Ana, a irmã da santa Dulce: ‘Ela vivia em função dos pobres’

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Por Jorge Gauthier (jorge.souza@redebahia.com.br)

Dulce tossia copiosamente. Curvava-se sob seu próprio corpo em lágrimas profundas de tristeza. “Pensei que ela não fosse sair viva dali. Foi o dia mais triste da vida dela. Ela era muito ligada ao nosso pai. Ela dizia que esse tinha sido o dia mais triste de todos. Irmã Dulce era muito inteligente, mas meu pai era o cérebro que a ajudava”, relembra a assistente social aposentada Ana Maria da Silva Carneiro Lopes Pontes, 79 anos, única irmã viva de Dulce sobre o dia 26 de fevereiro de 1976, quando faleceu de causas naturais Augusto Lopes Pontes.

Irmã Dulce e o pai, Augusto Lopes Pontes (Foto: Osid/Divulgação)

Quando Ana Maria nasceu, Dulce já era adulta. Tinha 26 anos e já estava no auge do projeto de Círculo Operário da Bahia (COB). “Me lembro quando era mocinha das alegrias que ela e meu pai contavam das conquistas do COB. O Brasil estava numa situação financeira difícil naquela época e ela apostou em cursos profissionalizantes de mulheres para poder melhorar a vida das famílias mais pobres. O trabalho dela sempre foi de vanguarda”, recorda Ana, que foi assistente social da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), mas atuou 25 anos cedida para as Osid. Inclusive, quando Dulce ficou doente, Ana tinha uma procuração da freira para participar de reuniões administrativas com governos.

Aninha, como Dulce carinhosamente chamava a irmã, acredita que a vida da irmã foi uma oração por 24 horas diárias. “Ela passava os dias em função de Deus. Nos dois bolsos do hábito dela, por exemplo, ela tinha vários terços baratinhos. Para qualquer pessoa que ela encontrasse, ia entregando. Ela pedia a outras freiras para comprar esses terços para espalhar a fé em Maria, mãe de Jesus”, diz Ana.

A mãe de Ana Maria, Alice da Silva Carneiro, quando casou-se com o pai de Dulce, passou a ter cinco filhos – inclusive Irmã Dulce. “Minha mãe gerenciou a casa com um silêncio que era fantástico. Ela não era de gritar. As crianças tinham um bom comportamento. Só Geraldo que era mais espoleta. Quando Irmã Dulce já era freira, ele vivia levantando a saia do hábito dela e dizendo que ela era só pele e osso para fazer graça”, ri Ana, lembrando que eram poucos os momentos de convivência com a irmã. 

“Dificilmente, conseguimos passar as datas comemorativas de família com Irmã Dulce. Ela vivia em função dos pobres dela. Ela estava a serviço de Deus e dos pobres. No aniversário dela, nós íamos para lá. Meu filho, que é afilhado dela, nasceu no mesmo dia dela. Foi uma alegria muito grande ter a dádiva dele nascer no mesmo dia dela. Esse título de ter um filho que nasceu no mesmo dia de Dulce é até mais forte para mim do que o de irmã. É uma conexão muito forte para mim”, orgulha-se Ana Maria. 

Irmã Dulce tinha uma forte ligação com Dulcinha, sua irmã do primeiro casamento do pai. Mas também tinha com outra irmã chamada Terezinha que morreu aos 12 anos. “Irmã Dulce chamava ela de santinha. Todo mundo achava que ela também seria freira. Quando Irmã Dulce foi pro convento, Terezinha pediu para ir na mala com ela para o convento”, diz ela, lembrando de um mantra da família até hoje: “Nossa família está sempre a serviço de Deus e de Irmã Dulce”.

Irmã Dulce e Dulcinha (Foto: Osid/Divulgação)

O projeto Pelos Olhos de Dulce tem o oferecimento do jornal CORREIO e patrocínio do Hapvida