Uma das primeiras coisas que mudou para Hwynatã Pataxó é que tiveram que colocar um cadeado na frente da aldeia por causa da pandemia. Hywnatã vive com a família na aldeia Novos Guerreiros, em Porto Seguro, Sul da Bahia.
Quando os casos estavam crescendo, os adultos decidiram fechar a comunidade para que pessoas de fora não entrassem lá levando o coronavírus.
Na aldeia, moram 200 famílias indígenas. Mas Hywnatã tem parentes morando em outras aldeias, como Barra Velha e Boca da Mata, que também ficam em Porto Seguro. Com a covid-19, ele não podia mais visitá-los.
“Não podia mais ver minha família, nem brincar com meus amigos. Tinha que ficar em casa”, diz ele, que tem 8 anos e mora com os pais e a irmã de um ano e meio.
Em toda a Bahia, existem quase 12 mil crianças que são indígenas como Hywnatã. Mas esse número pode ser ainda maior, porque é do último censo, de 2010, ou seja, da última vez em que as autoridades contaram a quantidade de pessoas que vivem no Brasil.
Antes do coronavírus, Hywnatã ia à escola municipal em Nova Coroa, em Porto Seguro. Ele está no 2º ano e sua matéria preferida é Matemática. Mas agora ele não está tendo aulas.
No tempo livre, ele gostava de correr, brincar de arco e flecha ou de tacape. “Tacape é uma coisa que a gente pega na mão e joga lá embaixo. Ele tem que cair de pé”, explica Hywnatã.
O tacape é feito com um pedaço de madeira e é muito comum entre os povos indígenas. Além de servir para algumas brincadeiras, ele pode ser usado tanto como uma arma em uma luta quanto em rituais.
“Eu já ouvi falar que o coronavírus mata, que a gente não pode sair e que tem até gente passando mal dentro de casa, até morrendo dentro de casa”, diz.
Mesmo assim, Hywnatã tem “mais ou menos” medo da doença. Nas poucas vezes em que saiu da aldeia nos últimos meses, sempre com máscara, a mãe não deixava ele encostar em pessoas.
“Tenho imunidade baixa”, explica. Hywnatã é o que os médicos chamam de transplantado hepático. Ou seja, significa que o fígado com o qual ele nasceu não funcionava como deveria e ele fez uma cirurgia para receber um novo. Por isso, ao longo da vida, ele tem que tomar alguns cuidados extras com a sua saúde.
Se Hywnatã pudesse, ele cuidaria até da saúde de mais gente. Pelo menos, tentando acabar com o coronavírus.
“Eu enfrentaria o vírus mandando ele de volta para onde ele veio. Ia pegar meu tacape e bater nele até ir embora e não voltar”, diz.
Desenho
O CORREIO pediu que Hywnatã fizesse um desenho mostrando o que ele pensa e sabe sobre a pandemia. Ele desenhou a si mesmo protegendo sua aldeia da covid-19.
O futuro
Hywnatã acredita que quando a pandemia acabar, todos vão ficar felizes e a terra onde ele mora será demarcada.
A demarcação de terras é quando o governo indica exatamente que parte de um terreno pertence aos indígenas. Para eles, isso é muito importante para proteger as aldeias.
Ele também gravou um vídeo contando como acredita que será o futuro quando tudo passar.
Assista:
*No início do vídeo, Hywnatã fala algumas palavras no idioma patxohã. Ele diz: “Kaupetõ kortú mé’à Hywnatã Pataxó”, que significa “Meu nome é Hwynatã Pataxó”.