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Marcos Palacios: o líder estudantil que se tornou um dos maiores nomes do jornalismo digital

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Professor titular da Facom, ele passou da graduação direto para o doutorado

O professor Marcos Palacios quer escrever mais ficção. A aposentadoria, há quatro anos anos, inicialmente não significou um afastamento da Universidade Federal da Bahia (Ufba), onde foi professor por 34 anos. Assim como parte dos pesquisadores com produtividade 1A do CNPq na instituição, mesmo aposentado, continuou com o ritmo intenso. 

No início, nada foi interrompido: pesquisa, orientações de mestrado e doutorado, reuniões de grupo de pesquisa, escrita de artigos científicos. Mas, depois de quatro anos assim, anunciou: quando cumprisse a vigência de sua última bolsa do CNPq, não solicitaria renovação.

Ou seja, desde o dia 1º de março de 2020, ele não faz mais parte da lista dos 1A. Como integrava o grupo de pesquisadores durante boa parte do tempo de produção deste especial, continuou fazendo parte dessa seleção.

“Acho que já cumpri um percurso longo de pesquisa. Se você olhar no Lattes, vai ver quantos orientandos de mestrado e doutorado já formei. Acho que é tempo de me dedicar a outras atividades”, explica ele, hoje com 71 anos. 

De fato, foram pelo menos 39 mestres e 19 doutores orientados diretamente por ele. Mais do que isso: boa parte dos jornalistas da Bahia passou por sua sala de aula, na Faculdade de Comunicação (Facom). Quem não foi seu aluno provavelmente aprendeu com quem foi. 

É por isso que, agora, o professor Palacios tem outros planos. Sente que já cumpriu sua missão. Quer se dedicar, de forma mais séria, a uma paixão antiga: a escrita de ficção, com destaque para os contos.

“Tenho coisas esparsas publicadas, inclusive na internet, e publicações avulsas. A partir de agora, vou me dedicar mais seriamente a isso. Estou escrevendo uma coletânea desses contos para publicar de forma impressa”, adianta. Na internet, é possível conferir trabalhos como As Torres de Abraham e A Mulher que Vivia Longe do Mar

Mesmo assim, ele contou que estará disponível para o que chamou de “atividades acadêmicas eventuais e pontuais”, a exemplo da participação em bancas de pós-graduação ou concursos públicos, consultorias em projetos de pesquisa e emissão de pareceres.

As mudanças trazidas covid-19 não interferiram nesses planos – que incluem as últimas orientações de mestrado e doutorado até março de 2021. No próximo ano, ainda está previsto um período como professor visitante na Universidade da Beira Interior, em Portugal, por um período de três a seis meses.

“A pandemia não está afetando nenhum desses compromissos já assumidos. Mantenho igualmente minha disponibilidade como consultor ad hoc de várias revistas científicas nacionais e estrangeiras, bem como projetos em andamento no Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line”, diz. Consultores ad hoc (latim) são aqueles que revisam trabalhos científicos para publicação.

O professor Palacios agora quer se dedicar de forma mais séria à ficção
(Foto: Betto Jr./CORREIO)

Mudança

No fim dos anos 1960, com a ditadura militar no Brasil, o jovem Marcos Palacios se viu diante da prisão de vários companheiros. Militante do movimento estudantil, participava de passeatas e tinha acabado de se tornar presidente da União Paulista de Estudantes Secundaristas antes de ter que deixar São Paulo, sua cidade natal.

Decidiu vir para Salvador. Na época, a Tribuna da Bahia começava a se formar. Até então, existia apenas uma revista – a Tribuna Econômica.

“Procurei um editor da revista, fiz um teste e fui aprovado. Eu tinha experiência amadora de jornalismo no movimento estudantil, produzindo jornais estudantis. Minha experiência jornalística foi nesse nível”, lembra. 

