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Gleidson Giordano: o filho de produtor rural que se tornou o mais jovem pesquisador 1A

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Mineiro, virou professor do Departamento de Zootecnia da Ufba aos 28 anos

Aos 28 anos, alguns jovens podem estar começando a vida adulta – tendo o primeiro trabalho como recém-formado na graduação, por exemplo. Mas, no caso do jovem Gleidson Giordano, os 28 anos vieram com uma novidade: a aprovação para o cargo de professor na Universidade Federal da Bahia (Ufba), no que viria a ser o curso de Zootecnia.

Ali, no fim de 2008, deixou a família no interior de Minas Gerais para dar aulas à primeira turma do então curso recém-criado, que teve início no ano seguinte. O professor Gleidson tinha acabado de concluir o doutorado – fez o trajeto de quatro anos em aproximadamente dois anos e oito meses. Antes disso, terminou o mestrado em apenas um ano (metade do tempo previsto). 

Talvez por isso – e pelo fato de ter se interessado pela ciência tão cedo –, conseguiu um feito de poucos: aos 40 anos, é o mais novo, entre os pesquisadores 1A da Ufba. A classificação máxima veio em 2018, apenas sete anos depois de ter começado a receber a bolsa de produtividade. Quando a solicitou pela primeira vez, em 2011, só estava na Ufba há dois anos. 

“Foi meteórico, mas não sou vaidoso. Me considero muito simples, tanto que, em 2018, o CNPq já estava com sinais claros de falta de dinheiro. Eu tinha medo de não conseguir renovar o 1D, porque é de 1D para cima que você tem taxa de bancada”, lembra.

A taxa de bancada é o valor pago além da bolsa de produtividade para garantir a manutenção da pesquisa. É com esse recurso que muitos cientistas compram materiais como reagentes e insumos, material perecível de laboratório, material bibliográfico e até combustível para pesquisa de campo. 

Mesmo assim, o professor Gleidson garante que nunca teve o objetivo de ter a classificação 1A. O sonho, desde o início, era ser bolsista de produtividade. É aquela história: a bolsa é um reconhecimento. Da excelência, da qualidade do trabalho, do quanto aquela contribuição é importante para o meio científico. 

“Eu era pesquisador 2 e tinha renovado. Quando foi antes da metade (do período de vigência), o CNPq fez uma reclassificação porque viram que tinha muita gente nível 1 com baixa produtividade. Subi para 1D e fiquei quatro anos, até virar 1A no ano passado. Falo com todo coração: foi uma surpresa, mas uma surpresa muito agradável mesmo. Foi uma consequência natural”, explica. 

Mineiro, o professor Gleidson fez a graduação na Uesb; no mestrado e doutorado, estudou na UFV
(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

Vida rural

O professor Gleidson nasceu na cidade mineira de Várzea da Palma, mas cresceu a menos de 50 quilômetros, em Buritizeiro, também em Minas Gerais. No ano passado, a população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para Butizeiro era de pouco mais de 28 mil habitantes.

“A gente brinca que é cidade de primeira (marcha). Porque quando você passa a segunda, no carro, acabou a cidade”, conta. 

Filho de um pequeno produtor rural, logo percebeu que gostava das Ciências Agrárias. Na infância e na adolescência, estudava de segunda a sexta-feira. Aos finais de semana, seguia para a fazenda. Enquanto o pai tirava leite das vacas, descobria o que era Zootecnia. 

“Isso me despertou um interesse muito grande. Fui gostando da parte de produção animal mesmo”, diz. Na família, todos enveredaram pela área: uma das irmãs se tornou médica veterinária; a outra, engenheira de alimentos. O pai – um homem do campo, que só estudou até o terceiro ano do Ensino Fundamental – dificilmente pensaria que, no futuro, teria três filhos doutores. 

