CONHEÇA O TESOURO SECRETO DA CHAPADA

Lugar de descoberta das primeiras pedras preciosas no século 19 ainda guarda tesouros

Por Linda Bezerra e Wladmir Pinheiro
linda.bezerra@redebahia.com.br
wladmir.lima@redebahia.com.br

É provável que Mucugê não seja um dos primeiros destinos quando se pensa em Chapada Diamantina. Cidades vizinhas têm cachoeiras maiores, rios mais caudalosos ou são mais fáceis de chegar. Tudo isso é verdade. Mucugê é uma cidade de afetos. De simpatia contida, mas genuína. Do riso franco dos moradores e das casas que se enfeitam no São João. Aliás, como não simpatizar com uma cidade que se embeleza para receber quem mora e quem só está ali de passagem? Sem exageros nem afetações. Distante duas horas de carro de Lençóis, Mucugê tem nas ruas de pedra e nos casarões antigos a história da exploração do minério da Chapada. Mas ali se percebe que alguém, há muito tempo, decidiu que o melhor mesmo era aquietar e pousar. Ir mais além para quê? A cidade não quer ser um desses umbigos do mundo. O turismo é mais discreto, mas reserva boas surpresas. A Cachoeira Tiburtino tem trilha leve. A água fria e escura, característica da região, assusta aqueles de ‘couro’ mais sensível. Ao final, é possível mergulhar em cachoeiras quase exclusivas. Logo você estará compartilhando fotos nas redes sociais sem parar. Surpreso, vai receber de amigos dezenas de dicas do que fazer e visitar. Os lugares que você acabou de descobrir e se encantar já fez feliz muita gente antes. Aceite. Mucugê precisa mesmo ser compartilhada.

O centro de Mucugê é cheio de casinhas coloridas (Foto: Shutterstock)

 

O cemitério bizantino de Mucugê. (Foto: Shutterstock)

PARA PRESERVAR

Bizantino
O cemitério Santa Izabel surpreende por seu estilo bizantino. Ele se eleva das pedras e cresce para o alto na montanha. Observa o movimento da cidade como se sinalizasse que não há motivo para tanta pressa. As construções brancas têm formato de pequenas igrejas e contrastam com a permanência das rochas escuras da Serra do Sincorá. Ambas decidiram que ficarão ali pra sempre. De graça.

Guia
Sujeito calmo, Luis Ribeiro, da Império Turismo, pode guiar a um dos passeios mais interessantes, o roteiro das 7 quedas, às margens do Rio Cumbucas. São 11 km, ida e volta, ou 7 km, fazendo um trecho de carro. Passeio especial com montanhas, vales, cachoeiras, cânions, mirantes, orquídeas e garimpos desativados. Até quatro pessoas, custa R$ 140. Para grupos acima de cinco pessoas, custa R$ 35 cada. Telefone: 75 98215-1069.

Sempre-Viva
A flora da Chapada se mostra em exuberância em Mucugê. É possível visitar o Projeto Sempre-Viva, que tem foco na educação para preservação do lugar. De lá, dá pra ir para Tiburtino. Telefone: 75 3338-2156

Igreja de Santa Izabel em Mucugê – (Foto: Shutterstock)

A MELHOR COMIDA

Afeto
Seria um pecado mortal não comer em Dona Nena. Senhora de quase 80 anos, ela se dedica à comida desde a hora que levanta, às 5h da manhã, e pode ir até a hora que dorme, às 23h30. Por isso, não faz culinária caseira, simplesmente. Usa o tempero do afeto. É do tipo que nos transporta para os bolinhos de chuva da infância. No fogão a lenha da casa, no centro de sua sala – o mesmo espaço onde filhos e netos almoçam – panelas de barro fumegantes exalam cheiro de costela de porco, cortadinho de palma, sarapatel, godó de banana verde, da carne do sol mais macia do mundo, feijoada, galinha caipira e de um torresmo dourado que torna evidente o acento mineiro. Em conservas, pimentas coloridas adornam as mesas; cachos de frutas, o balcão. – Quer mais minha fiiinha? Não raro, Dona Nena sai fazendo essa pergunta tentadora ao freguês, invertendo a lógica do lucro, para (quase) desespero das filhas, que cobram na balança R$ 45 pelo quilo. E quem é capaz de dispensar um ovo frito na manteiga numa dessas ofertas espontâneas e gratuitas? Há muita fome para saciar, afinal: a do corpo, após extensas trilhas, e a do espírito.

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