Amador ou não, após seis meses trabalhando na revista, foi chamado para começar no novo jornal em 1969. Começou como copidesque (uma espécie de função de editor e revisor nos antigos jornais). Pouco tempo depois, se tornou chefe de reportagem, enquanto cursava Economia na Ufba. Ficou lá até 1972, quando foi para a Inglaterra. 

Foi nessa época que sua vida acadêmica passou por uma reviravolta completa. Um pesquisador britânico da Universidade de Oxford veio para a Bahia para pesquisa de doutorado e procurou a ex-esposa do professor Palacios. Ela era autora de uma reportagem pela qual se interessara. Só que ela não falava inglês e pediu ajuda ao então marido. 

Os três se encontraram, conversaram e ficaram próximos. De maneira informal, Palacios começou a trabalhar com o pesquisador britânico, que tornou-se professor da Universidade de Liverpool, assim que voltou à Inglaterra. “Imediatamente, ele me fez esse convite para estudar lá. Num espírito um pouco aventureiro, eu e minha mulher saímos daqui e fomos para Liverpool”, lembra. 

No início, viajou por conta própria. Depois de um ano cursando a graduação em Sociologia, conseguiu uma bolsa de estudos. Logo em seguida, começou o mestrado em Sociologia Latino-americana. É nesse momento que o seu currículo se torna um tanto diferente da maioria dos pesquisadores: o mestrado se transformou em um doutorado. 

Depois de apenas um ano de mestrado, fez um ‘upgrade’ a convite de seu orientador. Essa é uma situação tão excepcional que, dentre os 19 doutores que o professor Palacios já formou na Ufba, só viu acontecer uma única vez. 

“Trabalhei sobre a questão de propriedade social no Peru e fiz trabalho de campo por um ano, apoiado por uma bolsa da Fundação Ford”, lembra, referindo-se aos 12 meses em que esteve pesquisando na região sul peruana, nas imediações do Lago Titicaca. Na época, era um trabalho que já tocava aspectos da imprensa, a exemplo da repercussão da criação de um sistema de propriedade social nos jornais do país. 

Ao contrário da maioria dos pesquisadores, o professor Palacios foi da graduação direto ao doutorado
(Foto: Betto Jr./CORREIO)

Sociologia

Depois do doutorado, chegou a fazer concurso para ensinar na University College of Swansea, no País de Gales. Passou dois anos lá até que, 1982, decidiu voltar ao Brasil. Passou um ano como professor visitante no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (UFPA), antes de começar a trabalhar no departamento de Sociologia. A comunicação voltou à sua vida nessa época – quando se tornou o responsável pela disciplina Sociologia da Comunicação. 

Em 1986, quando soube que a Faculdade de Comunicação estava se separando da Escola de Biblioteconomia da Ufba, decidiu voltar a Salvador. Queria fazer parte do novo momento da Facom, que buscava rumos mais independentes. 

“Assim que cheguei, uma das tarefas era a criação de uma pós-graduação e de uma área de pesquisa”, lembra.

De imediato, implantaram um curso de especialização em Comunicação Comunitária. Enquanto isso, ele e outros professores – alguns que hoje também são pesquisadores do CNPq, como os professores Albino Rubim e Wilson Gomes – organizavam a criação do primeiro mestrado em Comunicação do Norte e Nordeste do Brasil. 

Entre 1987 e 1988, o professor Palacios apresentou o primeiro projeto de pesquisa do CNPq. Ali, começava o caminho para chegar no estágio em que esteve até o último mês de fevereiro – a classificação máxima veio oito anos antes de se aposentar, entre 2010 e 2011.  

Para ele, ter se tornado pesquisador 1A foi uma consequência natural
(Foto: Betto Jr./CORREIO)

“Não acredito que nenhum pesquisador do CNPq tenha o objetivo de se tornar 1A. Eu diria que é um processo normal do pesquisador que tem uma carreira continuada e longa. No meu caso, recebi a classificação como uma honraria, uma premiação”, opina.

