Baiana Irmã Dulce é oficializada como a primeira santa brasileira

Documentário: Pelos Olhos de Dulce
janeiro 31, 2020

Gigante da fé Tudo o que aconteceu na canonização da Santa Dulce

Por Jorge Gauthier (jorge.souza@redebahia.com.br), do Vaticano

O voo rasteiro de duas pombas cinzas em direção ao céu precederam o momento que entrou na história. Quando o relógio marcou 10h33 (horário de Roma; 5h33 no Brasil), em latim com sotaque argentino, o papa Francisco colocou o nome de Irmã Dulce para sempre na história da Igreja Católica. Foi nesse instante que no dia 13 de outubro, sob o sol de 21 graus na capital do menor país do mundo, para 50 mil pessoas na Praça de São Pedro que o papa sacramentou a santidade de Maria Rita Brito Souza Lopes Pontes (1912-1992), agora a Santa Dulce dos Pobres.

Dulce entra no panteão dos mais de 8 mil santos da Igreja Católica, mas com uma diferença: é a primeira santa nascida no Brasil como bem classificou o papa ao encontrar, horas antes da cerimônia de canonização, a irmã da santa, Ana Maria Lopes Pontes e sua sobrinha, Maria Rita Lopes Pontes, que é a atual superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).

“Tivemos um encontro com ele muito rápido. Durou uns 5 segundos, mas quando ele viu a imagem de Irmã Dulce que trouxemos para presentear ele junto com um terço ele falou ‘a primeira santa brasileira’. Foi rápido, mas ele sintetizou esse momento em essas poucas palavras. Irmã Dulce era uma freira franzina e frágil, mas que foi forte na sua luta pelo bem. Santa Dulce se tornou uma gigante da fé. Um exemplo que agora pode ser seguido pelo mundo todo”, emocionou-se Maria Rita que foi responsável pela condução do processo de canonização da tia nos últimos 19 anos.

Irmã Dulce era uma freira franzina e frágil, mas que foi forte na sua luta pelo bem. Santa Dulce se tornou uma gigante da fé. Um exemplo que agora pode ser seguido pelo mundo todo

Maria Rita Lopes Pontes, atual superintendente das Osid

O secretário de turismo de Salvador, Cláudio Tinoco, indica que além do Caminho da Fé, outras ações também foram realizadas pela Prefeitura para atrair mais turistas que vêm para a cidade com a motivação religiosa, como a requalificação da Colina Sagrada, do Terreiro de Jesus e do centro cultural do Gantois.

A canonização de Irmã Dulce com certeza é um pontapé inicial para que mais ações nessa área sejam realizadas

Cláudio Tinoco, secretário de turismo de Salvador

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Totens vão contar a história de Irmã Dulce (Foto: Divulgação FMLF)

“Acredito que nós ainda precisamos explorar muito a área do turismo religioso em Salvador, que é uma cidade tão rica nesse sentido, com suas mais de 365 igrejas e toda sua história com religiões de matrizes africanas e judaicas. A canonização de Irmã Dulce com certeza é um pontapé inicial para que mais ações nessa área sejam realizadas”, destaca Tinoco lembrando ainda que há conversas para que haja uma ampliação das áreas da cidade onde o turista pode ver os passos de Dulce.

“Não há nada ainda estruturado oficialmente que não seja o Santuário e o Memorial. Mas existem muitas conversas sobre a possível estruturação tendo em vista o potencial que esses lugares têm”, afirma.

(Foto: Divulgação)

O governador do estado, Rui Costa, acredita que com a canonização de Irmã Dulce haverá um reforço no turismo religioso. “Hoje recebemos muitos turistas que vêm conhecer nossas igrejas, a exemplo da Igreja do Senhor do Bonfim, não apenas pelo patrimônio arquitetônico e valor cultural, mas pela religiosidade. Agora, com a primeira santa brasileira, teremos um grande fluxo de turismo. A canonização vai repercutir em toda a cadeia econômica do turismo no estado, que já tem destinos bastante consolidados também no interior, a exemplo de Bom Jesus da Lapa. Na Cidade Baixa, nós temos feito obras que visam integrar o Largo de Roma, abraçando as Obras Sociais Irmã Dulce. Estamos investindo em toda a Cidade Baixa para melhorar a infraestrutura da região, inclusive teremos agora o VLT [Veículo Leve de Transporte], que passará pela Calçada e, quem sabe um dia, chegará até o Bonfim", avaliou o gestor estadual.

Mesmo antes da cerimônia de canonização, ocorrida ontem, o impulso do turismo já pôde ser percebido. O Memorial Irmã Dulce, que compõe o complexo da Osid no Largo de Roma, somente em agosto recebeu mais de 12 mil visitantes. Esse número é mais que o triplo do resultado de agosto do ano passado. O ano de 2018 todo foram 64 mil visitantes, segundo dados da Osid.

“Teremos, com certeza, um incremento na visitação do santuário de Irmã Dulce e do Caminho da Fé, no Bonfim. Esse olhar para Salvador movimentará as mais de 370 e tantas igrejas que a cidade possui”, afirmou o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA), Silvio Pessoa.

A canonização vai repercutir em toda a cadeia econômica do turismo no estado, que já tem destinos bastante consolidados também no interior, a exemplo de Bom Jesus da Lapa

Rui Costa, governador da Bahia

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Em obras, santuário reabre as portas ainda este ano (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO)

O presidente do Salvador Destination, Roberto Duran, acredita que o setor ganhará impulso com o fato de Dulce se tornar santa. “Exemplos semelhantes aconteceram em outros lugares do mundo. Foi assim que aconteceu com Lourdes, Fátima, Lapa e é assim que acontece com esses roteiros voltados para o turismo religioso".

Fausto Franco, secretário de turismo do estado, destacou que a Bahia já tem uma vocação para o turismo religioso, com municípios já consolidados neste segmento que será impulsionado com a canonização de Dulce.

“É um turismo diferenciado, que não se pauta pelas estações do ano, os fiéis viajam em qualquer época. Neste sentido, a canonização de Irmã Dulce vai potencializar ainda mais essa vocação. O estado está fazendo obras de infraestrutura no entorno do Santuário de Irmã Dulce e divulgando em eventos da área de turismo”, afirmou o secretário destacando que está sendo impulsionado o roteiro da fé saindo da igreja da Conceição da Praia, passando pelo Santuário de Irmã Dulce, igreja do Bonfim, Paróquia Nossa Senhora dos Alagados e São João Paulo II até chegar ao Mosteiro de Coutos.

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Devoção por Dulce deve impulsionar o turismo (Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO)

Distante 310 km de Salvador, a cidade de São Cristóvão, em Sergipe, espera também receber muitos devotos. Lá está o Convento do Carmo, onde Dulce seus primeiros passos na vida religiosa nos anos 1930.

“São Cristóvão já tem uma tradição religiosa muito forte. Por sermos a quarta cidade mais antiga do País, temos um acervo arquitetônico rico, o qual inclui igrejas com traços barrocos. A canonização de Irmã Dulce fortalece nosso perfil para turismo religioso. A história e trajetória dela são muito fortes no município. Acreditamos que podemos atrair turistas de todo o País interessados em conhecer onde ela iniciou a vida religiosa, como vivia, o local que estudava e dormia, por exemplo, o caminho que fez ao desembarcar na cidade”, afirma o prefeito Marcos Antonio de Azevedo Santana.

No convento já há um memorial que está sendo ampliado e será integrado na cidade. “ Pretendemos implantar o roteiro turístico religioso com memorial de Irmã Dulce, loja de artigos religiosos, visita guiada ao convento que a primeira santa brasileira frequentou e reconstrução dos sete passos de Dulce ao chegar no Centro Histórico da cidade. Para isso, técnicos de turismo da Prefeitura têm negociado com a Cúria Metropolitana de Aracaju, com os frades Carmelitas e com a Organização Sociais de Irmã Dulce, em Salvador”, diz o prefeito.

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Convento do Carmo, em São Cristóvão (SE) , foi onde Dulce se ordenou freira (Foto: Divulgação)

São Cristóvão já tem uma tradição religiosa muito forte. A canonização de Irmã Dulce fortalece nosso perfil para turismo religioso

Marcos Antonio de Azevedo Santana, prefeito do município

O projeto Pelos Olhos de Dulce tem o oferecimento do jornal CORREIO e patrocínio do Hapvida