Gleidson fez o vestibular para Agronomia, na Universidade Estadual de Montes Claros e para Zootecnia nas Universidades Federais de Lavras (Ufla) e de Viçosa (UFV). Só foi aprovado em agronomia. 

Cumpriu três semestres até descobrir que, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), na cidade de Itapetinga, havia o curso de Zootecnia. E mais: que era possível fazer transferências entre as universidades estaduais, ainda que uma estivesse na Bahia, outra em Minas Gerais.

Desde cedo, foi como se entendesse como a ciência funciona. A pesquisa, para o professor Gleidson, começou quando foi bolsista de iniciação científica, no terceiro semestre. Em toda a Uesb, havia apenas 23 auxílios disponíveis para estudantes de graduação concorrerem.

“Pense aí, que briga de boi”, diz, aos risos.  

Ali, começou a acompanhar trabalhos na área de produção de forragem, silagem, feno, e dos chamados pequenos ‘ruminantes’ – que são caprinos e ovinos. Mas foi só no segundo ano de iniciação científica que começou a entender o que estava fazendo. Foi quando definiu: queria ser pesquisador. 

“Na verdade, meu maior sonho era ser pesquisador da Embrapa. Mas o concurso só abriu quando eu já era professor. Estava realmente muito determinado”, conta, referindo-se à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. 

Estímulo

Na iniciação científica, ficou encantado pelas descobertas. Percebeu que, ao produzir uma forragem conservada, podia encontrar um novo alimento e testar na alimentação de caprinos e ovinos. A partir daí, conseguiria avaliar o potencial de ganho do animal e se o novo alimento poderia, ou não, substituir algum outro. 

O mestrado e o doutorado foram na UFV, ambos em tempo recorde. Durante cada um dos cursos, lembrava de um ensinamento do pai: toda vez que decidisse fazer algo, tinha que fazer a melhor forma possível. Assim, enquanto alguns colegas cursavam duas disciplinas por semestre, ele fazia três ou quatro. 

Ele se tornou pesquisador do CNPq em 2011, dois anos após entrar na Ufba
(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

“Eu sempre me dedicava 100% aos estudos. O entusiasmo conta muito. Quando você faz com prazer, com amor, a dedicação é outra”, reflete. 

Nos últimos anos, tem testado produtos agroindustriais do biodiesel para a alimentação de caprinos e ovinos. Além disso, avalia silagens com aditivos químicos e microbianos para bovinos e caprinos. E se isso pode parecer distante demais da vida de quem não é produtor rural, a realidade é outra. 

Quando se estuda a possibilidade de uso de alimentos de menor custo na dieta animal, a médio e longo prazo, caso essas iniciativas passem a ser usadas de forma massificada, o custo de produção cai. Ou seja: a carne que vai ser vendida para o consumidor virá com um preço mais acessível. 

Mas, para que seja bom para todo mundo – mais barato para quem compra e também mais rentável para quem produz -, é preciso que a pesquisa exista. E é por isso que, por ano, o professor e seu grupo de pesquisa têm uma meta de publicar, no mínimo, cinco artigos. No entanto, esse objetivo é sempre superado. Às vezes, publica o dobro. Em alguns anos, o triplo.  

Na Bahia

Ainda que tenha feito Zootecnia na Bahia, no início, ele não pensava em vir para cá. Viu o concurso para professor quando estava prestes a terminar o doutorado, mas chegou a se inscrever para uma vaga na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Só que a seleção acabou sendo no mesmo período nas duas instituições. 

“Fiquei com a opção de tentar na Ufba pelo peso da instituição, por ser mais próximo de Minas, de meus pais. Pensei em vários fatores e, quando fiz, fui classificado em primeiro lugar”, diz Gleidson. 

No início, foi difícil se adaptar. Não tinha costume de viver em grandes cidades. Chegou apreensivo, mas foi bem recebido. “Minha chegada foi em alto estilo, perdendo para o trânsito de Salvador, com retorno a cada dois quilômetros”, lembra. Hoje, casado e pai de uma filha de oito anos, não pensa em sair da cidade – a menos que seja para um fim de semana com a família na praia de Imbassaí, em Mata de São João, onde tem uma casa. 