Jornalismo online

Talvez por isso Palacios não imaginasse que se tornaria um dos principais nomes dos estudos do Jornalismo Digital no Brasil. Fundado por ele em 1997, o Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online (Gjol) já estudava os sites de notícias quando a maioria dos brasileiros nem mesmo tinha internet em casa.

“O Gjol foi se tornando cada vez mais importante em termos dos acordos de colaboração que foram sendo feitos. Começamos de forma bastante modesta, mas, à medida que fomos ganhando credibilidade, fomos buscando mais parceiros fora da universidade”, explica. Os convênios do grupo já chegaram a incluir 14 instituições do Brasil e da Europa, além da Ufba.

Hoje, ao redor do grupo, existe uma rede nacional de pesquisadores, coordenada pelo professor Palacios e pela professora Suzana Barbosa, atual diretora da Facom. Com a saída definitiva do professor, a partir de abril, ela deve assumir a coordenação total do projeto.

Uma das instituições que têm parceria com o Gjol é a Universidade da Beira Interior, em Portugal. Em 2014, o professor Palacios participou de um congresso ao lado dos professores Paulo Serra e João Canavilhas (na mesa), na universidade
(Foto: Reprodução/Facebook)

Agora, ele ficará na categoria de professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom). Até o fim do ano e início do próximo, ainda terá os últimos orientandos de mestrado e doutorado. No entanto, após o fim desse ciclo, não deve aceitar novos estudantes.

“A cada momento, temos experimentado inovação dentro do jornalismo. Você já teve um momento em que, se havia um furo, era guardado para a edição impressa. Hoje, a coisa é lançada primeiro no jornal online. Eu vim acompanhando, ao longo desse tempo, o crescimento da internet enquanto plataforma de produção da informação jornalística”, explica. 

Para ele, uma de suas maiores contribuições foi a formação de novos pesquisadores – dos projetos de iniciação científica aos doutoramentos. “A ciência se faz por interlocução. Ninguém faz ciência sozinho. Você pode ser um gênio, mas não faz ciência sozinho”, reforça.  

Em casa, o tempo que dedica à pesquisa nunca foi um problema. Sua esposa, a professora Annamaria Palacios, também é pesquisadora e professora da Facom. Dos três filhos, dois fizeram cursos de Comunicação – uma formou-se produtora cultural; outro é jornalista e trabalha na Deutsche Welle, a empresa pública de comunicação da Alemanha. 

Antes de ser professor da Ufba, Palacios ensinou no País de Gales e na UFPA
(Foto: Betto Jr./CORREIO)

O mais novo, que está concluindo Administração, também deve enveredar pelo caminho dos pais – hoje, sua principal área de interesse é o marketing digital. 

Entre uma pesquisa e outra, contudo, consegue se organizar para viajar com a esposa. No ano passado, fez uma viagem de 20 dias, de carro, pelos estados da região sul do Brasil. “Fora isso, me interesso muito por cinema. Em Salvador, somos privilegiados em termos de programação cinematográfica com as salas de arte”, diz. 

Formação acadêmica, segundo o Lattes:

  • 1975 – 1979
    Doutorado em Sociologia – University of Liverpool, Inglaterra.
  • 1972 – 1975
    Graduação em B A Sociology – University of Liverpool, Inglaterra.

Produtividade em números

40

orientações de mestrado concluídas

19

orientações de doutorado concluídas

2

orientações de iniciação científica concluídas

3

orientações de doutorado em andamento

24

participações em bancas de mestrado

15

orientações de trabalhos de conclusão de curso concluídas

27

participações em bancas de doutorado

2

participações em bancas de qualificação de mestrado

13

livros publicados/organizados ou edições

7

participações em bancas de qualificação de doutorado

33

trabalhos completos publicados em anais de congressos

3

participações em bancas de comissão julgadora de professor titular

47

artigos completos publicados em periódicos

48

capítulos de livros publicados

4

orientações de mestrado em andamento

19

resumos publicados em anais de congressos

4

produtos tecnológicos

11

apresentações de trabalho

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