Na casa de Davi Lessa dos Santos, a preocupação com o coronavírus é três vezes maior. Isso porque além da possibilidade que qualquer pessoa tem de pegar a doença, tanto ele quanto a mãe fazem parte do grupo de risco.
Davi aprendeu cedo o que significava isso. Desde pequeno, bem antes de existir a pandemia, ele sempre viu a mãe ser cuidadosa. Os médicos chamam de grupo de risco aquelas pessoas que têm mais chance de ter alguma doença. Além disso, se essas pessoas pegarem a covid-19, elas podem demorar mais a ficar boas do que as outras pessoas. Existem muitos tipos de grupos de risco e alguns são quando alguém já tem alguma doença.
No caso de Davi, ele tem asma. Essa é uma doença que faz com que a pessoa tenha mais dificuldades para respirar.
“Por isso que quando chega um cliente de mainha aqui, a gente sai tudo de perto, mesmo usando máscara”, conta ele, que tem 10 anos e mora em Santo Antônio de Jesus.
A mãe de Davi também é do grupo de risco para o coronavírus por ser hipertensa e diabética, mas ela trabalha vendendo encomendas de doces, bolos e salgados. Por causa disso, muitas vezes ela precisa ter contato com pessoas de fora de casa.
Desde o início da pandemia, Davi também passou muitos meses sem poder abraçar o pai.
“Meu pai trabalha de caminhoneiro e, quando ele chegava em casa, eu nem podia ficar perto dele. Eu sentia falta de abraçar, mas agora ele está viajando menos e eu já abraço de novo”, conta.
Antes da pandemia, ele andava de bicicleta na rua, encontrava os amigos e um ia brincar na casa do outro. De vez em quando, viajava com a família para Salvador, Nazaré, Cabaceiras do Paraguaçu ou para a roça onde seu pai nasceu, lá mesmo, em Santo Antônio de Jesus.
Uma das coisas que Davi mais sente falta é de ir à escola. Além de encontrar os amigos, toda sexta-feira eles podiam levar brinquedos. Ele estuda no 4º ano do Centro Educacional Ideal e, agora, tem aulas online quatro vezes por semana.
Na aula, a professora passa atividades e corrige os trabalhos dos alunos. Mas Davi acha que não é a melhor opção. “Prefiro a escola porque em casa é muito chato e não dá vontade de fazer nada. Na escola, a tia explica melhor”, afirma.
Mesmo assim, foi na escola que Davi aprendeu muito do que sabe sobre o vírus. Ele teve que fazer um trabalho explicando como o coronavírus surgiu, como ele foi se espalhando pelo mundo e como se proteger. Assim, ele acabou aprendendo muita coisa, como a importância de lavar as mãos e usar máscara.
Mas em casa ele já sabe que, por causa da asma, só vai voltar para a escola presencial quando tiver a vacina. Mesmo que as aulas voltem, a mãe de Davi tem medo que ele fique doente.
“Eu fico com medo porque acho que se eu pegar o coronavírus, eu vou morrer. E eu não quero morrer antes do coronavírus acabar. Como é que eu vou brincar depois?”, pergunta.
Por isso que, se tivesse algum poder para enfrentar o coronavírus, ele não ia querer ter esse poder sozinho. Davi diz que ia tentar passar também para a família dele.
“Eu ia acabar com todos os coronavírus mais perto de casa, depois ia passando para os outros lugares”, diz.
Desenho
O CORREIO pediu que Davi fizesse um desenho mostrando o que ele pensa e sabe sobre a pandemia. Ele desenhou um menino borrifando álcool gel bem no vírus da covid-19.
O futuro
Mas quem pensa que Davi vai relaxar quando tudo isso passar está muito enganado.
“Para mim, não vai ser a mesma coisa de antes, não. Mesmo tendo acabado o coronavírus, vou ficar andando de máscara ainda”, diz.
Davi também gravou um vídeo contando como acha que vai ser o futuro quando a pandemia acabar.
Assista: