Por Bruno Queiroz
'Tratar do dia 25 de novembro de 2007 nos bastidores não é uma coisa simples para todas as partes'
Passaram-se 5.260.320 minutos desde a tragédia da Fonte Nova em 25 de novembro de 2007, que matou sete pessoas. A principal homenagem até então foi o silêncio de um minuto na inauguração do novo estádio, em 7 de abril de 2013. Na ocasião, o ator baiano Fábio Lago também incluiu os nomes das vítimas em texto lido na cerimônia que antecedeu o Ba-Vi. Um dia antes da tragédia completar seis anos, em 24 de novembro de 2013, os jogadores do Bahia entraram em campo contra a Portuguesa com uma fita preta no braço.
A partir dali as homenagens praticamente se encerraram. O silêncio do Esporte Clube Bahia e da Arena Fonte Nova durou muito mais que um minuto. Em toda a Arena, construída no mesmo local e que mantém o nome do antigo equipamento, não há uma menção às vítimas, familiares ou a qualquer outro acontecimento que antecede sua inauguração.
“A Concessionária Fonte Nova Negócios e Participações foi constituída em 2010, para a operação de um equipamento moderno e seguro, construído com o objetivo de proporcionar lazer e entretenimentos para as famílias baianas. Esse propósito nos conectou com a antiga Fonte Nova, sempre olhando para frente e com muito orgulho em poder fazer parte da história do povo baiano. Contudo não temos como discorrer sobre eventos ocorridos anteriormente ao ano de 2010”, argumenta o presidente da Arena, Dênio Cidreira, por e-mail. Ele alegou estar com a agenda cheia e não aceitou gravar entrevista.
O atual presidente do Bahia, Marcelo Sant’Ana, no posto desde 17 de dezembro de 2014, afirma que, em outros anos, tentou articular algum tipo de homenagem às vítimas e familiares, mas segundo ele, tratar deste tema nos bastidores nunca foi uma tarefa fácil. “Já tentamos entrar em contato com o consórcio, sinalizamos a nossa preocupação, já declarei isso em entrevista, então não tem nem como dizer se fez, se não fez, está aí. Já dei declarações dessas na imprensa. A gente deveria, dentro de uma linha de respeito, humildade, assumir tudo que a torcida representa para o Esporte Clube Bahia. A gente deveria ter um marco, um posicionamento claro e afirmativo dentro das possibilidades (...), mas infelizmente tratar do dia 25 de novembro de 2007 nos bastidores não é uma coisa simples para todas as partes, que devem estar mobilizadas para fazer e [decidir] onde deve ser feito da maneira adequada”, diz.
Para Sant’Ana, se um dia for feita uma homenagem mais duradoura, o local utilizado deve ser a Arena Fonte Nova. “O Bahia não tem ainda uma autonomia de fazer essa questão pontual no estádio, que para mim é o local onde tem que ser feito, porque o clube não tem a gestão unilateral do equipamento. O clube é um parceiro, mas é um parceiro digamos contratado”.
O Bahia tenta, junto à Arena, construir um museu do clube no estádio, o que para Sant’Ana seria um bom lugar para tal homenagem. “O museu talvez pudesse ser o grande marco para que se faça essa questão de reflexão sobre o que aconteceu no futebol. A gente se envergonha dos nossos erros, mas tem que aprender com eles, evoluir”, afirma.
Mais um minuto de silêncio
O Bahia solicitou à CBF que haja um minuto de silêncio antes da partida contra a Chapecoense, no domingo (26), às 18h, na Fonte Nova. Além disso, um vídeo será exibido no telão do estádio com os nomes das sete vítimas da tragédia da Fonte Nova e dos 71 mortos do acidente aéreo do time catarinense, que completa um ano no dia 29 de novembro. Os jogadores do Bahia atuarão com uma braçadeira preta, em sinal de luto.
A convite do clube, o sobrevivente Jader Landerson, hoje com 27 anos, assistirá ao jogo de um dos camarotes. Outra sobrevivente, Patrícia Vasques recusou o convite. Ambos serão presenteados com uma camisa tricolor.