Cecília Vitória Cerqueira tem 9 anos e não está assustada com o coronavírus. Mesmo não sabendo muito sobre a doença, ela não deixa de tomar cuidado. “Eu não senti medo, não. Eu uso máscara, passo álcool gel na mão”, diz. Já ouviu falar da covid-19 nos jornais.
“Vi que todo mundo está se contaminando, que tem muita gente doente”.
Ela se mudou com a mãe para uma chácara em Feira de Santana, no início da pandemia. Foram passar esse tempo com a família lá. Mas Cecília nasceu em Salvador e sempre morou em Simões Filho, na Região Metropolitana.
Cecília era o que os médicos chamam de prematura extrema – ou seja, ela nasceu com apenas seis meses. Enquanto isso, a maioria das crianças fica na barriga da mãe até mais ou menos nove meses. Mas como não foi assim com Cecília, significa que o corpo dela ainda não estava totalmente preparado e funciona de uma maneira diferente. Por isso, desde quando era pequena, vivia indo de uma cidade até a outra, porque era em Salvador que fazia os tratamentos.
Por ter ficado menos tempo na barriga de sua mãe, Cecília tem algumas deficiências, o que quer dizer que o corpo dela tem algumas dificuldades. Ela já teve paralisia cerebral, que é uma doença no cérebro que pode fazer com que as crianças não consigam andar. O cérebro é a parte do corpo que faz a gente andar, enxergar, conversar. É por isso que Cecília tem uma cadeira de rodas.
A rotina de Cecília era intensa. De manhã, ela estudava no grupo 2 da Escola Municipal Professora Juciete Souza, em Simões Filho, e à tarde fazia sessões de fono, hidroterapia e fisioterapia na Apae Salvador. Uma vez por semana, ia também ao Instituto dos Cegos.
São essas atividades que fazem com que ela seja mais ativa. Mas a covid-19 fez tudo isso parar.
“Parei de ir para terapia, de ir para escola. Parei tudo”, conta Cecília.
No início, ela ficou muito curiosa, porque parou de ir à escola e só ficava em casa. Só então ela percebeu que tudo era por causa de um vírus que estava deixando todo mundo doente.
“Antes eu também ficava brincando de boneca e gosto de ficar deitada, fazer vídeo, brincar de slime com a vizinha”, conta Cecília, que assiste vídeos das bonecas Baby Alive, de receitas e da cantora Marília Mendonça no YouTube.
“Mas não tenho mais visto minhas amigas”, diz.
Com 1,48m de altura, ela nunca andou sozinha, mas graças aos exercícios do tratamento, conseguia ficar em pé e até se apoiar em alguns lugares. Só que, agora, Cecília não consegue mais ficar de pé e nem sua mãe consegue mais carregá-la. Mas ela não perde a esperança.
Desenho
Sabe como a gente tem certeza disso? Porque Cecília decidiu mostrar a todo mundo que é otimista. O CORREIO pediu que ela fizesse um desenho para representar o que ela sabe e pensa sobre a pandemia. Ela aprendeu a desenhar no Instituto dos Cegos usando materiais de alto relevo.
Cecília desenhou um coração com papel picado e cola para simbolizar o amor. “Esse vírus é feio, mas não vai destruir as pessoas. Não vai destruir o amor”, afirma.
O futuro
Quando passar a pandemia, ela já tem planos.
“Minha vida vai ser sair, ir para fora, poder encontrar as pessoas”, conta.
Ela também gravou um vídeo dizendo como ela acredita que será o futuro quando tudo passar, após a pandemia. “Acho que as pessoas vão se cuidar, vão ter mais atenção, mais higiene, vão ser mais solidárias”.
Assista: