Por Alexandre Lyrio e Luã Souza

Anderson x Adson

Como Anderson, o Espinha, assaltante de carros-fortes e líder do tráfico de drogas no Rio, conseguiu enganar a Justiça, a polícia e a OAB da Bahia para se tornar o doutor Adson, advogado, empresário e pai de família em Salvador.

Não bastava prendê-lo. Era preciso expor a sua cicatriz.
- Tira a camisa, porra!
O que se vê é um traficante de drogas perigoso, preso, acuado. A vingança no semblante e a marca do ferimento cortando verticalmente seu abdômen em forma de vértebra de peixe. Quase 20 anos depois, não bastava o sorriso! Era preciso usar beca. Em vez da agressividade policial, palavras elogiosas e cheias de admiração.
- Você é o cara!
O que se vê é um aluno brilhante, formando do curso de Direito, futuro advogado. Era dia da foto oficial. Sim, não parece, mas estamos falando da mesma pessoa. Duas faces de um mesmo homem. O primeiro, Anderson Luiz Moreira da Costa. O segundo, Adson Moreira de Menezes. Durante 16 anos, Anderson foi Adson. Deixou para trás o passado de crimes, que lhe deu a alcunha de Espinha por conta da cicatriz, e se tornou um homem sem antecedentes. Traficante de drogas, latrocida e assaltante de carros-fortes no Rio de Janeiro, fugiu para Salvador e viveu não só outra personalidade, mas uma nova

vida. Virou estudante de Direito da Faculdade 2 de Julho, dono de um restaurante no Pelourinho, advogado e pai de família. Claro, para viver o outro lado da mesma moeda que se tornou sua existência, forjou documentos, escondeu o passado dos colegas e, quem sabe, ludibriou a própria família. No dia 30 de julho, Anderson/Adson acabou preso na porta do seu estabelecimento, no Centro Histórico, e foi levado de volta para o Rio. Deixou aqui sua esposa grávida e sua mãe, com quem administrava o restaurante.

Diante dessa história enigmática, entre setembro e outubro, o CORREIO decidiu investigar a trajetória desse homem de duas vidas e de muitos adjetivos, seja para o bem ou para o mal. Daqui para frente, você escolhe qual história vai ler primeiro: se a do traficante perigoso, latrocida e assaltante no Rio de Janeiro ou a do estudante de Direito tranquilo e prestativo, advogado, empresário e pai de família. Em seguida, poderá conhecer detalhes sobre o momento da sua prisão, quando Adson encontra novamente Anderson.

23/09/1970

Anderson Luiz Moreira da Costa

Na noite de 12 de dezembro do ano 2000, na BR-101, principal rodovia que corta o estado do Rio de Janeiro, um bando de 15 assaltantes aborda um carro-forte em um trecho entre Campos dos Goytacazes e Macaé, no Norte Fluminense. Dividida em dois caminhões roubados, a quadrilha porta escopetas e fuzis.

Conheça Anderson
07/07/1971

Adson Moreira de Menezes

Em uma noite qualquer do primeiro semestre do ano de 2005, Adson Moreira de Menezes chega esbaforido na Faculdade Dois de Julho, bairro do Garcia, em Salvador. Vinha do Centro Histórico, onde havia deixado os mantimentos para o restaurante que administrava com a mãe.

Conheça Adson

a partir daqui

AS HISTÓRIAS SE CRUZAM

No dia 30 de agosto deste ano, em uma tarde de segunda-feira, eis que Adson, preso no Pelourinho, voltou a ser Anderson

Adson x Anderson