anos, dedicou-se aos estudos da Comunicação Política. Era uma área nova. Crescia o interesse, principalmente porque o Brasil vivia sua primeira eleição direta para presidente após a ditadura militar.
Depois de alguns anos, decidiu mudar de campo. Escutou e driblou a surpresa de alguns colegas. “Como você vai sair dessa área agora que já é conhecido?”, diziam, referindo-se à Comunicação Política. Ali, já recebia citações nacionais e internacionais, mas os interesses tinham mudado. Tinha se voltado para as políticas culturais.
“Política cultural é uma coisa relativamente recente na história da humanidade. E eu queria ver como o estado assumiu essa responsabilidade, porque existe o direito à cultura, assim como existem os direitos à saúde, à educação”, pontuou.
A mudança coincidiu justamente com a ida de Gilberto Gil para o agora extinto Ministério da Cultura, em 2003. Segundo o professor, foi quando houve uma mudança de paradigmas na forma como se abordava a cultura: por muito tempo, o Brasil, assim como outros países, trabalhou a ideia de uma identidade cultural.
Com Gil, a visão era de que o país era diverso culturalmente e precisava de políticas que priorizassem essa diversidade. Para um pesquisador da área de cultura, era um prato cheio. “Eu disse: quero estudar essa gestão, essas políticas. Existem programas do governo da gestão Gil que estão em 15 países do mundo. Não são cópias literais, mas têm inspiração”.
De lá para cá, a rotina do professor Albino não mudou. Seguiu por projetos que iam desde a baianidade até o financiamento e fomento à cultura pelos estados e distritos brasileiros. Só não lembra, ao certo, a data em que se tornou 1A. Explica: a memória é “meio ruim”. Mas, garante, está tudo no Lattes. Se tem uma coisa que aprendeu é que todo pesquisador deve manter seu Currículo Lattes ‘atualizadíssimo’.
Sabe que fez todo o caminho. “Mas se você está numa carreira e aquilo te interessa, te importa muito, você quer chegar ao máximo daquilo ali. Não é que a intenção fosse essa, mas tem aquela ambição de chegar onde se pode chegar”, refletiu.
Outro dia, fez uma conta: já orientou mais de 150 pessoas, na vida, em todos os níveis de conhecimento. Só doutores foram 18. Os doutores, inclusive, estão pelas universidades. Na Facom, viraram professores nomes como o atual vice-diretor, Leonardo Costa, e Renata Rocha. Entre os grandes jornalistas que passaram por ele, nomes como Bob Fernandes, Leandro Fortes e Cláudio Leal.
Pai de dois filhos e avô de um neto de 10 anos, o professor Albino diz que nunca se arrependeu da escolha da carreira. Hoje, se vê como um privilegiado. Pode não ser rico, mas faz o que gosta e tem vocação. Sabe que é a realidade de poucos.
Entre uma viagem e outra a lugares pouco óbvios – no ano passado, foi à Eslovênia com a esposa, por exemplo – ainda pretende fazer muita coisa. Depois de passar um mês na Universidade do Equador, como professor visitante, por exemplo, ficou interessado em escrever sobre políticas culturais naquele país.
As viagens sempre rendem inspiração. Há três anos, foi conhecer o Dia dos Mortos, comemorado no México. “Parei uma série de coisas que estava pesquisando para escrever um artigo sobre isso, que é culturalmente excepcional. Tem essa coisa de ir para os lugares, ficar atento e escrever sobre. Projetos não faltam”, garantiu.
bancas de trabalhos de conclusão de curso de graduação
orientações de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs)
monografias de especialização orientadas
livros publicados/organizados ou edições
mestres orientados
doutores orientados
orientações de iniciação científica
artigos completos publicados em periódicos
capítulos de livros publicados
participações em bancas de mestrado
resumos publicados em anais de congressos
apresentações de trabalho
qualificações de mestrado
bancas de professor titular
bancas de concurso público
trabalhos completos publicados em anais de congressos
orientações de doutorado em andamento
orientações de mestrado em andamento
participações em bancas de doutorado
qualificações de doutorado
banca de livre docência