O professor Gleidson sabe que, para a Ufba, é importante que existam pesquisadores como ele. É assim que os programas de pós-graduação são avaliados e recebem notas. Além disso, a classificação 1A facilita a captação de recursos vindos de outras instituições – não só do CNPq, mas de agências também como a Fapesb.

“Se juntar os projetos individuais que já busquei com recursos dessas instituições e de outras, tenho certeza de que a soma é coisa para mais de R$ 1 milhão e grande parte desses recursos é para compra de equipamento que é da universidade”. 

Hoje, porém, a situação é diferente. Ele tem alguns projetos com recursos que tinham sido aprovados há mais de dois anos. No entanto, os investimentos estão contingenciados. Nos últimos quatro semestres, não aceitou novos orientandos no doutorado.

No último processo seletivo, aceitou um estudante de Valença que veio com um projeto financiado. Além disso, vai orientar uma estudante do mestrado porque já tinha sido seu orientador na iniciação científica. Agora, tentam adaptar o projeto para um trabalho mais básico, que possa ser executado nesse cenário de falta de recursos. 

Como outros pesquisadores, o professor Gleidson tem enfrentado dificuldades com o contingenciamento de recursos para a educação e a ciência
(Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)

“Não está tendo recurso para pesquisar trabalho de dissertação e tese. A universidade está passando por grande dificuldade financeiras, sem condição de apoiar as pesquisas com transporte e outras coisas básicas”, diz, com o pesar de quem sempre chegou a ter dez orientandos ao mesmo tempo.

Tendo sido credenciado aos programas de pós-graduação da Ufba e também da Uesb, o professor Gleidson tem números altos de orientações – que é justamente um dos critérios para a avaliação das bolsas de produtividade. Contando os que chama de ‘co-orientandos’, em que não tinha o vínculo de orientador principal, mas participou ativamente da pesquisa, chega a 94 pesquisadores. 

Com a pandemia do coronavírus, os laboratórios fechados e a fazenda experimental da Ufba, em São Gonçalo dos Campos, também paralisada, ele estima que o trabalho tenha sido afetado em até 90% das atividades de campo. Mesmo assim, como os colegas, tenta se adaptar.

“As pesquisas de zootecnia têm impacto direto no agronegócio. A impossibilidade de continuar vai inviabilizar melhorias que poderiam otimizar as pesquisas na Bahia e no Brasil. Fora que o papel social que a instituição tem na vida das pessoas também vai ficar muito prejudicado, porque vamos ter menos gente entrando na universidade para se qualificar”, reflete. 

Formação acadêmica, segundo o Lattes

  • 2006 – 2009
    Doutorado em Zootecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
  • 2005 – 2006
    Mestrado em Zootecnia – UFV
  • 2000 – 2004
    Graduação em Zootecnia – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb)

Produtividade em números

1

orientação de mestrado em andamento

6

orientações de doutorado em andamento

3

orientações de iniciação científica em andamento

47

orientações de mestrado concluídas

48

orientações de doutorado concluídas

4

supervisões de pós-doutorado concluídas

53

orientações de iniciação científica concluídas

46

participações em bancas de mestrado

34

participações em bancas de doutorado

5

participações em bancas de qualificação de mestrado

34

participações em bancas de qualificação de doutorado

4

participações em bancas de monografia de cursos de aperfeiçoamento/especialização

2

participações em bancas de comissão julgadora de professor titular

576

resumos expandidos publicados em anais de congressos

28

• participações em bancas de trabalho de conclusão de curso de graduação

13

orientações de trabalho de conclusão de graduação concluídas

259

artigos completos publicados em periódicos

6

capítulos de livros publicados

23

resumos publicados em anais de congressos

13

apresentações de trabalhos

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